A Rede de Mudanças Climáticas e Ambientais do Pará: Uma Perspectiva de Estudos Integrados reúne diversas instituições de referência na área de estudos climáticos e ambientais e é Coordenada pela Universidade Federal do Pará (UFPA). O Museu Paraense Emílio Goeldi (Mpeg/MCT) integra a Rede coordenando pesquisas sobre biodiversidade, usos da terra e desflorestamento.
O projeto de implantação da Rede do Pará, previsto para o período de janeiro de 2010 a janeiro de 2013, foi recentemente aprovado no Edital 14/2009, que está vinculado ao Programa de Apoio a Núcleos de Excelência (Pronex/Fapesp/CNPq). O foco são pesquisas multidisciplinares que, dentre outros objetivos, visam o desenvolvimento de modelagem climática em alta resolução para melhorar a previsão de eventos extremos no domínio do Pará.
Outros objetivos da Rede versam sobre o desenvolvimento de estudos de impactos naturais e antrópicos, vulnerabilidades, dimensões humanas e respostas biológicas, econômicas e sociais ligados às mudanças climáticas e ambientais na Amazônia, além de gerar subsídios à formulação de políticas públicas, visando, em particular, o desenvolvimento do estado.
As articulações da Rede congregam no Pará, além da UFPA (com as faculdades de Meteorologia e de Geologia, com seus respectivos cursos de pós-graduação: Ciências Ambientais e Geologia e Geoquímica) e do Museu Goeldi (Coordenação de Ciências da Terra e Ecologia, curso de Mestrado em Botânica Tropical), a Universidade Estadual do Pará (Uepa), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária da Amazônia Oriental (Embrapa).
Mas, a Rede também contará com especialistas da Universidade de São Paulo (USP), por meio do departamento de Meteorologia do Instituto Astronômico e Geofísico (IAG) e do Centro de Energia Nuclear Aplicada à Agricultura, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe/MCT), da Universidade Estadual do Amazonas (UEA), do Instituto de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS), da Universidade Federal Fluminense (UFF) pelo depatartamento de Biologia Marinha, e de físicos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Museu Goeldi
Para o funcionamento eficaz da Rede, há a subdivisão dos trabalhos em 11 subprojetos, dos quais, três são coordenados por pesquisadores do MPEG: Proxies biológicos e biogeoquímicos para a interpretação das variações climáticas holocênicas de curto e longo período na região costeira amazônica, coordenado por Cristina Senna, especialista em palinologia; Efeitos da variação sazonal de curta duração sobre o desenvolvimento de manguezais e áreas ecótonas da costa paraense: o exemplo da Ilha de Itarana, sob a coordenação de Maria de Lourdes Ruivo, especialista em pedologia; e Impactos do estresse hídrico artificial do Projeto Esecaflor na estrutura, riqueza e composição de espécies de plantas do sub-bosque da floresta de terra firme na Amazônia brasileira, coordenado pelo ecólogo Leandro Valle Ferreira que, assim como Cristina e Lourdes, está vinculado a Coordenação de Ciências da Terra e Ecologia (CCTE/MPEG).
Proxies biológicos
Este subprojeto, coordenado por Cristina Senna, pretende elucidar os padrões relativos a variabilidade climática que afetaram a planície costeira do município de Quatipuru, Costa Atlântica do Salgado Paraense ao longo do Holoceno (iniciado há cerca de 11.500 anos e que se estende até o presente) e no passado mais recente (últimos 100 anos).
Com isso, busca-se conhecer as mudanças paleoambientais, paleohidrológicas e paleoclimáticas de curto e longo período no estuário amazônico durante o Holoceno, por meio do estudo de pólen e diatomáceas e da composição elementar e isotópica em águas e sedimentos. A relevância da proposta baseia-se na ausência de estudos desta natureza em ambientes estuarinos mundiais, particularmente no estuário amazônico, contribuindo com a montagem de modelos de predição ambiental para o futuro.
Uso da Terra na área costeira
A equipe liderada por Lourdes Ruivo vai desenvolver pesquisas que esmiúcem os efeitos do clima em manguezais e áreas de transição entre dois biomas na costa amazônica, desenvolvendo um estudo de caso na Ilha de Itarana, um ambiente costeiro preservado localizado no município de São João de Pirabas (PA). Além disso, os especialistas tentam demonstrar, que nesse setor costeiro, dominado por macro marés, com altos índices pluviométricos e estiagem característica, os efeitos da sazonalidade climática, embora curtos, são marcantes sobre a composição química das águas superficiais, intersticiais e dos sedimentos, com reflexos sobre o desenvolvimento da vegetação e de sua função ecológica.
Uso da Terra e desflorestamento
Centrado na ideia de que o efeito estufa resulta em alterações climáticas que impõem mudanças nos fluxos de água, energia, carbono, ciclagem de nutrientes e na composição da atmosfera, o sub-projeto Impactos do estresse hídrico artificial do Projeto Esecaflor, liderado por Leandro Ferreira, com o apoio de Samuel Almeida (Coordenação de Botânica do MPEG) e Antonio Lola (UFPA), objetiva determinar a variação nos padrões de estrutura florística e herbivoria (hábito alimentar dos seres vivos que consiste no consumo de tecidos vegetais não lenhosos) em plantas da floresta de terra firme da Estação Cientifica Ferreira Penna. O experimento Esecaflor submete um determinado trecho da floresta a um estresse hídrico artificial e os dados obtidos dessa área são comparados à outra área controle, que mantém o funcionamento natural.