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Nova geração da Matemática brasileira se reúne em congresso em São Paulo

Publicado em 15 dezembro 2014

Em 2014, o Brasil ganhou sua primeira Medalha Fields, o maior prêmio da Matemática no mundo, recebida por Artur Ávila, pesquisador do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa) e diretor de pesquisa do Conselho Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), na França.

 

A conquista mostra o bom momento da Matemática no Brasil, como também foi evidenciado no 1º Congresso Brasileiro de Jovens Pesquisadores em Matemática Pura e Aplicada, realizado no Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (IME-USP) de 10 a 12 de dezembro, com apoio da FAPESP.

 

Há grandes trabalhos sendo feitos e certamente ouviremos falar bastante deles. A Matemática está em constante evolução e os jovens pesquisadores brasileiros têm muito a contribuir, disse Ávila, que participou do evento no IME-USP, à Agência FAPESP.

 

Ávila recebeu a Medalha Fields por suas contribuições à área matemática dos Sistemas Dinâmicos, que estuda processos que evoluem regidos por leis da Matemática, desde o movimento de uma bola de futebol no ar até o Sistema Solar.

 

Nessa área se tenta dizer algo sobre sistemas que são regidos por leis simples, mas nos quais, em longo prazo, coisas muito complexas acontecem. Aprendemos desde cedo que um sistema planetário, por exemplo, é regido pela lei da gravitação. Um planeta em torno do Sol, segundo essa lei, descreve uma elipse, mas, quando consideramos vários planetas juntos, a partir das leis de Newton, chega-se a comportamentos difíceis de se descrever com o tempo, disse Ávila (veja mais na entrevista em vídeo).

 

O matemático disse estar animado com as pesquisas apresentadas em sua área e em outros campos da Matemática durante o congresso no IME-USP. O importante é que os caminhos da pesquisa matemática não sejam obstruídos.

 

Outro jovem matemático de destaque no congresso foi Pedro da Silva Peixoto, professor do IME-USP, que se prepara para dar continuidade, no Reino Unido, aos seus estudos iniciados no doutorado concluído no ano passado e que resultou em um teorema que identifica uma classe de erros nos métodos matemáticos de previsão do tempo.

 

Na University of Exeter, Peixoto integrará uma equipe internacional de pesquisadores dedicados a desenvolver modelos matemáticos para previsões do tempo mais precisas. Peixoto conduz a pesquisa Modelagem numérica de fluidos geofísicos em malhas geodésicas, que tem apoio da FAPESP.

 

A maioria dos modelos de previsão do tempo globais usados atualmente tem baixa resolução e vai ficar obsoleta nos próximos anos. Boa parte da matemática por trás desses modelos precisa ser reformulada e preparada para os avanços computacionais da área. O Reino Unido montou um time de pesquisadores para trabalhar nessa atualização que possibilitará previsões com maior precisão resolvendo fenômenos globais, ao mesmo tempo em que estima condições em bairros de uma cidade, disse.

 

A baixa resolução a que se refere Peixoto decorre, segundo ele, dos limites dos modelos matemáticos atuais, que utilizam coordenadas de latitude e longitude para estabelecer as regiões de cobertura.

 

Isso resulta em uma previsão do tempo limitada a uma resolução de até 10 quilômetros, um espaço bastante amplo. Pretendemos aprimorar a Matemática quando dividimos essa esfera em malhas geodésicas, que são unidades geométricas como hexágonos e pentágonos. Dessa forma, temos várias partes da região com maior riqueza de detalhes. Mas também temos uma Matemática mais complexa por trás, disse.

 

O trabalho de Peixoto coordenado pela University of Exeter será realizado junto ao Met Office, o serviço nacional de Meteorologia do Reino Unido, em parceria com o Imperial College London e outras universidades. O Brasil tem interesse em aprimorar seu modelo de previsão do tempo e o envolvimento de brasileiros em pesquisas internacionais na área precisa ser incentivado, disse.

 

Diego Freire

Agência FAPESP