Avanços na produção da vacina contra dengue
O anúncio do Ministério da Saúde acerca da primeira vacina nacional contra a dengue representa um salto significativo na imunização do país. A nova vacina, desenvolvida pelo Instituto Butantan e batizada de Butantan-DV, traz consigo um novo esquema vacinal de apenas uma dose e a promessa de aumentar consideravelmente o volume de doses disponíveis.
A presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim), Mônica Levi, destacou que a entrega de 60 milhões de doses no próximo ano, apesar de ser significativamente maior do que o previsto, ainda é insuficiente para alcançar toda a população brasileira. Assim, o Programa Nacional de Imunizações deve estabelecer um público-alvo prioritário para a vacinação.
Vacinação atual e inclusão de novos públicos
Atualmente, a vacina em aplicação é a QDenga, desenvolvida pela farmacêutica japonesa Takeda, que está disponível apenas para adolescentes de 10 a 14 anos em regiões com alta incidência da doença. A exceção é permitida para doses próximas do vencimento, que podem ser oferecidas a outras idades.
Mônica Levi expressou esperança de que novos estudos sobre a Butantan-DV confirmem a segurança e eficácia da vacina, inclusive entre os idosos, um grupo que, apesar de apresentar altas taxas de mortalidade em decorrência da dengue, não foi considerado nas primeiras pesquisas.
Ela enfatizou: "Os adolescentes internam-se mais e têm mais quadros graves, mas quem mais morre são os idosos. Só que, nas vacinas disponíveis, a faixa etária acima de 60 anos não foi contemplada nos estudos. No entanto, no projeto anunciado, há um estudo em populações de outras faixas etárias. Como a vacina do Butantã é para pessoas de 2 a 59 anos, entendo que as outras faixa etárias de interesse são de 60 anos para cima. Isso seria muito importante, pois os idosos têm maior mortalidade".
Facilidades e inovações da Butantan-DV
Embora a capacidade de produção das vacinas ainda não atenda a totalidade da população, a Butantan-DV se destaca por ser o primeiro imunizante contra a dengue a exigir apenas uma única dose. Mônica Levi explica que vacinas com múltiplas doses costumam apresentar evasão nas campanhas.
"É muito mais fácil realizar uma campanha pontual de uma dose só do que conseguir completar um esquema de vacinação maior", observa.
A Butantan-DV foi criada em parceria com o Instituto Nacional de Saúde Americano e a farmacêutica MSD, sendo apresentada como 100% nacional devido ao fato de todas as etapas de sua produção serem realizadas em solo brasileiro. Essa autonomia é vista como um fator positivo para evitar desabastecimentos e garantir a entrega pontual das vacinas.
Assim, Mônica Levi acredita que essa produção local é fundamental para atender às necessidades de imunização em situações de surto: "Não depender de acordos que os laboratórios tenham com outros países garante que haja vacinas disponíveis para nossa população".
Eficácia e estudos em andamento
Quanto à eficácia, a Butantan-DV se mostrou promissora, com resultados indicando 79,6% de eficácia geral e 89,2% entre aqueles que já tiveram a doença. No entanto, a vacina ainda passa por avaliação pela Anvisa, a agência responsável pela autorização do uso em território nacional.
Mônica ressalta que, mesmo com todos esses benefícios, a Butantan-DV só deverá estar disponível para a população a partir de 2026. Portanto, a prevenção ambiental continua sendo crucial para controlar a disseminação do Aedes aegypti, mosquito transmissor da doença.
A dengue não se transmite de pessoa para pessoa, o que significa que a vacinação não proporcionará "imunidade de rebanho", sendo necessário continuar os cuidados, sobretudo com grupos que não podem receber a vacina.
Atualmente, o Brasil enfrenta um cenário alarmante, com 439 mil casos prováveis de dengue e 177 mortes confirmadas apenas neste ano, evidenciando a necessidade urgente de estratégias eficazes de imunização e controle da doença.