Após quase meio século em atividade, o navio oceanográfico Professor Wladimir Besnard, o primeiro com bandeira brasileira a realizar uma expedição na Antártida, está prestes a ser doado ao governo uruguaio. Sem mais poder contribuir para as pesquisas da Universidade de São Paulo (USP), a embarcação, avariada por causa de um incêndio ocorrido há seis anos, permanece atracada no Porto de Santos e, consequentemente, gerando custos de manutenção à instituição, que passa por problemas financeiros.
De acordo com o Instituto Oceanográfico (IO) da USP, o processo de transferência ao país vizinho está em fase de aprovação pelas instâncias acadêmicas - que deverão apreciar o caso nos próximos meses. A possibilidade de doação, admitida na última semana, foi adiantada em maio de 2012 por A Tribuna, em uma reportagem sobre o futuro da embarcação. Discutia-se, desde 2010, levá-la para o Rio Amazonas ou fazer um afundamento controlado, para torná-la um recife artificial.
Atualmente, a USP dispõe de R$ 825 mil anuais para realizar a manutenção periódica das cinco embarcações que possui. Além do Prof. Besnard, outras duas Alpha Crucis e Alpha Delphini estão no cais santista, atracados entre os Armazéns 7 e 8. Estima-se que os cuidados com Alpha Crucis (com registro de 2012, com maior autonomia e capacidade) seja responsável por pelo menos um terço de todo o orçamento do setor até dezembro.
A centralização das atividades (aulas, operações e expedições) do instituto nas duas embarcações mais recentes e mais modernas a Delphinié de 2013 motivaram a decisão. Ambas são fruto de um investimento de quase R$ 30 milhões, em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
A doação permitiria, entre outras possibilidade, a reativação do navio, cuja permissão de navegar foi revogada pela Marinha do Brasil. A Autoridade Marítima baseia-se no incêndio, proveniente de um curto-circuito do ventilador de um dos camarotes da embarcação, capaz de receber 37 pessoas, sendo 15 pesquisadores e 22 tripulantes.
Incêndio
As chamas, que perduraram por 12 horas, consumiram parte do navio enquanto ele estava fundeado na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. Após uma tempestade, ele retornaria para Santos, após expedição no litoral fluminense.
Parte do dinheiro (R$ 2 milhões) que seria investido na reforma do Prof. Besnard (que já estava ultrapassado) e no reparo nos motores foi destinado à aquisição das duas novas embarcações, que continuam operando normalmente.
Pesquisas seguem
Reportagem de A Tribuna esteve no cais onde estão atracadas as embarcações da Universidade de São Paulo (USP), no Porto de Santos. Alpha Delphini e Alpha Crucis serão os únicos navios responsáveis pelas pesquisas acadêmicas.
O Professor W. Besnard (fabricado na Dinamarca), visivelmente, não recebe mais a manutenção necessária para continuar as atividades. Ele permanece com um marinheiro para garantir a sua segurança e com as ligações de água e energia elétrica conectadas ao atracadouro. Ferrugem e inúmeras avarias no casco, limo nos equipamentos e muita sujeira evidenciam a total inutilização.
Ao lado dele, o berço do Alpha Delphini, que estava em operação no mar, e o Alpha Crucis (comprado da Universidade do Havaí há dois anos). Atracado, recebia reparos de pintura e maquinário. Ambos têm, da Marinha, autorização para navegar. Este último, inclusive, será submetido neste semestre à Docagem (reparo quinquenal obrigatório).