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Nova diretoria toma posse no Museu de Arte Contemporânea da USP (1 notícias)

Publicado em 18 de outubro de 2024

Ampliação do papel do local como centro de estudos e criação artística está no centro das propostas da gestão de José Lira e Esther Hamburger

Por Michel Sitnik

José Lira (no púlpito) tomou posse como diretor do MAC pelos próximos quatro anos. Participaram da solenidade (à mesa, da esquerda para a direita) a vice-diretora anterior, Marta Bogéa; a secretária-geral Marina Gallottini; o reitor Carlos Gilberto Carlotti Junior; a vice-reitora Maria Arminda do Nascimento Arruda; e a nova vice-diretora, Esther Hamburger – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

A nova diretoria do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP tomou posse nesta quinta-feira, 17 de outubro, para a gestão 2024-2028. O diretor, José Tavares Correia de Lira, assume com a vice-diretora, Esther Império Hamburger, apresentando uma proposta inovadora, que busca a ampliação do papel já exercido hoje em dia pela instituição.

Em entrevista recente ao Jornal da USP , o dirigente comentou a respeito desta ideia, que está baseada na implantação do chamado Colégio das Artes, um centro que poderá apoiar e impulsionar projetos multisciplinares no campo das artes, envolvendo não só pesquisadores das diversas unidades da USP, mas também de outras entidades. Ao mesmo tempo, o próprio setor educativo do museu deve ganhar mais força, trazendo o público leigo para atividades de formação em diferentes formatos.

Na solenidade de posse, após a leitura do termo de compromisso, Lira expôs em seu discurso as expectativas para os próximos anos: “Foi com um misto de receio e alegria que recebemos essa missão de dirigir o MAC, que tem uma história e um acervo dos mais ricos do gênero no continente e que, nos últimos 60 anos, vem desempenhando um papel central naquilo que Mário de Andrade e Antonio Candido chamaram de ‘institucionalização da vida cultural do Brasil'. O MAC vem oferecendo contribuições incalculáveis para o entendimento do modernismo e para a abertura de novos caminhos à produção contemporânea em arte”, comentou, ressaltando o papel que as gestões anteriores tiveram na organização institucional e das coleções: “O rol de dirigentes que nos antecedem é notável, desde o primeiro diretor, Walter Zanini, até a última gestão, que nos entregou um museu marcado por avanços institucionais muito importantes, por um planejamento administrativo cuidadoso, cadastros em dia, plano museológico, projeto acadêmico, políticas de cultura e extensão e gestão de acervos,comodatos e doações. Um museu plenamente capaz de construir projetos inovadores de cooperação internacional de longa duração como as vigentes atualmente”, pontuou.

José Lira já dirigiu o Centro de Preservação Cultural – Casa de Dona Yayá e o Centro Universitário MariAntonia. Em seu discurso, ele ressaltou o sucesso das gestões anteriores do MAC e o desafio de propor novas iniciativas e melhorias – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Ele também chamou a atenção para a qualidade e o profissionalismo daqueles que atuam no cotidiano da instituição e pelas particularidades encontradas na gestão de um equipamento desse tipo: “Um time impressionante de docentes e não docentes que se destacam pela seriedade, pela inteligência, pela dedicação, pela paixão e pelo rigor, jamais se furtando ao estudo, ao diálogo, à reflexão e ao trabalho conjunto. Com eles, neste início de gestão, temos feito descobertas de processos absolutamente inusuais em qualquer unidade de ensino e pesquisa como as de onde somos oriundos e que atravessam todo o ciclo curatorial, dos trabalhos de classificação e conservação, até os de educação, pesquisa e extroversão”.

A vontade de contribuir com novas ideias e olhares foi salientada no discurso: “Ao celebrar os avanços anteriores, não queremos diminuir as nossas responsabilidades ou reduzir a nossa contribuição à mera continuidade. Reconhecer os acúmulos e avanços prévios não nos exime de propor, de interferir, de arriscar, de experimentar e de imprimir à nossa gestão um rumo que possa contribuir para o constante desenvolvimento do MAC. Muitos dos desafios, gargalos, problemas e possibilidades atuais vem sendo há muito pontuados, vários dos quais ainda por resolver devidamente. Entre eles, a sustentabilidade financeira de uma entidade que guarda em seu acervo mais de 10 mil obras de arte, a gestão de 30 mil metros quadrados de área construída e 5 mil metros quadrados de área expositiva em um edifício emblemático e tombado, a comunicação, a inserção urbana, a sustentabilidade ambiental e a inclusão social”.

