Caso todos os projetos da Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico saiam do papel, a capital da República passará, aos poucos, a contar também com o título de capital tecnológica do Brasil. Responsável pela Pasta há pouco mais de três meses, Izalci Lucas (PFL), empresário do ramo da educação e eleito deputado distrital nas eleições de 2002, revela nesta entrevista uma série de planos ambiciosos que, se implementados, devem criar milhares de postos de trabalho e receita para os cofres do GDF. Além disso, Izalci fala sobre a reforma do Planetário e pesquisa científica.
O senhor assumiu a Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico em meados de janeiro. O que foi feito na pasta desde então?
Foi um período bastante produtivo, pois conseguimos elaborar o nosso planejamento estratégico, com a reestruturação da Secretaria. O estudo está agora na Câmara Legislativa para ser aprovado, já passou por todas as comissões. Definimos algumas prioridades e começamos a realizar alguns projetos. São três grandes planos do governo: o Parque Digital, em seguida o Parque de Biotecnologia e a Cidade da Saúde. O principal é o Parque Digital, que vai ficar em uma área de 120 hectares, perto da Granja do Torto. A meta é estabelecer cerca de duas mil empresas, com a criação de 35 mil a 40 mil empregos diretos.
Desde o lançamento da idéia do Parque Digital, o governo teve de enfrentar problemas para conseguir as licenças ambientais...
Perdeu-se muito tempo com a discussão para saber se a área estaria ou não dentro do Parque Nacional de Brasília. Mas agora nós tivemos um entendimento muito bom com o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis). E chegamos à conclusão de que a área da Cidade Digital está fora do Parque. Nessa linha, conseguimos da Semarh (Secretaria do Meio Ambiente) a licença prévia, que nos autoriza a elaborar o projeto. Nós já o elaboramos e agora chegamos à fase de contratação do Rima (Relatório de Impacto Ambiental). Para isso, a Semarh já emitiu o termo de referência. A expectativa é que o trabalho dure cerca de 120 dias.
Que tipo de empresa?
O parque é dirigido para empresas do ramo de informática e telecomunicações. Vamos ter áreas para incorporação, para que os pequenos microempresários possam comprar a sua unidade. Eles não vão receber terrenos, vão ter a oportunidade de comprar a sala pronta.
Dessa forma, o modelo não tem muitas semelhanças com o Pró-DF.
De fato, a forma é um pouco especial. Não é dar um lote para se construir. Os lotes serão destinados às grandes empresas. A idéia é fazer projeções verticais para podermos absorver o máximo de pequenas e microempresas em uma mesma área.
O governo forneceria a infra-estrutura?
O governador quer cercar o parque, fazer as ruas, colocar água, luz e telefone. Além de construir uma bela área para gerência. Tudo isso já foi determinado.
Existem grandes empresas interessadas em participar do projeto? Que grupos poderiam atuar como âncoras?
A expectativa é trazer o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal. Quando falamos nessas instituições, trazemos junto todos os seus fornecedores, com, no mínimo, 50 empresas. Também estamos negociando com os Correios.
E os outros projetos, em que pé estão?
Estivemos reunidos com representantes de médicos, laboratórios e clínicas para discutir a questão do Parque de Saúde, para formação de uma área de ciência e tecnologia perto da Ponte JK. São 33 hectares. O governador pretende transformar Brasília em referência na área de saúde. Então, será um centro de saúde de alta tecnologia, com todos os recursos na área. O objetivo é colocar nesse centro a Universidade de Medicina do GDF, provavelmente com um curso de Enfermagem.
Como estão os estudos para a área de biotecnologia?
Estamos aguardando a regularização de uma área na Fazenda Sucupira, na região do Riacho Fundo I, que é terra da União e está sendo trabalhada com a Embrapa para a realização de um convênio.
O objetivo é criar uma plataforma no DF para exportações?
