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Diário Catarinense online

Nas profundezas da compulsão (1 notícias)

Publicado em 04 de maio de 2013

Por Marcela Ulhoa

Lavar as mãos o tempo todo, escovar os dentes incansavelmente, contar azulejos a cada passo, ser tomado pela mania de limpeza e de organização, ou desenvolver o vício de colecionar todos os tipos de objetos podem ser rituais indicativos do transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Os portadores do distúrbio são acometidos por um padrão de pensamentos e comportamentos repetitivos, sem sentido lógico, desagradáveis e extremamente difíceis de evitar.

"O TOC é um transtorno subdiagnosticado porque as pessoas têm vergonha de procurar ajuda ou não reconhecem a patologia", explica Marcelo Queiroz Hoexter, do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP).

Em um esforço inédito para a psiquiatria, especialistas em TOC integrantes do Consórcio Brasileiro de Pesquisa em Transtornos do Espectro Obsessivo-Compulsivo (C-TOC) reuniram a maior amostra de pacientes com o distúrbio já realizada no mundo. O levantamento envolve entrevistas minuciosas de duração média de quatro horas, feitas com 1.001 pessoas com TOC e atendidas em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Pernambuco, na Bahia e no Rio Grande do Sul.

O intuito é compreender melhor a origem do problema e desenvolver formas de tratamento cada vez mais eficazes. Os resultados iniciais foram publicados na última edição da revista Fapesp.

A partir da análise das informações, os pesquisadores constataram que o TOC raramente aparece sozinho. Segundo a pesquisa, só 8% das pessoas estudadas apresentam exclusivamente sintomas de obsessão e compulsão. Na maioria, o problema surge acompanhado de pelo menos um distúrbio psiquiátrico ao longo da vida.

O mais recorrente foi a depressão, aparecendo em 68% dos participantes. Em segundo lugar, apareceram os transtornos de ansiedade, acometendo 63% dos pacientes. E quase 35% apresentavam sinais de fobia social.

Segundo Marcelo Queiroz Hoexter, um dos pesquisadores do C-TOC, as comorbidades já eram conhecidas, mas essa foi a primeira vez que foi realizado um levantamento extenso a respeito. As constatações dão valiosas pistas do por que nem sempre os tratamentos funcionam em casos mais graves. Os dois tratamentos internacionalmente recomendados são terapia e o uso de antidepressivos.

Correio Braziliense