Por Manuel Alves Filho - O livro Bioetanol de Cana-de-açúcar - P&D para produtividade e sustentabilidade (Editora Blucher), organizado pelo professor Luís Augusto Barbosa Cortez, da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp, ganhou o Prêmio Jabuti 2011 na categoria "Ciências Naturais". O anúncio foi feito no último dia 17 de outubro pela Câmara Brasileira do Livro. A premiação é reconhecida como a mais importante da literatura brasileira.
Esta é a segunda vez que Cortez vence o Jabuti. Em 1993, o docente foi contemplado na categoria "Ciências Exatas e Tecnológicas" com a obra intitulada Introdução à Engenharia Agrícola no Brasil, publicado pela Editora da Unicamp.
"Penso que o Jabuti é um reconhecimento tanto ao livro quanto ao tema nele tratado, visto que o etanol continua se apresentando como uma grande oportunidade para o Brasil", considera o pesquisador. A entrega do Prêmio Jabuti será no dia 30 de novembro, na Sala São Paulo, em São Paulo. Os primeiros colocados receberão, além de troféu, R$ 3 mil em dinheiro.
Cortez revela que esperava que o livro ficasse entre os finalistas da categoria, mas não imaginava que pudesse ganhar o Jabuti. "Possivelmente, a Câmara Brasileira do Livro reconheceu o caráter inédito da obra. É a única que eu conheço que trata o assunto com uma abordagem diferenciada. O livro não pretende ensinar o que é etanol, mas sim identificar oportunidades de pesquisa. Ou seja, é totalmente dirigido a quem faz ou pretende fazer pesquisa na área", explica.
De acordo com o docente da Feagri, o volume, publicado em setembro do ano passado, é resultado de um projeto de três anos na área de políticas públicas financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), do qual foi coordenador. O projeto PPP-Etanol foi coordenado através do Núcleo de Planejamento Energético (Nipe) da Unicamp, tendo a Agência Paulista do Agronegócio (APTA) como instituição parceira.
Durante o projeto, conta Cortez, foram realizados 20 workshops abordando temas pinçados da cadeia produtiva do etanol. "Quando elaboramos o projeto, ele previa a realização de apenas dez workshops. Entretanto, conforme íamos avançando nas discussões, novos pontos iam sendo colocados. Há temas, porém, sobre os quais sequer tratamos, como é o caso do motor a álcool. Nós até queríamos abordar a questão, mas não encontramos especialistas no assunto. Ou seja, tratamos de tudo relativo à produção, mas o uso, que é um ponto igualmente importante, não. Este tema está sendo objeto de um projeto que estamos elaborando agora", adianta.
No decorrer dos trabalhos, revela o docente da Unicamp, o diretor científico da Fapesp e ex-reitor da Unicamp, Carlos Henrique de Brito Cruz, o incentivou a produzir um livro com os resultados alcançados. "Logo em seguida, o professor Brito sugeriu que a obra fosse publicada também em inglês, para possibilitar a sua circulação entre os pesquisadores de outros países interessados na temática abordada". Ao final, a obra contou com a participação de 126 autores, a maioria brasileiros, sete organizadores e foi dividida em 76 capítulos. Estes trazem dados e análises acerca de dois campos relacionados à produção do etanol no país: o agrícola e o industrial.
Os textos, produzidos por pesquisadores que conduzem relevantes estudos em suas áreas de atuação, traçam um panorama minucioso da cadeia do biocombustível, contemplando desde a questão do melhoramento genético da cana atéas técnicas de termoconversão, passando pela questão do uso do solo e das relações sociais e de trabalho. "O livro traz uma importante contribuição às discussões existentes em torno do desafio de produzir mais, de maneira mais barata e de forma sustentável", resume Cortez.
O volume oferece, ainda, uma série de números relativos à produção do álcool da cana. Aponta, por exemplo, que cerca de 60% do etanol gerado no Brasil vem do Estado de São Paulo e que os projetos de P&D desenvolvidos pela academia e indústria têm ajudado a aumentar a produtividade do biocombustível de forma constante ao longo dos últimos 35 anos, a uma taxa de 3,2% ao ano. No período 2009/2010, acrescenta a publicação, a área plantada com cana para produção de álcool foi de 4,2 milhões de hectares. Hoje, são cerca de 5 milhões e 9 milhões de hectares para açúcar e etanol, correspondentes a 1% do total das terras aráveis disponíveis no Brasil.
Cortez adianta que o conteúdo do livro deverá ser abordado em um novo curso de pós-graduação em Bioenergia que está sendo montado pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação (PRPG) e que deverá ser oferecido a partir de 2013. "O livro tem a pretensão de servir como texto introdutório, seja para quem vai fazer pesquisar , seja para quem vai fazer pós-graduação. Assim, o interessado terá a oportunidade de tomar contato com diferentes autores e de ver de que forma o seu assunto está relacionado com o conjunto", analisa. "Além dessa abordagem de pesquisa, que considero inovadora, o livro também oferece um mapa das principais oportunidades na área agrícola e industrial. Nele, identificamos os principais obstáculos e desafios científicos do setor", acrescenta.
Cortez acredita que a concessão do Prêmio Jabuti dará uma nova visibilidade ao livro, inclusive no exterior. Ele destaca que o tema etanol sempre despertou o interesse de outros países. "Quando estive à frente da Coordenadoria de Relações Institucionais e Internacionais da Unicamp, pude notar que os integrantes das delegações estrangeiras que visitavam a Unicamp perguntavam frequentemente sobre a produção e o uso do álcool pelo Brasil", relata. A esse propósito, o docente da Feagri revela que está organizando, com o apoio da Fapesp, um projeto internacional para estudar a produção de bioenergia na América Latina e África (LACAf-Cane). O principal objetivo da iniciativa é verificar se é possível reproduzir a experiência brasileira de produção do etanol no exterior.
O modelo nacional, conforme Cortez, é visto pelos estrangeiros como a mais bem sucedida iniciativa de substituição de fontes fósseis no mundo. "Penso que o Brasil tem a responsabilidade de ajudar os outros países nesse sentido. Não se trata simplesmente de oferecer uma cópia do nosso modelo, visto que as condições climáticas, de solo e de disponibilidade de terra aqui são únicas no mundo. Entretanto, podemos levar lições positivas. Há países na América Central e África, por exemplo, que produzem muito melaço de cana, um produto que é vendido a preços baixíssimos.
Estes poderiam incrementar a sua produção e passar a gerar álcool. Isso poderia criar mercado para um produto que tem maior valor agregado", exemplifica o pesquisador.
¦ Serviço
Título: Bioetanol de Cana-de-açúcar - P&D para produtividade e sustentabilidade
Autores: Vários Organizador: Luís Augusto Barbosa Cortez
Editora: Blucher Páginas: 992 Preço sugerido: R$ 180,00
Sobre o organizador
Luís Augusto Barbosa Cortez é graduado em Engenharia Agrícola pela Unicamp, mestre pela Université Laval em Québec (Canadá) e doutor pela Texas Tech University em Lubbock (EUA). É professor titular na Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri). Foi coordenador do Nipe/Unicamp (1998-2002) e coordenador de Relações Institucionais e Internacionais da Universidade (2002-2009). Atualmente, é coordenador adjunto da Diretoria Científica da Fapesp e assessor da diretoria no Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE).