Pesquisadores brasileiros, em parceria com colegas americanos, mostram os benefícios a curto prazo de exercícios de força - inclusive para controle da diabetes.
A prática de exercício físico de força, como a musculação, pode ter impacto na redução da gordura do fígado e no controle da glicemia em casos de obesidade e diabete em curto período de tempo e antes mesmo da perda de peso. Foi o que comprovou um estudo realizado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que observou camundongos que treinaram durante 15 dias.
Eles apresentaram queda de 25% a 30% na gordura no órgão em comparação a animais obesos e sedentários. O próximo passo da pesquisa é verificar se uma proteína está relacionada com o processo e se, no futuro, será possível chegar a medicamentos que reproduzam esse efeito.
Pesquisadores da Unicamp analisam exercícios físicos de camundongo; estudo relacionou atividade com redução de gordura no fígado Foto: Guilherme Peruca/Unicamp
O trabalho teve início em 2016 e avaliou três grupos de animais: um formado por animais magros e sedentários; outro com animais obesos e com diabete que também eram sedentários; e um terceiro com animais obesos e com a doença, mas que foram submetidos a treinos de força moderada por 15 dias. O exercício era subir uma escada com um peso, que correspondia a 70% da carga máxima que o animal podia suportar, preso na cauda. Os camundongos faziam 20 séries por dia com intervalo de 90 segundos entre elas.
"A gente sabe que pessoas obesas têm mais de 90% de chance de acumular gordura no fígado. Quando não tratada, essa condição pode levar a uma inflamação no fígado, que pode evoluir para um quadro de cirrose, carcinoma e até falência hepática. O tecido adiposo secreta substâncias que vão até o fígado e reduzem a comunicação da insulina com o órgão que, em condições normais, é um dos principais responsáveis por produzir glicose para o organismo. Em casos de obesidade, o fígado não funciona normalmente", explica Leandro Pereira de Moura, professor da Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp e coordenador da pesquisa.
O estudo, apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e realizado em parceria com a Faculdade de Medicina de Harvard, foi publicado na edição de março do periódico científico Journal of Endocrinology.
Ao final do estudo, os camundongos que praticaram exercício continuavam obesos, mas tinham valores normais de glicemia em jejum. Os animais que eram obesos e sedentários continuaram com diabete. Os treinos foram realizados apenas por 15 dias para isolar o impacto do exercício na gordura no fígado e não misturar com os efeitos da perda de peso.
"Alguns estudos mostraram esse efeito no exercício aeróbico, mas o nosso mostra no exercício de força. Muitos obesos com diabete recebem indicação de iniciar atividade física com meta de redução de peso. A mensagem importante do nosso estudo é que, mesmo sem interferência no peso, o exercício tem um significativo efeito na gordura no fígado."
Moura diz que o grupo vai começar a estudar a ação de uma proteína chamada clusterina, que pode estar ligada ao processo. "Sabemos que há moléculas secretadas por exercícios. Queremos ver se essa proteína de interesse está relacionada para, em um futuro, tentar criar um fármaco. Mas seria pílula coadjuvante. Não quer dizer que o medicamento substituiria a atividade física."