Em reunião na Fiesp, o novo presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), José Goldemberg, afirmou que o órgão que dirige “recebeu uma injeção de adrenalina” para ter papel mais atuante no incentivo à inovação. Goldemberg disse no evento – do Conselho Superior de Inovação e Competitividade (Conic) – que queria ouvir empresários. E ouviu. Os empresários e representantes de outras entidades fizeram sugestões, questionamentos e cobranças.
Goldemberg ouviu de Rodrigo Costa da Rocha Loures, presidente do Conic, que os programas da Fapesp para startups (Pipe) e para grandes empresas (Pite) são igualmente importantes e devem ser articulados. O Conic, explicou Loures, aposta no fomento ao empreendedorismo de classe mundial, para o que há a disposição, mas é preciso haver um ambiente propício.
Do conselheiro Flavio Grynzpan, Goldemberg ouviu que para as empresas seria bom que a Fapesp mudasse sua interpretação sobre o que pode receber recursos, passando a aceitar a inovação empresarial propriamente dita, e não apenas a pesquisa. Goldemberg lhe pediu um breve relato escrito sobre esse conceito de inovação.
De Wilson Nobre, da Fundação Getúlio Vargas, Goldemberg ouviu que é preciso estimular o ecossistema para o desenvolvimento de startups, que, diferentemente de grandes empresas, funcionam à base de muitas conexões fracas. É preciso, explicou, enxergar todos os elementos desses ecossistemas, caracterizados por várias startups testando muitas ideias de baixo custo. Goldemberg perguntou como fazer isso, e Nobre disse que isso acontece quando há uma cultura da sociedade como um todo, com as relações sociais levando a múltiplas conexões.
De José Ricardo Roriz Coelho, diretor titular do Departamento de Competitividade e Tecnologia (Decomtec) da Fiesp e vice-presidente do Conic, Goldemberg ouviu que 65% do investimento em pesquisa e desenvolvimento no Brasil vem do setor industrial, mesmo com a queda de sua participação no PIB. E a pergunta sobre como reverter esse processo de perda. Ouviu também que houve queda de 14% dos recursos da Fapesp de 2009 para 2104, e que o programa Pite fica com apenas 0,6% do orçamento da fundação. Segundo Goldemberg, a baixa demanda é responsável pelo orçamento baixo. O presidente da Fapesp sugeriu aos representantes de universidades presentes que enviassem a suas comunidades uma explicação sobre os recursos para empreendedorismo disponíveis.
De Fernando Landgraf, do IPT, Goldemberg ouviu que seria bom a Fapesp estudar o caso da Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial), que tem tido “enorme crescimento da demanda” por recursos – possivelmente em razão da agilidade na aprovação de projetos.
Goldemberg ouviu também de Loures que foi excelente sua participação na reunião do Conic. Prevista para 40 minutos, estendeu-se por cerca de uma hora e meia, tamanho o interesse da plateia e da mesa no tema.
Bioeconomia
Loures defendeu na reunião a criação de grandes parques tecnológicos na Grande São Paulo – um deles ligado à Saúde, no eixo Paulista/Dr. Arnaldo, pela concentração de hospitais e entidades de ensino de medicina. Em sua opinião, há lugar para 4 ou 5 ecossistemas. “Coisas poderosíssimas acontecem espontaneamente em São Paulo”, disse. Dando o exemplo de Nova York, que já rivaliza com o Vale do Silício em ambiente propício ao empreendedorismo, afirmou que é preciso acelerar o processo de criação desses ecossistemas.
A reunião do Conic teve também a participação de Monica Rosina, professora da FGV Direito São Paulo e coordenadora do Grupo de Estudo e Pesquisa em Inovação, que apresentou junto com Alexandre Pacheco da Silva, coordenador executivo do Laboratório de Empresas Nascentes de Tecnologia, o trabalho feito na instituição para criar uma nova mentalidade no direito, para formar advogados voltados ao empreendedorismo, como contraponto ao advogado que sempre diz “não” a quem quer empreender.
José Borges Frias, Head of Strategy, Market Intelligence & Business Excellence da Siemens, falou sobre a Indústria 4.0, plataforma criada na Alemanha para ser um grande programa que leve a indústria do país a dar um salto de competitividade e ser capaz de fazer frente ao que acontece no mundo. Lembrou que a Alemanha manteve localmente seu núcleo industrial e tem se saído bem. Segundo o especialista, o Brasil também pode dar este salto, cuidando de gestão e oferecendo ambiente jurídico, regulatório, mais propício. Foi convidado a voltar à Fiesp para uma exposição alongada sobre a Indústria 4.0.