Nomeado ontem pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) para a Diretoria Científica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
o reitor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Carlos Henrique de Brito Cruz está convocando reunião extraordinária do Conselho Universitário (Consu) para a próxima terça-feira, quando será definido o calendário e as regras de sua sucessão na reitoria.
Para comandar a política científica no Estado de São Paulo, Brito Cruz precisará renunciar ao cargo de reitor da Unicamp e convocar novas eleições. É dessa consulta popular que sai a lista tríplice elaborada pelo Consu e que é encaminhada ao governador.
A Diretoria Científica é uma das mais importantes dentro da Fapesp, porque é dela que partem as propostas de programas e políticas para o financiamento da ciência e tecnologia no Estado. E a Fapesp é um dos mais importantes órgãos de fomento do País. A fundação tem financiado importantes projetos, como o Genoma, os Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid), Consórcios Setoriais para a Inovação Tecnológica, entre outros.
O novo diretor científico da entidade acha que a Fapesp precisa estar mais atenta e buscar uma melhor comunicação com a comunidade científica. "Essa comunidade cresceu muito nos últimos 10 anos, se qualificou. Precisamos saber ouvir essa comunidade, estar em contato, consultá-la, buscar idéias", disse.
Brito Cruz já presidiu a Fapesp em três mandatos consecutivos. Com seu retorno a uma função executiva na instituição, a Unicamp passa a ter presença na Fapesp: o atual presidente, Carlos Vogt, é ex-reitor da universidade, e Brito Cruz, na Diretoria Científica, interrompe a hegemonia da Universidade Estadual de São Paulo (USP) nessa função. O reitor da Unicamp vai substituir José Fernando Pérez, que deixa o cargo depois de ocupá-lo por dez anos, para se dedicar à atividade privada.
Agência Anhangüera de Noticias - O que o levou a interromper um mandato de quatro anos na reitoria da Unicamp?
Carlos Henrique de Brito Cruz - A possibilidade de eu ir para a Diretoria Científica da Fapesp surgiu em função do fato do Perez (José Fernando Pérez) ter pedido ao Conselho Superior para terminar seu mandato antes do prazo previsto, que seria dezembro de 2005. Isso aconteceu em agosto e, a partir daí, começou a se analisar a sucessão e, especialmente, começou a se discutir isso aqui na Unicamp. A comunidade científica se interessa muito pela designação que eventualmente aconteça para essa posição. Esse cargo é muito importante para o sistema de ciência paulista, porque é uma posição muito focal para as políticas de ciência e tecnologia em São Paulo, seja no estabelecimento de diretrizes, seja na implementação. Quando a comunidade foi fazendo a avaliação da situação, identificou-se que uma das possibilidades seria eu ir para a Fapesp.
Mas isso não tem um custo para a Unicamp?
A comunidade está considerando essa mudança como uma possibilidade interessante, visto que nunca teve um diretor científico da Fapesp da Unicamp. Além disso, há o fato de existir uma razoável concordância com as idéias que eu tenho defendido sobre as políticas para ciência e tecnologia no Brasil. Houve uma reunião do Consu (Conselho Universitário) em que diversos membros se manifestaram no sentido de que era uma possibilidade que não deveria ser desconsiderada, que eu deveria me apresentar como candidato e, caso fosse nomeado, o cuidado que deveríamos tomar seria a de organizar uma eleição de reitor antes da minha saída. Isso foi uma providência muito interessante recomendada pelo Consu, porque ela é importante para garantir uma tranqüilidade institucional. Dessa forma, autorizado pelo Consu, eu me inscrevi no processo.
Qual a sua expectativa na nova função?
Será um desafio muito estimulante e muito interessante. O Brasil vive hoje uma época em que precisa decidir e levar adiante as conseqüências da decisão. O futuro do nosso desenvolvimento é baseado em conhecimento e uma parte importante dele é baseado em ciência e tecnologia, pesquisa e desenvolvimento, seja em pesquisa fundamental, seja em pesquisa aplicada. Esses resultados só existem porque há todo um passado de pesquisa fundamental e de avanço do conhecimento feito especialmente em universidades. É um momento interessante para estar nessa posição para contribuir com essa elaboração.
Qual está sendo a reação da comunidade acadêmica a sua saída?