Com certeza. Evidente que Brasília tem uma demanda muito grande, em função dos governos federal e local estarem aqui. A implementação desses projetos vai gerar uma receita muito grande e a meta é exportar mesmo. A nossa capacidade tecnológica é muito grande, mas precisamos transformá-la em empresas para que se possa gerar empregos e renda. Então, precisamos formar empresários nessas áreas. Há um mercado exportador muito grande, que não é explorado.
De acordo com o IBGE, o Distrito Federal possui a melhor média de computadores por habitante. Cerca de 29% das residências possuem um equipamento. Mas como fazer a inclusão digital da outra parte da população?
Estamos com um projeto, que é o da informatização das escolas públicas, para que o aluno possa fazer seus trabalhos. Ainda este mês, pretendemos inaugurar a primeira escola digital integrada em Tabatinga, que fica a 70 quilômetros da Rodoviária do Plano Piloto, que nem telefone tem hoje. Fizemos um convênios com o Ministério das Comunicações, conseguimos as antenas e estamos informatizando.
Aparentemente, esse é um projeto pontual...
Além disso, temos também um convênio com a Embrapa, que está nos fornecendo conteúdos rurais. Estamos instalando, agora, 22 computadores na escola. A comunidade também terá acesso, para poder saber, em tempo real, o preço de seus produtos. Hoje, eles vendem os seus produtos sem saber o valor de mercado. Por meio da internet, eles vão poder ter acesso na hora. A segunda escola seria no PADF. Lá também temos a estrutura quase instalada. A idéia é, até o final do governo, informatizar todas as escolas públicas. Em novembro, devemos ter a liberação dos recursos do Fust (Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações), que trata da informatização das escolas e das bibliotecas. Vamos utilizar esse fundo para informatizar as escolas públicas. Até o final do ano, pretendemos chegar a dez escolas rurais e pelo menos 50 escolas urbanas. Depois com os recursos do Fust, chegar nas quase 600 escolas.
Recentemente, o governador assinou um decreto passando o processo de reforma do Planetário para a pasta do senhor. O que está previsto?
O Planetário estava sob responsabilidade da Semarh. Nós já conseguimos do Ministério da Ciência e Tecnologia o compromisso de recurso para restaurar os equipamentos, algo em torno de R$ 400 mil a R$ 500 mil. Estamos aguardando da Novacap o orçamento da obra de reforma do espaço físico. Além da sala de projeções, na parte de cima, temos 16 aquários. Temos capacidade para 145 alunos por vez. Pretendemos atender cerca de 1.500 alunos por semana.
Em quanto tempo deve ficar pronto?
Estou dependendo do orçamento para analisar um prazo, porque temos de correr atrás de recursos. Vamos buscar com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). O GDF, é claro, dará uma contrapartida. Tenho certeza que vamos conseguir, ainda este ano, reinaugurar o Planetário.
Como está a Fundação de Amparo à Pesquisa (FAP)?
Nós temos vários projetos em andamento, sobretudo para capacitação e aperfeiçoamento do micro e do pequeno empresário. A FAP produz muita pesquisa. Eu mesmo não sabia que o projeto da Vaca Vitória e Vitoriosa nasceu na FAP. E pouca gente sabe disso. Então, tem muita coisa boa, mas que a comunidade não conhece.
Qual o orçamento?
Foi aprovado em torno de R$ 28 milhões. Evidente que não sei se vamos aplicar tudo isso esse ano, mas a expectativa é que a cada ano possamos investir mais. Na prática, esse recurso da FAP é oriundo da Lei Orgânica, que determina que 2% da receita tributária deve ser investida na FAP.
Esses valores podem ser considerados residuais se comparados aos da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), por exemplo. Como o DF está no ramo da tecnologia no cenário nacional?
O orçamento lá ultrapassa R$ 600 milhões. O volume é muito mais significativo. Agora, o Distrito Federal tem todas as condições de alcançar São Paulo. Nós temos aqui a UnB (Universidade de Brasília), que é um centro de excelência. Estamos trabalhando em conjunto.
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Jornal de Brasília