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Musculação protege o cérebro de idosos contra demência, sugere estudo (62 notícias)

Publicado em 10 de março de 2025

Os benefícios da musculação são amplos: promove o proveito de força e tamanho muscular, diminui a gordura corporal, contribui para o bem-estar e a saúde mental. E agora um estudo feito na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) comprovou outro efeito importante: protege o cérebro de idosos contra demências. Os resultados foram divulgados na revista GeroScience.

A pesquisa envolveu 44 pessoas com comprometimento cognitivo ligeiro – exigência clínica intermediária entre o envelhecimento normal e a doença de Alzheimer, na qual há uma perda cognitiva em extensão maior do que a esperada para a idade, indicando maior risco de demência. Os resultados revelam que o treino de força não só foi capaz de melhorar o desempenho da memória uma vez que também de mudar a anatomia cerebral.

Em seguida seis meses praticando musculação duas vezes por semana, os participantes apresentaram proteção contra atrofia no hipocampo e pré-cúneo – áreas cerebrais associadas à doença de Alzheimer –, além de melhoras nos parâmetros que refletem a saúde dos neurônios (integridade da substância branca).

“Que haveria melhora da segmento física a gente já sabia. A melhora cognitiva também já era imaginada, mas queríamos ver o efeito da musculação dentro do cérebro de idosos com comprometimento cognitivo ligeiro. O estudo mostrou que, felizmente, a musculação é uma potente aliada contra demências, mesmo para pessoas que já apresentam risco ressaltado de desenvolvê-las”, afirma Isadora Ribeiro, bolsista de doutorado da FAPESP na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp e primeira autora do cláusula.

O trabalho foi orientado no contextura do Instituto de Pesquisa sobre Neurociências e Neurotecnologia (BRAINN) – um Núcleo de Pesquisa, Inovação e Espalhamento (CEPID) da FAPESP – e é o primeiro a provar o que acontece com a integridade da substância branca de indivíduos com comprometimento cognitivo ligeiro em seguida a prática de musculação.

“Além de testes neuropsicológicos, realizamos exames de sonância magnética no início e no final do estudo. São resultados muito importantes por indicarem a urgência de, no nível da atenção básica de saúde, incluir mais educadores físicos no sistema público, já que o aumento da força muscular está associado à subtracção do risco de demência. É um tratamento menos multíplice e mais barato capaz de proteger as pessoas de doenças graves”, comenta Marcio Balthazar, pesquisador do BRAINN e orientador do estudo.

“Por exemplo, as novas drogas antiamiloide aprovadas nos Estados Unidos, indicadas para o tratamento de demências e para pessoas com comprometimento cognitivo ligeiro, custam tapume de US$ 30 milénio por ano [cerca de R$ 173 mil]. É um dispêndio muito basta. Essas medidas não farmacológicas, uma vez que mostramos ser o caso da musculação, são eficazes, atuando não só na prevenção de demência uma vez que na melhora de quadros de comprometimento cognitivo ligeiro”, completa o pesquisador.

Protocolo

Os participantes da pesquisa foram divididos em dois grupos: metade cumpriu um programa de treinamento resistido com sessões de musculação duas vezes por semana, intensidade de moderada a subida e com progressão da trouxa. Os demais não realizaram o treino durante o período do estudo e integraram o chamado grupo-controle.

Nas análises feitas ao final da mediação, os voluntários que praticaram musculação tiveram melhor desempenho na memória episódica verbal, melhora na integridade dos neurônios e áreas relacionadas à doença de Alzheimer protegidas contra atrofia, ao passo que o grupo-controle apresentou piora nos parâmetros cerebrais.

“Uma particularidade das pessoas com comprometimento cognitivo ligeiro é que elas têm uma subtracção do volume em algumas regiões cerebrais relacionadas ao desenvolvimento do Alzheimer. Porém, o grupo submetido ao treinamento de força teve o lado recta do hipocampo e do pré-cúneo protegido contra atrofia. Trata-se de um resultado que justifica a preço da prática regular de musculação, sobretudo para pessoas idosas”, ressalta Ribeiro.

A pesquisadora acredita na possibilidade de que um período mais longo de treinamento promova resultados ainda mais positivos que os relatados no estudo. “Todos os indivíduos do grupo que praticou musculação apresentaram melhoras de memória e na anatomia cerebral. No entanto, cinco deles chegaram ao final do estudo sem o diagnóstico galeno de comprometimento cognitivo ligeiro, tamanha foi a melhora. Isso nos leva a imaginar que treinamentos mais prolongados, de três anos, por exemplo, possam virar esse diagnóstico ou atrasar qualquer tipo de progressão da demência. Sem incerteza é um pouco que traz esperanças e que precisa ser investigado futuramente”, defende Ribeiro.

De entendimento com os pesquisadores, a musculação pode proteger o cérebro contra demências a partir de duas frentes: estimulando a produção do fator de desenvolvimento neural (proteína importante para o desenvolvimento, manutenção e sobrevivência de neurônios) e promovendo a desinflamação global do organização.

“Sabe-se que qualquer treino físico, seja musculação ou atividade aeróbia, aumenta os níveis de uma substância química envolvida no desenvolvimento das células cerebrais. Aliás, também pode mobilizar células T anti-inflamatórias. Isso é mediano. Finalmente, quanto mais proteína pró-inflamatória é liberada no organização, maior a chance de desenvolver demência, de açodar o processo neurodegenerativo e de formar proteínas disfuncionais que acabam matando os neurônios”, explica Balthazar.

Para julgar essas questões foram medidos nos voluntários, entre outros fatores, os níveis de irisina e de BDNF (fator neurotrófico derivado do cérebro) – substâncias cuja síntese é estimulada pela contração muscular e que estão relacionadas à proteção neural e à plasticidade sináptica. Os resultados ainda estão sob estudo.

“Trata-se de uma prolongação deste estudo, na qual vamos buscar entender melhor uma vez que esses fatores estão relacionados às alterações de anatomia cerebral. Acreditamos que seja um conjunto de fatores anti-inflamatórios e neuroprotetores que levam a essas mudanças”, adianta Ribeiro.