Muito positiva. Um dos bons indicativos disso foi o posicionamento do Consu, com os diretores das unidades, representação docente, dos alunos e dos funcionários. Devo dizer que avaliei cuidadosamente e, de certa forma, me preocupava a maneira como a comunidade da Unicamp ia avaliar. Sempre destaquei que não tomaria qualquer atitude que pudesse criar uma dificuldade institucional para a universidade. O ponto decisivo foi a reunião do Consu de 28 de setembro. Ali ficou muito claro que a comunidade vê como muito positiva essa mudança, mesmo que como qualquer mudança onere um pouco. Qualquer mudança onere, tem que fazer nova eleição, mexe com a vida das pessoas, mas teria de acontecer de qualquer jeito daqui a um ano. A comunidade está vendo mais pontos positivos do que negativos essa mudança.
Qual é seu desafio na diretoria cientifica?
Uma das funções da diretoria é propor programas e políticas ao Conselho Superior da Fundação, que analisa e acolhe ou não. Tenho um papel muito importante de tomar a iniciativa de propor. A diretoria científica é talvez a que mais se relaciona com a comunidade acadêmica
Que políticas você acha necessário que a Fapesp assuma?
A Fapesp precisa estar atenta e buscar sempre uma melhor comunicação com a comunidade acadêmica no Estado. Essa comunidade cresceu muito nos últimos 10 anos, se qualificou demais. A Fundação precisa constantemente estar em contato com essa comunidade para ouvi-la, consultá-la, pegar idéias. Todos os programas desses últimos 10 anos que fizemos quando eu era presidente, nasceram de idéias da comunidade acadêmica. Nada foi inventado dentro da Fapesp. A Diretoria Científica tem que saber ouvir essas idéias. A segunda idéia geral, e que acho importante que a Fapesp valorize, é que a atividade de pesquisa compreende diversos tipos de ações. Tem pesquisa fundamental, básica e aplicada e o desenvolvimento tecnológico. Não é bom termos um sistema de ciência e tecnologia que tenha só um desses três ingredientes. A gente tem que ter em quantidade os três. Temos excelente capacidade de formação de recursos humanos e a Fapesp apóia isso por meio dos programas. Ao mesmo tempo que a Fapesp valoriza a pesquisa fundamental, ela precisa também contribuir para uma intensificação do esforço de pesquisa aplicada e pesquisa tecnológica no Estado de São Paulo.
Há algum projeto mais específico que deve ser implantado na sua gestão?
Acho que do ponto de vista do bem-estar do contribuinte paulista, é necessário haver uma adequada combinação entre a pesquisa fundamental, a pesquisa aplicada e a pesquisa tecnológica para a obtenção dos resultados para que, em algum ponto da história, a vida do contribuinte seja melhorada. A Fapesp tem feito ações importantes nessa área e nós precisamos trabalhar e buscar mais dessas ações, idéias, setores... Há discussões importantes no País sobre biotecnologia, nanotecnologia e sobre questões relativas às políticas industrial e tecnológica.
Sua ida para a Diretoria Científica vai significar um grande investimento em inovação?
Inovação é um dos elementos importantes da estratégia de ciência e tecnologia no Estado de São Paulo. Entretanto, inovação é algo que se faz nas empresas. Não é algo que se faz nas universidades. As instituições contribuem para isso. Tenho sempre dito que a maior contribuição das universidades para a inovação, com bolsa de estudo, na pesquisa fundamental. Dentro desse quadro, a Fapesp pode fazer uma colaboração importante, dando condições, gerando a base, a infra-estrutura de conhecimento e de pessoas e, ao mesmo tempo, tendo ações tópicas que sejam relacionadas à pesquisa. Um dos desafios é a Fapesp conseguir se articular com outros atores, porque a Fapesp tem oportunidade de agir como catalisadora, mobilizando outros parceiros, como BNDES, Finep e bancos estaduais, para que tenham ação conjunta nessa questão.
Mas o senhor tem defendido que deve existir mais pesquisa nas empresas...
Quando a gente fala em ter mais pesquisa na empresa, não é com dinheiro da Fapesp que isso vai acontecer. Alguns recursos da Fapesp podem até contribuir, mas isso só vai se viabilizar se a empresa tiver outras fontes. A Fundação não pode substituir os outros agentes.
Notícia
Correio Popular (Campinas, SP)