Pesquisa brasileira comprova que prática regular de musculação preserva áreas cerebrais afetadas pelo Alzheimer.
Um estudo inédito realizado pelo Instituto de Pesquisa sobre Neurociências e Neurotecnologia (Brainn), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), revelou que a musculação pode ter um papel fundamental na proteção do cérebro de idosos contra demências. A pesquisa, publicada na revista GeroScience , acompanhou 44 pessoas com comprometimento cognitivo leve e concluiu que a prática regular de musculação preserva regiões cerebrais essenciais para a memória.
A pesquisa analisou voluntários que já apresentavam um quadro de comprometimento cognitivo leve, estágio intermediário entre o envelhecimento normal e o Alzheimer. Os participantes que praticaram musculação duas vezes por semana, com intensidade moderada ou alta, demonstraram preservação do hipocampo e do pré-cúneo, áreas do cérebro geralmente afetadas pelo avanço da doença.
Além disso, os pesquisadores identificaram outro benefício inédito: a melhora da substância branca, responsável pela comunicação entre os neurônios. Após seis meses de treinos, metade dos participantes apresentou ganhos significativos na saúde cerebral, e cinco deles chegaram ao final do estudo sem o diagnóstico de comprometimento cognitivo leve.
Os impactos positivos da musculação na saúde mental são cada vez mais reconhecidos. A aposentada Shirley de Toro, de 62 anos, adotou a musculação há 17 anos e afirma que a prática foi essencial para sua qualidade de vida. Após uma cirurgia cerebral e um acidente que resultou em fraturas, ela encontrou nos exercícios de força uma maneira de reduzir dores e recuperar mobilidade.
“Depois do acidente, a fisioterapia me causava muitas dores. Quando comecei a musculação, percebi uma melhora significativa. Hoje, faço exercícios de força e não sinto mais dor”, conta Shirley.
Durante a pandemia, manter uma rotina de treinos foi essencial para sua saúde mental. “Mesmo treinando em casa, senti os benefícios. Agora, sempre busco formas de me manter ativa”, relata.
A técnica da gerência de desenvolvimento físico-esportivo do Sesc São Paulo, Alessandra Nascimento, reforça que os benefícios dos exercícios físicos vão além da musculatura. “Já se sabe que atividades como musculação, calistenia e exercícios com sobrecarga trazem melhorias cognitivas e na saúde mental, como foco e memória”, explica.
Antes, era comum recomendar atividades mais leves para idosos, como hidroginástica e dança. No entanto, estudos recentes mostram que os exercícios de força são fundamentais para manter a autonomia na terceira idade. “A partir dos 30 anos, todos começamos a perder força e massa magra. A musculação ajuda a frear esse processo e permite que o idoso mantenha sua independência por mais tempo”, destaca Alessandra.
De acordo com o Ministério da Saúde, cerca de 2,71 milhões de brasileiros acima dos 60 anos convivem com demências, número que pode dobrar até 2050. O relatório nacional sobre o tema aponta que até 45% dos casos poderiam ser evitados ou retardados com mudanças no estilo de vida, incluindo a prática regular de exercícios físicos.
Entre os principais fatores de risco para o desenvolvimento de demências estão a baixa escolaridade, hipertensão, diabetes, tabagismo, obesidade e inatividade física. Diante desse cenário, especialistas reforçam a importância de políticas públicas que incentivem a atividade física entre a população idosa, promovendo a saúde e a qualidade de vida.