Daqui a dez anos, será possível colocar um etanol hipereficiente num carro com motor desenhado exclusivamente para etanol, que será produzido num canavial com sustentabilidade ambiental. Teremos um sistema sustentável numa cidade com baixa poluição. A projeção é do professor Marcos Silveira Buckeridge, do Instituto de Biociências (IB) da USP, que coordena o recém-criado Instituto Nacional de Biotecnologia para o Bioetanol (leia reportagem sobre os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia sediados na USP na edição nº 855 do Jornal da USP). O grupo reunirá pesquisadores de todo o país para estudar a produção de energia a partir de biomassa
“O Brasil já possui autossuficiência energética, mas precisa caminhar para a sustentabilidade”, ressalta o professor. Com um investimento inicial de R$ 7 milhões, o principal foco do instituto é estudar a cana-de-açúcar. A partir da cana se produz o açúcar (sacarose), transformado em etanol por meio da ação de leveduras. “Quando se faz isso, sobram o bagaço e a palha que fica no campo. Esses dois resíduos contêm açúcares na forma de celulose.
“Um dos objetivos do nosso instituto é transformar essa celulose num tipo de açúcar acessível para a levedura transformá-lo em etanol, chamado etanol celulósico”, explica Buckeridge. Atualmente, o bagaço é queimado para produzir eletricidade e tornar as usinas autossuficientes. Metade da palha que fica no campo é aproveitada como adubo e o resto é desperdiçado.
Outro foco do instituto é estudar como a cana-de-açúcar responde ao gás carbônico elevado, verificando a fotossíntese, o crescimento e outras condições em diversas variedades de cana que serão melhoradas em laboratório. De acordo com o professor, a produção existente hoje no Brasil está na chamada primeira geração de produção de etanol, na qual a partir da cana-de-açúcar é produzida a sacarose e depois o etanol.
No entanto, as pesquisas caminham para a segunda geração, em que novas variedades de cana produzirão mais bagaço e mais palha, ou seja, gerando mais açúcar (energia). Buckeridge ressalta também os estudos rumo a uma terceira geração, em que enzimas e fungos melhorados em laboratório completarão a digestão do bagaço e da palha da cana. Na quarta geração, a cana transformada geneticamente se autoamolece – amolece a própria celulose –, e um fungo (também transformado) fará o trabalho de hidrólise de uma maneira mais eficiente. “Nosso objetivo é baixar o custo e aumentar a eficiência dos processos”, enfatiza.
Integração
O instituto vai organizar e agregar todos esses trabalhos num projeto maior. Até aqui não havia uma conexão das pesquisas, mas cada pesquisador sabia o que o outro fazia e havia uma auto-orcomposição da parede celular com o objetivo de melhorar o desempenho na quebra dos açúcares; o Centro de Expressão Gênica, que estudará dados para produzir novas variedades de plantas modificadas geneticamente que consigam digerir sua própria parede celular como se fosse um fruto e preparar o sistema para ser digerido pelos fungos; e o Centro de Prospecção de Fungos e Desenvolvimento de Hidrólise Ácida, que estudará fungos que produzem as enzimas de fermentação da biomassa.
“Além dos centros, temos um programa de pesquisa em Bioenergia, o Bioen-Fapesp, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, do qual eu sou um dos fundadores e que possui R$ 20 milhões em investimentos na área de biomassa. O genoma da cana-de-açúcar está mapeado em parte e temos um projeto para mapeá-lo por inteiro, assim como o genoma humano”, observa o professor. Buckeridge ressalta ainda que um dos grandes objetivos do instituto é a divulgação, pois seus integrantes querem “explicar muito bem o que é pesquisa”. “Apesar de ligados ao governo, estamos abertos a outras fontes, inclusive privadas”, conclui.