Em São Paulo, no segundo dia de agenda no Brasil, o presidente francês Emmanuel Macron rejeitou o acordo entre União Europeia e Mercosul, e afirmou que as negociações, como estão hoje, são “péssimas” para o Brasil e para a França. Macron participou, na capital paulista, do Fórum Econômico Brasil-França, que aconteceu na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
No encerramento do encontro com empresários franceses e brasileiros, o presidente francês acrescentou que o acordo “não pode ser defendido” e indicou que o texto estaria obsoleto diante de desafios atuais:
— O acordo com o Mercosul tal qual está sendo negociado é péssimo para vocês (Brasil) e para a gente, também porque ele começou a ser negociado há vinte anos — afirmou Macron — Você tentar reanimar uma chama antiga não é a mesma coisa. É preciso reconstruir (o acordo).
Para o presidente francês, o texto precisaria ser redesenhado para estar alinhado com a emergência climática e as metas atuais de descarbonização dos países da Europa. Ele acrescentou que, da forma como está, a abertura comercial entre os blocos iria favorecer a entrada no mercado europeu de produtos de “preço baixo”, que iriam competir de forma desigual com industriais e agricultores que têm aplicado padrões de descarbonização.
— Esse acordo não pode ser defendido. Eu não defendo.— acrescentou. — Por favor, vamos deixar para trás um acordo de vinte anos e vamos nos concentrar em um novo acordo, um acordo responsável, com a biodiversidade no centro, e que permita a reciprocidade.
O Fórum contou com a presença do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin. Em discurso feito antes de Macron, Haddad afirmou que ainda há tempo para aprovação do acordo, que tem a França como um dos principais países que se opõem ao texto.
Apesar de deixar clara a rejeição ao acordo UE-Mercosul, o mandatário francês defendeu que Brasil e França fortaleçam seus laços comerciais e de investimentos, com “parcerias cruzadas” entre os dois países que sejam pautadas pelo objetivo comum de uma economia mais descarbonizada.
Macron pediu que as empresas brasileiras acreditam mais na França, com a vantagem de poderem ter, no país, uma porta de entrada para o mercado europeu. Ele ressaltou que os investimentos de empresas brasileiras na França não são menores do que o de franceses no Brasil.
— As empresas brasileiras deveriam acreditar mais na frança, e através da frança acreditar na Europa. Tenho certeza que temos uma agenda comum para ajudar a superar os grandes problemas que se devem às mudanças climáticas e que nos levam a fazer uma transição energética.
Na terça-feira, quando chegou ao Brasil, Macron e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinaram um acordo para investimento na economia da Amazônia. Os dois se reuniram em Belém, cidade que será sede da Conferência Mundial do Clima, a COP30.
O plano tem a meta de arrecadar 1 bilhão de euros (cerca de R$5,4 bilhões) para projetos na região, pelos próximos quatros anos e envolve uma parceria técnica entre o BNDES, o Banco de Desenvolvimento da Amazônia e a Agência Francesa de Desenvolvimento.
Em São Paulo, Macron também citou oportunidades para os dois países, durante a realização do G20, no Rio de Janeiro, este ano, e da COP30, no ano que vem. Segundo ele, apesar de fóruns diplomáticos, os encontros deveriam servir para incentivar investidores a se dirigirem para atividades de baixo carbono.
— A reorientação das finanças é indispensável e urgente.— disse, ao defender que fosse construída uma nova agenda de finanças internacionais, que tenha combate a desigualdade e descarbonização como foco.
Depois do evento na Fiesp, Macron foi para inauguração do Instituto Pasteur, na USP. Depois, ele se dirigiu para encontro com personalidades da cultura e do esporte, promovido pela Fundação Gol de Letra e com a presença do ex-jogador de futebol Raí de Souza Vieira.
A próxima e última parada de Macron no país é Brasília, onde ele será recebido com honras de chefe de Estado e participará de uma coletiva de imprensa ao lado do presidente Lula.
Fonte: O Globo