Entre as próximas iniciativas institucionais a serem inauguradas, Lira pontuou a instalação do novo Centro de Ciências do Património da USP, um projeto pioneiro que reúne oito unidades, outras duas universidades e a colaboração de alguns dos principais museus de São Paulo. Trata-se de um equipamento multiusuário e multidisciplinar, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), sendo o primeiro do tipo na América do Sul e inspirado em centros similares existentes em grandes museus e universidades na Europa e Estados Unidos. “Com ele, poderemos contribuir para a conservação, o mapeamento físico-químico, o imageamento de alta precisão dos acervos e para a independência científica, tecnológica e operacional de São Paulo e do Brasil no trato de bens culturais, na produção de conhecimento e na formação de profissionais especializados no setor”, explicou o diretor.

O reitor da USP lembrou o papel central que os museus universitários têm na gestão e como eles privilegiam a formação humanista da comunidade – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

O reitor da USP, Carlos Gilberto Carlotti Junior, ao efetivar a posse, lembrou que os museus são objeto de especial atenção dessa gestão: “Constatar a organização e sucesso do MAC é motivo de grande satisfação. Trata-se de uma preocupação colocada por nós desde o momento em que nos candidatamos à reitoria e apresentamos um plano de gestão à comunidade universitária. Nossos acervos estão entre as maiores e melhores coleções do mundo e, além de seu papel junto à sociedade em geral, também trazem um diferencial para a preparação de nossos próprios alunos, que podem ter nesses espaços uma formação humanística privlegiada”.

Carlotti mencionou ainda outras ações que vêm estruturando o conjunto dos museus universitários em um novo patamar: “Em 2022 conseguimos entregar o Museu Paulista (MP) reformado como um dos principais marcos do bicentenário da Independência do Brasil. Não só entregamos na data prevista, mas com a qualidade desejada e um projeto avançado de acessibilidade e inclusão. Já o Museu de Zoologia (MZ) e o Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) estão na iminência da retomada das obras de seu novo espaço, que será a Praça dos Museus, na Cidade Universitária. A USP vive um bom momento, em que temos conseguido superar um grande desafio do setor público, que é a transformação de orçamento em ações completas, e felizmente temos visto isso em relação a todos os nossos museus e temos aqui a motivação para, nos próximos anos, tornar o MAC ainda mais grandioso do que já é”.

Quem são

José Lira é graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e em Filosofia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Doutor pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e de Design (FAU) da USP, unidade da qual é docente, Lira atuou já foi professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP entre 1998 e 2003 e professor visitante da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, entre 2022 e 2023. Antes de assumir a direção do MAC, o professor já dirigiu dois órgãos de cultura da Universidade: o Centro de Preservação Cultural – Casa de Dona Yayá, entre 2010 e 2014; e o Centro Universitário MariAntonia, entre 2022 e 2024.

Esther Hamburger é docente da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, onde já foi chefe do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão. Esther também já dirigiu um dos órgãos de cultura da USP, o Cinusp Paulo Emílio, entre 2010 e 2014. A professora é graduada em Ciências Sociais e Mestre em Sociologia pela FFLCH, com doutorado em Antropologia pela Universidade de Chicago, nos Estados Unidos. Autora do livro O Brasil Antenado: a Sociedade da Novela (2005), tem pesquisas voltadas ao audiovisual e suas relações com a sociedade.

A nova vice-diretora (à dir.) é docente da Escola de Comunicações e Artes e já foi diretora do Cinusp Paulo Emílio. Na solenidade de posse, a gestão anterior foi representada pela vice-diretora em encerramento de mandato, Marta Bogéa (à esq.) – Foto: Marcos Santos/USP Imagens