Notícia

A Cidade (Ribeirão Preto)

Nitrato de prata ajuda a tratar derrame

Publicado em 08 dezembro 2004

Por Valéria Dias
(Agência USP) - Um grupo de pesquisadores do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina (HC/FM) da USP obteve êxito no tratamento de derrame pleural usando uma quantidade mínima de nitrato de prata. A técnica já era usada em várias partes do mundo entre 1950 e 1960, mas foi abandonada nas décadas seguintes porque se usava uma alta concentração (de 1% a 10%) da substância, o que prejudicava o tecido pulmonar, pois o nitrato é muito corrosivo. "Ao reduzir a concentração de nitrato de prata para 0,5%, conseguimos controlar o derrame pleural em mais de 90 entre 100 casos analisados sem maior dano para o pulmão", conta o pneumologista do HC e professor da FM, Francisco Vargas. O professor explica que o nitrato de prata é uma substância fácil de ser encontrada. "Procurávamos um tratamento que fosse pouco agressivo e que pudesse ser feito em ambulatórios de qualquer lugar do mundo", conta. A doença, caracterizada pelo acúmulo excessivo de líquido na cavidade pleural - espaço entre as pleuras, que são membranas que revestem os pulmões e a parte interna do tórax - acomete frequentemente pacientes de câncer de pulmão e de mama, atingindo entre 40 e 50 mil pessoas por ano no Brasil. Quando não tratado, pode levar à morte por insuficiência respiratória. Acúmulo O acúmulo excessivo de água na cavidade pleural também pode ser tratado por meio de cirurgia (pleurodese clássica). Porém, para os pacientes já debilitados em razão do câncer, o nitrato de prata apresenta mais vantagens no controle da doença, como o fato de não ser necessário internar o doente para aplicar a substância. Talco Nas décadas de 70 e 80, médicos de todo o mundo passaram a usar talco para tratar derrame pleural. "Fizemos uma pesquisa comparativa com mais de cem pacientes tratados com nitrato de prata e os resultados foram idênticos aos que se obtém com talco, mostrando que as duas substâncias controlam a doença", conta o pneumologista. Apesar da eficácia do tratamento com talco, essa prática pode causar insuficiência respiratória em até 10% dos casos, "isso acontece provavelmente em razão do tamanho das partículas. Quando a solução com talco é injetada na cavidade pleural, as partículas menores podem ir para a circulação e desta para todo o organismo já nas primeiras 24 horas", explica. De acordo com Vargas, os estudos com as dosagens mínimas de nitrato de prata começaram há dez anos, nos Estados Unidos. O médico conta que há vários trabalhos publicados sobre o tema, cujas pesquisas tiveram apoio da Fapesp (Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo). Segundo o pneumologista, o nitrato de prata já voltou a ser usado cm outros países como Estados Unidos, Colômbia e Inglaterra. Entretanto, o tratamento para derrame pleural continua sendo feito com talco e as pesquisas realizadas no HC visam comparar a eficiência das duas substâncias.