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Não basta malhar e "fechar a boca" para livrar adolescente obeso da síndrome metabólica (1 notícias)

Publicado em 02 de fevereiro de 2009

Apoio psicológico foi considerado importante para adesão ao tratamento.

 

Durante 12 meses de terapia multidisciplinar, 83 adolescentes obesos entre 15 e 19 anos praticaram exercício físico aeróbio orientado e receberam suporte clínico, nutricional e psicológico para controle da Síndrome Metabólica (SM), associação de fatores como aumento da pressão arterial, da resistência insulínica e dislipidemia.

Os resultados começaram a surgir logo nos seis primeiros meses e, ao fim de um ano de terapia multidisciplinar, a prevalência da SM no grupo caiu de 27,16% para 8,3%.

No estudo, apresentado como tese de doutorado em Nutrição, na Unifesp, pela professora de educação física Danielle Caranti, foi comprovada a eficácia da abordagem multiprofissional e inter-profissional, com médico endocrinologista, psicólogos, professores de educação física e nutricionistas estimulando os adolescentes a mudar seu estilo de vida, a partir de um trabalho de valorização da auto-estima, socialização, reeducação alimentar, prática de exercícios físicos aeróbios em bicicleta ergométrica e esteira três vezes por semana (1h/dia) e reuniões com familiares ao final da terapia.

A Síndrome Metabólica (SM) é considerada uma das mais graves doenças emergentes, desencadeando riscos para diabetes, problemas coronarianos e acidente vascular cerebral (AVC). Caracterizada por um quadro que congrega pressão arterial elevada, dislipidemia (índices alterados de colesterol e triglicérides), resistência à produção de insulina e aumento da gordura visceral. A SM já atinge aproximadamente 27,16% dos adolescentes obesos no país, contribuindo para isso os hábitos alimentares inadequados, como o abuso de fast food, e o sedentarismo.

Vergonha e adesão

Segundo a pesquisadora Danielle Caranti, apenas a introdução dos exercícios e da orientação nutricional não seria suficiente para gerar efeitos duradouros, principalmente relacionados à questão psicológica. Por isso a relevância da multidisciplinaridade. Isto porque a adesão ao tratamento do adolescente obeso costuma ser prejudicada por baixa auto-estima e distúrbios de imagem corporal. “O adolescente obeso tende a sentir vergonha, por isso o apoio psicológico é essencial. Ao longo do tratamento multidisciplinar, ele não é excluído, está em um ambiente que o acolhe e valoriza, mas ao mesmo tempo há um trabalho no sentido da socialização, para não deixar que se isolem”.

Uma das conclusões da pesquisa é que as meninas não apresentam respostas tão expressivas quanto os meninos, que eram acometidos inicialmente em um estágio mais preocupante. Demonstrou também que a terapia multidisciplinar de longo prazo apresentou uma resposta que melhorava à medida que se prolongava o tempo de adesão, com efeitos benéficos no controle da Síndrome Metabólica em adolescentes obesos.

O programa não estabeleceu metas inatingíveis para a perda de peso, mas uma expectativa realista – partindo-se de uma adesão completa ao tratamento – estimando redução de 0,5 kg a 1,5 kg por semana. “O peso e a estética não são os objetivos principais, mas sim tornar o adolescente mais disposto, motivado, saudável e sem complicações, com integração efetiva à sociedade, já que a obesidade é uma doença multifatorial desencadeada principalmente devido ao estilo de vida”.

O trabalho foi financiado com recursos das agências de fomento Fapesp, Capes e CNPq

Saúde pública

Para a autora do estudo, publicado recentemente na revista Metabolism Clinical and Experimental, implantar atendimentos desse tipo como programa de saúde pública é viável, incorporando os professores de educação física do ensino regular a projetos de assistência ambulatorial e orientação de mudança de estilo de vida dentro das escolas, além de integrar o próprio profissional de educação física no âmbito hospitalar.

“Na Itália, onde realizei parte do estudo de doutorado, e em alguns outros países da Europa, já existem centros hospitalares especializados no combate à Síndrome Metabólica e Obesidade Clínica que utilizam a multidisciplinaridade como estratégia de tratamento não farmacológico”, conta Danielle Caranti.

Em outro estudo publicado pela pesquisadora no International Journal of Clinical Practice. a prevalência da Síndrome Metabólica foi expressiva no Brasil e na Itália, sendo que 34,8% dos meninos brasileiros – em comparação a 23,6% dos meninos italianos – apresentavam a SM. O mesmo foi demonstrado na avaliação das meninas: presença da SM em 15,6% das brasileiras e 12,5% das italianas.

Alerta e prevenção

Na opinião da nutricionista e docente da Unifesp, Ana Raimunda Damaso, orientadora do doutorado, estudos como este são importantes não somente por seus resultados, mas também para alertar a população sobre os riscos do descuido com a dieta dos jovens, que se transformam em sérios candidatos a problemas como diabetes, colesterol alto e doenças cardíacas graves.

Ainda segundo Ana Damaso, é preciso criar estratégias de prevenção e tratamento precoces, para que os jovens de hoje não se tornem adultos com sérios problemas de saúde. “O descuido com a alimentação acontece em todas as classes sociais. A classe mais pobre, por recorrer a carboidratos, que são alimentos mais baratos. E os ricos, porque não sabem escolher produtos com qualidade nutricional”.

Danielle Caranti alerta, entretanto, que o tratamento só tem bom resultado quando a vontade de emagrecer é do próprio jovem. “O adolescente tem que estar disposto a emagrecer. Sair do processo de contemplação para superar as dificuldades e se integrar ao programa multidisciplinar”, comenta.