Notícia

Tribos de Roraima

Notícias Nacionais – Brasilestes stardusti. Assim se chama o mais antigo mamífero conhecido para as terras brasileiras…

Publicado em 31 maio 2018

Descoberta

Brasilestes stardusti. Assim se chama o mais antigo mamífero conhecido para as terras brasileiras.

Viveu entre 87 milhões e 70 milhões de anos atrás no fim da era Mesozoica, onde hoje é o noroeste do Estado de São Paulo. Trata-se do único mamífero brasileiro que, sabe-se até o momento, conviveu com os dinossauros.

A descoberta de Brasilestes foi anunciada na quarta-feira (30/05) pela equipe do professor Max Langer, professor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da Universidade de São Paulo, que teve apoio de colegas da Universidade Federal de Goiás, da Universidade Estadual de Campinas do Museu de La Plata e do Massachusetts Institute of Technology.

Brasilestes foi descrito a partir de um único fóssil: um dente pré-molar de 3,5 milímetros. “O dente de Brasilestes é pequeno e se encontra incompleto, pois lhe faltam as raízes”, disse a paleontóloga Mariela Cordeiro de Castro, a primeira autora do trabalho que acaba de ser publicado na Royal Society Open Science.

Brasilestes stardusti existiu há mais de 70 milhões de anos atrás no atual Estado de São Paulo. Descrição foi feita a partir de dente fossilizado e publicada na Royal Society Open Science

O nome da nova espécie homenageia o roqueiro inglês David Bowie, morto em janeiro de 2016, um mês após a descoberta do fóssil. Brasilestes stardusti faz alusão a Ziggy Stardust, ou Ziggy “poeira estelar”, personagem vindo do espaço que Bowie criou para uma canção de 1973.

O trabalho contou com apoio da FAPESP e integra o Projeto Temático “A origem e irradiação dos dinossauros no Gondwana (Neotriássico – Eojurássico)”, coordenado por Langer.

O dente fossilizado encontrado em rochas da Formação Adamantina que afloram no meio de um pasto na fazenda Buriti, em General Salgado (SP).

Há atualmente três grandes grupos de mamíferos: placentários, marsupiais e monotremados. Os três grupos evoluíram no Mesozoico. Porém, naquele tempo, estavam longe de ser as únicas formas de mamíferos. Havia diversos outros grupos, como os multituberculados comuns no hemisfério Norte, e grupos típicos do hemisfério Sul, como meridiolestídeos e gonduanatérios – alusão ao Gondwana, o antigo supercontinente austral que reunia América do Sul, África, Índia, Austrália e Antártica.

Até a descoberta de Brasilestes, os únicos vestígios de mamíferos mesozoicos no Brasil se resumiam a centenas de trilhas e pegadas deixadas por criaturas desconhecidas que caminhavam há 130 milhões de anos sobre as dunas do antigo deserto Botucatu, que cobria o interior de São Paulo. A superfície de tais dunas, solidificada, chegou aos nossos dias sob a forma de lajes de arenito onde se veem as antigas pegadas.

O mais inusitado é que o mamífero mesozoico com pré-molares mais parecidos com os do Brasilestes viveu do outro lado do mundo, na Índia, entre 70 milhões e 66 milhões de anos atrás. Chamava-se Deccanolestes. Nenhuma outra criatura do registro fóssil mundial guarda tamanha semelhança com Brasilestes.

O que dois membros da mesma linhagem estariam vivendo em regiões tão afastadas e não conectadas? Há cerca de 100 milhões de anos, ao mesmo tempo em que a América do Sul e a África acabavam de se separar definitivamente com a abertura do Atlântico Sul, a Índia cortava suas amarras do Gondwana e começava a vagar pelo oceano Índico.

Isso implica que, até pelo menos 100 milhões de anos atrás, ancestrais de Brasilestes Deccanolestes povoavam o supercontinente Gondwana. Ou seja, a linhagem de Brasilestes Deccanolestes é muito mais antiga do que a idade de seus respectivos fósseis: entre 87 milhões e 70 milhões de anos para Brasilestes, e entre 70 milhões e 66 milhões de anos para Deccanolestes.

Como nunca antes de Brasilestes foram encontrados fósseis de mamíferos mesozoicos no Brasil, isso pode significar que tais fósseis são raros ou de difícil preservação.

O artigo A late Cretaceous mammal from Brazil and the first radioisotopic age for the Bauru Group, de Castro MC, Goin FJ, Ortiz-Jaureguizar E, Vieytes EC, Tsukui K, Ramezani J, Batezelli A, Marsola JCA e Langer MC, está publicado pela Royal Society Open Science em http://rsos.royalsocietypublishing.org/lookup/doi/10.1098/rsos.180482.