Era dia 30 de outubro de 1938 quando um programa de rádio americano iniciou a transmissão de uma notícia extraordinária: o então jovem ator Orson Welles narrava a invasão de território americano por criaturas extraterrestres. Enquanto Welles comunicava que alienígenas aterrissavam suas naves e desembarcavam nos Estados Unidos, a população escutava o programa de rádio e o pânico se instaurava: muitos entraram em seus carros e congestionaram vias fugindo do ataque alienígena, houve diversos acidentes e até mesmo tentativas de suicídio de cidadãos que não queriam render-se à invasão. Um momento histórico dos veículos de comunicação de massa está brevemente resumido neste evento, que na verdade consistiu em um programa de rádio que trazia a adaptação de obras literárias. Neste dia estava em causa A Guerra dos mundos, de H. G. Wells, mas muitos ouvintes sintonizaram o rádio somente após o anúncio de que se tratava de narrativa ficcional e, assim, a ficção foi recebida como transmissão do real.
O evento pode soar absurdo para alguns: sair correndo às ruas por conta de uma invasão alienígena? Tentar matar-se? Não, jamais… Será que em tempos de avalanches informacionais nas tramas da internet, conseguimos divisar o que é uma notícia falsa e ter consciência de quantos são os mecanismos que simplesmente ofuscam questões essenciais relacionadas à veracidade daquilo que se apresenta diante de nós?
Esse post é para apresentar alguns pontos importantes a serem considerados por qualquer pessoa que busca informações e não quer sair por ai correndo de falsas invasões extraterrestres.
Considere a fonte e Verifique o autor
Lembre-se de verificar de onde vem a notícia. Ao ler informações disponibilizadas em qualquer website é importante verificar quem/o quê dá sustentação aquele discurso. Não se deixe enganar por sites de instituições cujos nomes conferem certa capa de importância e credibilidade, entenda quem é o produtor do discurso. Viu algo numa rede social? Uma frase atribuída a alguém, uma imagem atrelada a dado contexto? Verifique a fonte do discurso antes de consumir a informação com a mesma facilidade e naturalidade com que consumimos um cafezinho pela manhã. Clique fora da história para investigar, verifique quem é aquela fonte. No caso de um autor individual, do mesmo modo, pesquise sobre o mesmo, verifique se ele existe.
Para sites lembre-se de ver “quem somos nós”, “sobre nós”. Pesquise sobre a instituição ou pessoa. As famosas curtidas e compartilhamentos não representam, por si, só credibilidade. Vídeos disponibilizados em canais oficiais de instituições reconhecidas conferem credibilidade. O que você acharia mais confiável: um vídeo disponibilizado no canal oficial da revista Pesquisa FAPESP no Youtube ou um vídeo postado por um autor não identificável?
Verifique a data e Fontes de apoio
Algumas notícias não são completamente falsas, mas há casos em que ocorrem certas distorções. Uma prática que não é incomum é a veiculação de notícias antigas atrelando-as a uma situação do presente.
Nos EUA ocorreu uma situação bastante significativa quando Donald Trump tornou-se presidente: começou a circular uma notícia de que a empresa Ford iria retirar uma parte de sua produção do México e passá-la para Ohio. O problema é que a matéria sobre a empresa era de 2015 e apropriaram-se da mesma vinculando-a à eleição do então presidente. Como se não bastasse, o então presidente americano divulgou a notícia em seu twitter. Portanto, sempre verifique a data das publicações e também daquelas que ela referencia. Além de datas, confira a credibilidade dessas fontes que dão apoio à matéria bem como a veracidade daquilo que é afirmado. As corriqueiras notícias de “estudos revelam”, atreladas a uma dada universidade ou centro de pesquisa de aparente renome, podem revelar para o leitor uma falácia quando você pesquisar pela organização em causa e descobrir que ela nem mesmo existe.
Isso é uma piada? É preconceito?
Não limite sua prática no âmbito das informações ao consumo passivo e acrítico. Simplesmente passar coisas adiante sem nem ao menos checá-las é atitude problemática, além de prejudicar sua própria relação com o mundo das informações você contribui à divulgação de qualquer tipo de absurdo incoerente. Existem páginas e canais de notícias satíricas que têm como foco justamente o humor. Reconheça quem é o emissor do discurso antes de simplesmente achar que aquilo é verídico ou espelha uma opinião real sobre algo.
Da mesma forma, tome cuidado para não se mover dentro dos limites de seu preconceito. Por mais difícil que seja, caso leia uma notícia que lhe agrada sobre um político, por exemplo, lembre-se de confirmá-la. Não é o fato de a notícia em causa coadunar com seu pensamento que a torna verídica.
Consulte especialistas e Leia mais:
Sabemos que todos estamos sempre ocupados, mas querer inteirar-se de todos os assuntos que nos rodeiam a partir dessa perspectiva superficial não é lá atitude muito construtiva; estamos sendo inundados por argumentos infundados e simplesmente nem conseguimos deter-nos nos detalhes. Muitas vezes, menos é mais: mais coerência, mais reflexão, mais criticidade, mais aprendizado. Lembre-se de consultar especialistas sobre os assuntos em causa e de ler mais, o que não significa necessariamente quantidade. Aqui o mais significa: viu um meme no facebook dizendo que um político X teve a atitude Y? Antes de consumir aquela informação e deixar que ela lhe cause as mais variadas sensações, pesquise considerando os elementos que mencionamos acima.
Para escrever este post consultamos o texto: How to spot fake news, de Eugene Kiely e Lori Robertson, publicado em novembro de 2016 no site Factcheck.org. https://www.factcheck.org/2016/11/how-to-spot-fake-news/>
As categorias apresentadas foram baseadas em proposta da International Federation of Library Associations and Institutions. https://www.ifla.org/files/assets/hq/topics/info-society/images/portuguese_-_how_to_spot_fake_news.pdf>