A TransEmpregos, projeto pioneiro de empregabilidade de pessoas trans, completa 10 anos em 2023 com motivos para comemorar. “A gente teve 1.113 profissionais empregados em 2022, um aumento de 40% em relação ao ano de 2021”, afirma Maite Schneider, cofundadora da TransEmpregos. A plataforma que auxilia a inserir pessoas trans no mercado de trabalho formal, que foi criada em 2013 por Maitê, pela advogada Márcia Rocha e pela cartunista Laerte Coutinho, também bateu o recorde no número de empresas parceiras: atualmente, conta com mais de 2.200 companhias cadastradas, entre marcas como Itaú, Carrefour, Alpargatas e Coca-Cola. Porém, ainda há um longo caminho a ser percorrido. “Dentro dessas contratações, homens trans são facilmente mais contratados do que mulheres trans. Se além de trans a pessoa também for negra, fica 72% mais difícil dela conseguir uma colocação na mesma vaga de uma pessoa não negra”, explica Maite Schneider, que também atua como consultora sobre Inclusão, Diversidade e Humanização. Dados divulgados pela FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - apontam que somente 13,9% das mulheres trans e travestis possuem emprego formal. Entre os homens trans o percentual chega a quase 60%. Para a cofundadora da TransEmpregos, a maioria das empresas ainda não estão preparadas para receber pessoas trans em seu quadro de funcionários. De acordo com a consultora, existem três barreiras principais a serem superadas. A primeira é a questão do nome social. “Empresas que ainda não entenderam a obrigatoriedade, que ainda fazem isso como um favor ou até conseguem fazer internamente, mas não conseguem fazer, por exemplo, com os seus stakeholders”, revela. “A segunda questão, que nem deveria ser uma questão, é sobre os banheiros. Qual banheiro a pessoa trans deve usar ainda é um grande problema dentro das empresas. Quanto maior a companhia, mais difícil é”, relata Maite Schneider. Por fim, a terceira barreira é sobre os benefícios oferecidos pelas empresas. “A gente vê vários benefícios que são divulgados e que não atingem todo mundo da empresa, que as pessoas trans ficam de fora desses auxílios, e aí começa uma série de problemáticas sobre isso”. Diversity Washing Além de todos os obstáculos enfrentados pelas pessoas trans dentro das empresas, também existe a questão do “diversity washing”, ou “diversidade de fachada”: empresas que se aproveitam do conceito de diversidade na comunicação da marca para fazer marketing, mas que não estão comprometidas com a causa de verdade. “Acontece muito ainda, infelizmente. Mas acredito que já existe uma cobrança maior da sociedade pra ver se aquilo não é só em datas específicas, se não é só por marketing”, conta Maite Schneider cofundadora da TransEmpregos. Uma pesquisa realizada pela startup Blend Edu mostra que, entre as 45 maiores empresas do Brasil comprometidas com diversidade e inclusão, 88% fazem ações e campanhas para uma comunicação mais inclusiva interna e externamente. Porém, apenas 35% das companhias têm, de fato, programas para a formação de grupos de talentos diversos dentro da empresa. “90% das empresas ainda estão falando muito em atração e só 10% falando em práticas efetivas de retenção de talentos diversos dentro das companhias”, afirma a consultora. “Uma coisa é ser porta de entrada, outra coisa é você fazer a manutenção desses talentos em termos de segurança psicológica, de incentivar essas pessoas em planos de carreira”. Para Maite Schneider, é importante que as empresas entendam que diversidade e inclusão não é um ponto em que se chega, mas sim uma caminhada constante. “Tem que ser realmente um investimento da empresa para a gente criar esses lugares. Diversidade é um lugar de criar pontes nesses abismos que existem de tantas diferenças”, finaliza.
'Nome e banheiro são barreiras para trans nas empresas', diz TransEmpregos
A TransEmpregos, projeto pioneiro de empregabilidade de pessoas trans, completa 10 anos em 2023 com motivos para comemorar. “A gente teve 1.113 profissionais empregados em 2022, um aumento de 40% em relação ao ano de 2021”, afirma Maite Schneider, cofundadora da TransEmpregos.
A plataforma que auxilia a inserir pessoas trans no mercado de trabalho formal, que foi criada em 2013 por Maitê, pela advogada Márcia Rocha e pela cartunista Laerte Coutinho, também bateu o recorde no número de empresas parceiras: atualmente, conta com mais de 2.200 companhias cadastradas, entre marcas como Itaú, Carrefour, Alpargatas e Coca-Cola.
Porém, ainda há um longo caminho a ser percorrido. “Dentro dessas contratações, homens trans são facilmente mais contratados do que mulheres trans. Se além de trans a pessoa também for negra, fica 72% mais difícil dela conseguir uma colocação na mesma vaga de uma pessoa não negra”, explica Maite Scheider, que também atua como consultora sobre Inclusão, Diversidade e Humanização.
Dados divulgados pela FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - apontam que somente 13,9% das mulheres trans e travestis possuem emprego formal. Entre os homens trans o percentual chega a quase 60%.
Pessoas trans sofrem com questões do cotidiano, como o banheiro
Para a cofundadora da TransEmpregos, a maioria das empresas ainda não estão preparadas para receber pessoas trans em seu quadro de funcionários. De acordo com a consultora, existem três barreiras principais a serem superadas. A primeira é a questão do nome social. “Empresas que ainda não entenderam a obrigatoriedade, que ainda fazem isso como um favor ou até conseguem fazer internamente, mas não conseguem fazer, por exemplo, com os seus stakeholders”, revela.
“A segunda questão, que nem deveria ser uma questão, é sobre os banheiros. Qual banheiro a pessoa trans deve usar ainda é um grande problema dentro das empresas. Quanto maior a companhia, mais difícil é”, relata Maite Scheider.
Por fim, a terceira barreira é sobre os benefícios oferecidos pelas empresas. “A gente vê vários benefícios que são divulgados e que não atingem todo mundo da empresa, que as pessoas trans ficam de fora desses auxílios, e aí começa uma série de problemáticas sobre isso”.
Diversity Washing
Além de todos os obstáculos enfrentados pelas pessoas trans dentro das empresas, também existe a questão do “diversity washing”, ou “diversidade de fachada”: empresas que se aproveitam do conceito de diversidade na comunicação da marca para fazer marketing, mas que não estão comprometidas com a causa de verdade.
“Acontece muito ainda, infelizmente. Mas acredito que já existe uma cobrança maior da sociedade pra ver se aquilo não é só em datas específicas, se não é só por marketing”, conta Maite Scheider cofundadora da TransEmpregos.
Uma pesquisa realizada pela startup Blend Edu mostra que, entre as 45 maiores empresas do Brasil comprometidas com diversidade e inclusão, 88% fazem ações e campanhas para uma comunicação mais inclusiva interna e externamente. Porém, apenas 35% das companhias têm, de fato, programas para a formação de grupos de talentos diversos dentro da empresa.
“90% das empresas ainda estão falando muito em atração e só 10% falando em práticas efetivas de retenção de talentos diversos dentro das companhias”, afirma a consultora. “Uma coisa é ser porta de entrada, outra coisa é você fazer a manutenção desses talentos em termos de segurança psicológica, de incentivar essas pessoas em planos de carreira”.
Para Maite Scheider, é importante que as empresas entendam que diversidade e inclusão não é um ponto em que se chega, mas sim uma caminhada constante. “Tem que ser realmente um investimento da empresa para a gente criar esses lugares. Diversidade é um lugar de criar pontes nesses abismos que existem de tantas diferenças”, finaliza.