A Fapesp e a Natura acabam de lançar o Centro de Pesquisa Aplicada em Bem-Estar e Comportamento Humano. Este será o maior núcleo científico do país voltado ao tema e terá como objetivo impulsionar as pesquisas na área, por meio da integração de diferentes linhas do conhecimento – como neurociência, psicologia social, psicologia positiva, ciências da saúde, humanas e sociais aplicadas.
A iniciativa reúne uma rede de pesquisadores multidisciplinares da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM). Sediado no Instituto de Psicologia da USP (IPUSP), o Centro é o primeiro na área de Humanidades criado a partir de um modelo de financiamento compartilhado entre uma empresa privada e uma agência pública de apoio à pesquisa.
O investimento total no projeto é de R$ 40 milhões ao longo de dez anos. São R$ 20 milhões para a implantação e condução das atividades do centro de pesquisa – divididos igualmente entre Natura e Fapesp –, e uma contrapartida equivalente da USP e das demais universidades, na forma de salários, infraestrutura e apoio institucional e administrativo aos pesquisadores envolvidos.
Cerca de 30 pesquisadores conectados em rede desenvolverão projetos cooperativos de pesquisa científica e tecnológica, articulando instituições de pesquisa do Brasil e do exterior, além da Natura. “O modelo escolhido para a implantação do centro está na vanguarda da inovação aberta. A iniciativa irá fortalecer o conhecimento científico para promover o bem-estar de nossos consumidores e da sociedade como um todo”, afirma Andrea Álvares, vice-presidente de marketing e inovação da Natura.
Para o diretor científico da Fapesp, Carlos Henrique de Brito Cruz, facilitar a interação entre universidades com grupos de pesquisa competitivos internacionalmente e empresas é essencial para o desenvolvimento científico e tecnológico do Estado de São Paulo, missão da Fundação. “A universidade ganha novos desafios para a pesquisa, e a empresa ganha pontos de contato estratégicos com a fronteira do conhecimento e com a formação de recursos humanos”, diz.
Coordenado por Emma Otta, professora titular do Departamento de Psicologia Experimental da USP, e por Patrícia Tobo, gerente científica de Ciências de Bem-Estar da Natura, o Centro tem como fundamento de suas pesquisas a neurociência e a psicologia, esta como produtora de conhecimentos científicos a partir do estudo do comportamento e suas causas. As pesquisas estarão concentradas em duas áreas principais: psicologia positiva e neurociência cognitiva.
A psicologia positiva tem seu foco no estudo e no desenvolvimento das qualidades humanas, como otimismo, resiliência, cultivo das emoções positivas e autoestima. Já a neurociência cognitiva estuda a atenção, a memória e a linguagem, além da regulação emocional e sua influência nas relações sociais, em questões como raça, gênero e condições sociais, entre outros fatores.
“O Centro tem uma característica inovadora, pelo fato de conciliar esses dois pilares: o da neurociência e o da psicologia, esta com ênfase na psicologia positiva e sua noção de bem-estar, incluindo as condições objetivas de vida, saúde, alimentação, habitação”, afirma Otta.
A Natura tem a promoção do bem-estar como sua razão de ser e pesquisa internamente o tema há mais de dez anos. A empresa estuda, por exemplo, como medir o impacto de produtos e determinadas ações no bem-estar das pessoas. “O Centro permitirá agregar uma dimensão ainda mais profunda desse conhecimento, ao mesmo tempo em que amplia nosso entendimento da população brasileira”, explica Gerson Pinto, vice-presidente de inovação da Natura.
Inicialmente, os pesquisadores do centro se articularão em torno de 11 projetos voltados ao desenvolvimento de indicadores de bem-estar, por meio de estudos sobre o reconhecimento e a regulação de emoções, assim como a influência do contexto familiar e da sociedade nas relações humanas. Temas ligados à indústria cosmética – como a maneira com que as fragrâncias e a maquiagem podem alterar o estado de ânimo e a autoestima das pessoas – também serão estudados.
De acordo com Otta, trata-se de um importante investimento em uma área do conhecimento que é multidisciplinar e pode trazer novas perspectivas para o desenvolvimento do bem-estar na sociedade. Para ampliar seu impacto, o Centro conta com coordenações dedicadas à transferência de tecnologia dos resultados gerados e a sua incorporação em ações de educação e difusão junto à sociedade.
Para a coordenadora do Centro, há um grande potencial de aplicação do conhecimento produzido por pesquisas em psicologia positiva nas áreas da educação, da saúde, do trabalho e das organizações, para o desenvolvimento das pessoas e da sociedade, podendo-se inclusive diminuir o custo econômico e social de doenças, na medida em que as pessoas aprendam a fazer escolhas que promovam o bem-estar e a saúde.