Notícia

Exame

“Não dá para industrializar a inovação” (1 notícias)

Publicado em 17 de abril de 2013

Por João Werner Grando

SETE PERGUNTAS para MONCEF SLAOUI

NOS ÚLTIMOS ANOS, O SETOR FARMACÊUTICO FOI INCAPAZ DE LANÇAR REMÉDIOS campeões de vendas no ritmo das décadas passadas. Para piorar, até 2015, medicamentos que vendem o equivalente a 170 bilhões de dólares por ano poderão ser comercializados como genéricos. Como fazer com que a indústria farmacêutica, um dos negócios mais lucrativos do século passado, continue assim? Em 2006, a GlaxoSmithKline, sexta maior farmacêutica do mundo, convocou o imunologista marroquino Moncef Slaoui para tentar encontrar a resposta. Slaoui, chefe global de pesquisa e desenvolvimento da empresa, falou a EXAME.

1) Por que se tornou difícil inovar na indústria farmacêutica?

Os remédios para doenças que atingem um grande número de pessoas já foram descobertos. O cenário mudou, mas parte da indústria ainda não se deu conta. Gasta dezenas de bilhões de dólares por ano em grandes centros de pesquisa e espera criar uma droga revolucionária, como se a inovação pudesse ser feita num processo industrial.

2) Por que essa fórmula deixou de dar certo?

Porque dessa forma não somos mais produtivos. Não adianta dedicar um percentual fixo do faturamento à pesquisa sem saber se há boas ideias. É preciso identificar as oportunidades e acompanhá-las caso a caso, como fazem as pequenas empresas de biotecnologia.

3) Por que a maioria das empresas farmacêuticas não adota essa estratégia?

As empresas seguem os velhos processos. As estruturas se tomaram tão grandes que os cientistas se sentem incapazes de propor um jeito novo de investir em inovação.  

4) Como o senhor está tentando mudar essa cultura na GlaxoSmithKline?

Há cinco anos, dividimos a área de pesquisa e desenvolvimento em pequenos grupos, com até 50 cientistas. Fazemos um investimento inicial e, a cada três anos, o projeto tem de passar por uma banca de avaliação para seguir adiante.

5) Por que esse sistema é um avanço em relação ao anterior?

Esse modelo está mais próximo do que é empreender e arriscar. Em 2011, fizemos a primeira avaliação dos grupos. De 40, fechamos oito, que julgamos não ter avançado. Abrimos outros 12, que apresentaram ideias com potencial.

6) Os resultados das pesquisas na GlaxoSmithKline melhoraram?

Para medir isso, cabe uma comparação. Em 2006, o orçamento de pesquisa e desenvolvimento era de 5 bilhões de dólares. Havia seis medicamentos na fase final de testes, dos quais quatro falharam. Agora, temos 19 drogas na fase final e nosso orçamento equivale a dois terços do que era. As parcerias com laboratórios menores têm sido cruciais para que tenhamos esse resultado.

7) A empresa mantém parcerias com laboratórios instalados no Brasil?

Trabalhamos com a Fiocruz, no Rio de Janeiro, para criar vacinas e estamos no terceiro ano de um programa para financiar pesquisadores em parceria com a Fapesp e o CNPQ. O Brasil progrediu, mas precisa avançar mais. O sistema regulatório é demorado e pouco previsível. Se não sabemos quando teremos aprovações nem do que elas dependem, não iremos incluir o Brasil em mais programas.