O Nordeste brasileiro tem registrado avanços significativos na formação médica nos últimos anos. Com 2,02 médicos por mil habitantes, a região mostra crescimento consistente no número de profissionais em atividade. Dados da nova edição da Demografia Médica no Brasil, lançada pela Faculdade de Medicina da USP no dia 30 de abril, mostram que, mesmo com o aumento no número de vagas para novos estudantes, a distribuição desigual ainda é uma realidade marcante: mais de 70% dos médicos nordestinos estão concentrados nas capitais, como Salvador, Recife e Fortaleza, deixando muitas cidades de médio e pequeno porte com baixa cobertura médica.
Entre 2014 e 2024, o Nordeste liderou em número de novos cursos de Medicina, com mais de 90 escolas abertas, sendo a maioria em municípios do interior. Essa interiorização da formação, no entanto, ainda não se refletiu na permanência dos médicos formados nessas localidades.
“A maioria das novas vagas foi criada por instituições privadas, o que levanta preocupações sobre a infraestrutura e a qualidade da formação, especialmente nos cursos sem hospitais próprios ou estrutura de residência médica associada”, afirma o Dr. Mário Scheffer, coordenador da Demografia Médica no Brasil 2025 e professor da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).
A região também enfrenta um déficit de especialistas. Estados como Piauí e Maranhão têm algumas das menores proporções de médicos especialistas do país (45,1% e 46,5%, respectivamente), o que limita o acesso a atendimentos mais complexos pelo SUS. Além disso, o percentual de médicos residentes no Nordeste corresponde a apenas 17,7% do total nacional, reforçando a necessidade de ampliar e descentralizar os programas de residência médica.
Por outro lado, os cursos públicos da região se destacam por abrigarem estudantes com maior diversidade social e racial. Segundo o estudo, 44,4% dos estudantes das escolas públicas de Medicina no país se autodeclaram negros (pretos e pardos) e 51,3% cursaram o ensino médio em escolas públicas, sinalizando um maior compromisso com inclusão social e com o sistema público de saúde.
SOBRE O ESTUDO DEMOGRAFIA MÉDICA NO BRASIL
A pesquisa Demografia Médica no Brasil é conduzida há 15 anos pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). A edição de 2025 foi lançada no dia 30 de abril e é a primeira realizada com o Ministério da Saúde. Os dados utilizados têm como base registros da Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM/MEC) e das sociedades de especialidades vinculadas à AMB.
A DMB 2025 reúne 10 estudos desenvolvidos por um grupo de 22 pesquisadores e colaboradores da FMUSP. O trabalho é fruto de uma colaboração técnica e científica entre a Universidade de São Paulo, o Ministério da Saúde, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), a Associação Médica Brasileira (AMB), o Ministério da Educação (MEC) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).