Notícia

MundoBit

Nova técnica vai usar células-tronco para tratamento de lesões

Publicado em 02 dezembro 2013

Por Paulo Floro

Cientistas brasileiros e norte-americanos estão perto de apresentar uma nova técnica que permite obter linhagens seguras de células-tronco para serem usadas no tratamento de lesões medulares e doenças genéticas como a distrofia muscular. Os primeiros resultados foram anunciados pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da North Carolina State University, nos Estados Unidos.

“Estamos trabalhando com linhagens de células animais adultas nas quais induzimos a pluripotência [capacidade equivalente à das células-tronco embrionárias de se diferenciar em qualquer tecido]. Nosso foco é obter uma linhagem segura, sem o potencial de formar tumores, para ser usada em testes pré-clínicos e clínicos”, contou Carlos Eduardo Ambrósio, da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP, em Pirassununga.

O projeto é coordenado por Ambrósio e por Jorge Piedrahyta, da Faculdade de Medicina Veterinária da North Carolina State University. Para induzir a pluripotência em fibroblastos de cachorros, os pesquisadores usam a técnica premiada com o Nobel de Medicina em 2012 e descrita em 2006 por Shinya Yamanaka, da Universidade de Kyoto, no Japão. O método consiste em inserir na célula adulta da pele certas proteínas - "conhecidas como fatores de transcrição" - capazes de reprogramar o genoma celular.

Esses fatores de transcrição ativam genes relacionados ao estágio embrionário da célula e desligam outros genes que deveriam estar ativos após o amadurecimento celular. “A técnica descrita por Yamanaka propõe o uso de quatro diferentes fatores de transcrição: OCT3/4, SOX2, KLF4 e C-MYC. Mas, ao mesmo tempo que isso induz a pluripotência na célula, também a torna altamente teratogênica [capaz de induzir a formação de tumores do tipo teratoma, composto de tecidos mistos]“, disse o cientista.

O objetivo agora é diminuir o risco de câncer. “O que estamos tentando fazer agora, por enquanto em experimentos in vitro, é obter uma IPS com um número reduzido de fatores de transcrição. Acreditamos que isso possa diminuir o potencial carcinogênico da célula. Também pretendemos gerar inúmeras linhagens brasileiras e americanas e realizar estudos da reação do cultivo celular com diferentes fatores de crescimento, bem como realizar a análise das sequências gênicas dessas células”, explicou Ambrósio.

Banco de células-tronco

 

Entre os anos de 2008 e 2011, por meio de um Auxílio à Pesquisa – Apoio a Jovens Pesquisadores, Ambrósio investigou diversas formas para obter células-tronco mesenquimais - " capazes de se diferenciar em alguns tipos de tecido, como ossos, cartilagem e gordura" - de diversos animais.

 

O trabalho resultou na criação de um banco que reúne mais de dez linhagens de células-tronco de cachorro, gato, ovelha e porco. Esse acervo hoje está ligado ao Laboratório de Morfofisiologia Molecular e do Desenvolvimento da FZEA, coordenado pelo professor Flávio Vieira Meirelles, e à nova Unidade Didática Clínico Hospitalar, concebida com a intenção de gerar inovações terapêuticas para fins veterinários.

 

“Além da terapia celular, também testamos a terapia gênica, usando ferramentas de edições de genes em culturas celulares de músculos de cães com distrofia muscular. Tentamos, in vitro, corrigir o gene defeituoso causador da doença”, explicou. Na avaliação de Ambrósio, a geração de conhecimento sobre manipulação de células-tronco e edição de genes pode contribuir para o tratamento de doenças crônicas e genéticas em animais, com aplicações futuras para humanos. [Com informações da Agência Fapesp]