Um novo método para identificar e quantificar substâncias ativas presentes em medicamentos, cosméticos e alimentos de forma rápida e barata foi descrito por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em artigo publicado recentemente na revista Scientific Reports, do grupo Nature. Desenvolvida com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a técnica emprega recursos de geração de imagens por espectrometria de massas.
Segundo os autores, uma das principais vantagens é a versatilidade. A mesma plataforma pode ser usada, sem necessidade de adaptações, para analisar os mais diferentes compostos – até mesmo fluidos biológicos como o sangue. Além disso, não requer o uso de grandes quantidades de solventes ou outros químicos e, portanto, não gera resíduos potencialmente tóxicos.
“Há muitas aplicações possíveis, tanto na indústria farmacêutica, cosmética e alimentícia como na área de análises clínicas e toxicológicas”, avaliou Rodrigo Ramos Catharino, professor na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) e coordenador do Laboratório Innovare de Biomarcadores da Unicamp. “Esse novo método alcança o mesmo resultado de forma muito mais rápida e barata, pois seu insumo principal é papel. E ele permite deformular qualquer coisa. É possível, por exemplo, dosar um determinado aminoácido ou toxina no sangue. Poderia ser usado em testes antidoping e nas mais diferentes frentes”, ressaltou.
O novo método foi utilizado pelo laboratório para estudar o efeito de medicamentos usados para tratar doenças cardiometabólicas. Era preciso uma metodologia prática para deformular esses fármacos, ou seja, identificar quais substâncias estão presentes em sua composição e em que proporção. “Neste artigo, nós validamos o novo método para a análise da rosuvastatina, a droga mais usada no controle do colesterol”, informou Catharino.
Foi usada no estudo a mesma rosuvastatina vendida em farmácia na forma de comprimidos. O medicamento foi dissolvido em uma mistura de água e metanol e aplicado em um papel-filtro previamente preparado com uma solução de ?-CHCA (ácido ?-ciano-4-hidroxicinámico), que funciona como uma substância reveladora.
“Quando esse papel-filtro é exposto a um laser, essa substância reveladora absorve a energia luminosa, é sublimada e transfere um próton para o analito (composto a ser deformulado, no caso a rosuvastatina). Dessa forma, são gerados íons que podem ser analisados pelo espectrômetro de massas”, explicou Catharino.
Cada tiro do laser, acrescentou o pesquisador, também gera um pixel e, ao final, é formada uma imagem de 1 centímetro quadrado. Pela intensidade da cor gerada pelos pixels é possível determinar a concentração de cada substância. Dessa forma, o espectrômetro consegue determinar a proporção de íons referente ao princípio ativo e às demais substâncias presentes, bem como discriminá-las.
Para validar a nova técnica, o grupo da Unicamp comparou os resultados de suas análises com aqueles obtidos por meio de cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) – método atualmente considerado padrão-ouro para análise da rosuvastatina e que requer o uso de grandes quantidades de solventes. “Conseguimos alcançar o mesmo resultado em um tempo cerca de 10 vezes menor e também com redução a menos da metade do custo, dependendo do composto envolvido”, contou Catharino.
(Agência Gestão CT&I, com informações da Agência Fapesp)