Pesquisadores do Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica (CEPOF) – um CEPID da FAPESP alocado no Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP) -, em parceria com o Departamento de Morfologia e Patologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e com o Núcleo Integrado de Laser em Odontologia (NILO), de Ribeirão Preto (SP), concluíram recentemente uma pesquisa que tem o objetivo de combater a acne – tipos 1 e 2, menos severas – substituindo os tratamentos convencionais pela introdução de terapia fotodinâmica.
Esta nova abordagem inclui a utilização de curcumina como elemento fotosensibilizador e a aplicação de laser com luz azul, um método que foi desenvolvido no programa de mestrado em biotecnologia na UFSCar, em colaboração com o IFSC/USP. A pesquisadora Gabriely Simão, primeira autora do estudo que foi publicado na revista “Aesthetic Orofacial Science”, é formada em odontologia pela UNICEP, com orientação do Prof. Clóvis Wesley Oliveira de Souza, docente do Departamento de Morfologia e Patologia da UFSCar e orientador no Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia, e pesquisador colaborador no CEPOF, e da Profª Rosane de Fátima Zanirato Lizarelli (NILO).
A acne
Muito comum, a acne é o nome dado a espinhas e cravos que surgem devido a um processo inflamatório das glândulas sebáceas e dos folículos pilossebáceos, sendo muito frequente na fase da adolescência, sem deixar de ser comum também em adultos, principalmente em mulheres. Além do incômodo das lesões, como na adolescência a aparência é um fator importante, o comprometimento estético determinado por alterações da pele pode atingir o lado psicológico e tornar o adolescente – ou o adulto – inseguro, tímido, deprimido, infeliz, com rebaixamento da autoestima e com consequências sérias que podem persistir pelo resto da vida.
Os tratamentos convencionais de combate à acne incluem aplicações de cremes antibióticos na pele, principalmente o Roacutan, ou ainda a ingestão de medicamentos orais que têm a tendência de provocar efeitos colaterais. “A aplicação da terapia fotodinâmica com a utilização de curcumina e de laser luz azul comprovou nos estudos laboratoriais realizados por Gabriely a eficácia no combate à acne tipos 1 e 2, ou seja, no início da doença, e a possibilidade dessa técnica substituir os tratamentos convencionais com maior segurança e bem-estar para os pacientes, além de ser um procedimento menos invasivo e de baixo custo”, relata a pesquisadora.
Esta pesquisa, traduzida em um caso clínico, incluiu a colaboração de várias dezenas de pessoas com acne (tipos 1 e 2), sendo que os resultados alcançados deram origem agora a uma chamada de pacientes com essa doença para avançar com o novo tratamento. Esta chamada é dedicada apenas a pessoas com idades compreendidas entre os 25 e 35 anos, de ambos os sexos. “Para pacientes mulheres, há algumas restrições para participarem nesta chamada, como, por exemplo, não estarem grávidas, amamentando, fazendo uso de contraceptivos, de hormônios, enfim, de medicamentos tópicos e sistêmicos. Quanto à participação de homens, eles também não poderão estar tomando hormônios”, adverte a pesquisadora. Este tratamento irá ocorrer na Unidade de Terapia Fotodinâmica (UTF) da Santa Casa da Misericórdia de São Carlos (SCMSC) e compreenderá a realização de 16 sessões em cada paciente, ao longo de 60 dias.
Para o Prof. Clóvis Wesley Oliveira de Souza “A curcumina é um fotosensibilizador. Então, quando existe uma interação entre a luz azul e a curcumina, na presença do oxigênio, essa interação vai produzir espécies reativas de oxigênio, como oxigênio cingleto e os íons hidróxido, e aí ocorre um efeito nas bactérias, que acabam por morrer. Também existe um procedimento que utiliza a luz azul diretamente no tratamento da acne, sem o fotosensibilizador, porque ele também tem uma alta energia e pode igualmente ativar alguns componentes das células bacterianas, causando-lhes igualmente a morte. Só que nesta pesquisa, o grande efeito foi combinar tudo, ou seja, utilizar a terapia fotodinâmica, atendendo a que a curcumina é um antioxidante, anti-inflamatório de baixo custo, e a luz azul é antibacteriana”, explica o docente.
Focada em introduzir seus conhecimentos em clínicas de estética, atendendo a que esta pesquisa foi já aprovada pelo Comitê de Ética, a pesquisadora Gabriely Simão acredita que, se tudo correr bem, em cerca de seis meses este protocolo poderá estar disponível, até porque o equipamento dedicado à emissão de luz azul também já está disponível no mercado.
Além de Gabriely Simão e do Prof. Clóvis Wesley Oliveira de Souza, assinam esta pesquisa a Profª Rosane de Fátima Zanirato Lizarelli e a Drª Fernanda Mansano Carbinatto.