A recuperação de espermatozóides da cauda do epidídimo e sua criopreservação pode ser a última chance de preservação do material genético de garanhões, em caso de morte ou lesão grave que impossibilite a cobertura ou colheita de sêmen
Nasceu em janeiro deste ano, nas instalações da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Unesp, campus de Botucatu/SP, o primeiro potro gerado a partir de sêmen recuperado da cauda do epidídimo, relatado no Brasil.
O nascimento do animal, batizado de Paladino, aconteceu a partir do trabalho de pesquisa desenvolvido pelos pós-graduandos Gabriel Augusto Monteiro e Priscila Nascimento Guasti, sob a orientação do professor Frederico Ozanam Papa, do Departamento de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária da FMVZ e apoiado pela Fapesp.
O feito confirma a eficiência e a viabilidade da técnica de recuperação de espermatozóides da cauda do epidídimo e sua criopreservação. O procedimento representa um grande avanço biotecnológico com conseqüências econômicas importantes, pois a recuperação dos espermatozóides do epidídimo pode ser a última chance de preservação do material genético de garanhões, em caso de morte ou lesão grave que impossibilite a cobertura ou colheita de sêmen.
Além da grande incidência de mortes inesperadas na espécie equina, decorrentes de doenças gastrointestinais e hemorragias pulmonares em animais de corrida, acidentes traumáticos graves, processos obstrutivos ou distúrbios ejaculatórios podem terminar prematuramente a atividade reprodutiva de garanhões de alto valor genético por impossibilitar a colheita de sêmen ou a monta natural.
Ainda pouco utilizada, a recuperação de espermatozóides a partir do epidídimo pode ser uma ótima alternativa para a manutenção do germoplasma dos garanhões mortos ou com a capacidade reprodutiva comprometida. O epidídimo é um órgão que armazena os espermatozóides produzidos pelo testículo. Quando o espermatozóide sai do testículo ele possui características estruturais muito próximas do produto final, mas ele sofre algumas alterações, relativas à maturação e integração de proteínas que lhe darão maior capacidade de fecundar, explica Gabriel Monteiro. Portanto, o sêmen armazenado na cauda (parte final) do epidídimo já apresenta capacidade fecundante.
O estudo realizado recentemente por Gabriel Monteiro demonstrou que os espermatozóides colhidos do epidídimo apresentam características espermáticas e capacidade fecundante igual ou melhor do que os espermatozóides colhidos com vagina artificial. Neste estudo foram inseminadas 26 éguas com espermatozóides do epidídimo das quais 20 ficaram prenhes e por serem de animais utilizados em projetos de pesquisa, apenas uma delas, também a título de experimento, completou o período gestacional, possibilitando o nascimento do potro.
Em 1957, a primeira prenhez relatada utilizando espermatozóides congelados na espécie equina foi feita com inseminação de espermatozóides da cauda do epidídimo. No entanto, apesar de comprovada a fertilidade desses espermatozóides, os estudos envolvendo eqüinos se limitaram ao longo dos anos à preservação de sêmen do ejaculado. Somente nos últimos anos, alguns pesquisadores intensificaram os estudos de recuperação e preservação de espermatozóides viáveis da cauda do epidídimo. Esse empenho se deveu ao crescente interesse na preservação de espécies ameaçadas de extinção e preservação de células espermáticas de animais de produção de alto valor genético afirma Gabriel.
Segundo ele, a técnica possibilita uma alternativa interessante para os produtores interessados em reduzir os prejuízos com a perda da capacidade reprodutiva destes animais. É a última forma de recuperação de células espermáticas de animais que forem a óbito, salienta. No entanto, mais pesquisas devem ser feitas, priorizando o melhor aproveitamento destes espermatozóides.