O número de falantes de línguas latinas com mais de dez anos será superior a setecentos milhões no ano 2000. É oportuno, portanto, estimular o ensino de idiomas dessa raiz para que não chegue o dia em que os latinos sejam obrigados a se comunicar entre si em inglês.
Os povos latinos há muito aspiram se agrupar para melhor preservar suas línguas e sua herança cultural. A União Latina, projeto original de João Neves da Fontoura, retomado posteriormente pelos franceses Pierre Cabanes e Philippe Rosillon, hoje com 33 países-membros, adota importante programa alicerçado na comunidade de referências culturais e no parentesco lingüístico de matriz românica.
A entidade pretende criar cursos de português em Buenos Aires e Honduras, de italiano no Paraguai, de romeno no Uruguai. Quer vocabulários científicos e técnicos extraídos das mesmas etimologias, neologias comuns, cooperação em informática lingüística baseada na proximidade das línguas e trocas culturais para evitar que referências não latinas ocupem aos poucos o espaço de um patrimônio comum na literatura, no cinema e na música.
O secretário geral da União Latina, Philippe Rossillon, diz que a exigência de que um produto importado tenha a apresentação e o rótulo escritos na língua nacional serve "para que camponesas e avozinhas não tenham que aprender o inglês para fazerem compras". É preciso retomar o prestígio das línguas latinas, fazendo delas um instrumento científico, técnico, financiamento e comercial.
A latinidade é o baixo-latim, decomposto em castelhano, catalão, italiano, francês, português, romanche, basco, romeno e até mesmo o créole, o papiamento e o lunfardo. Qualquer latino que se esforce se fará entender em três meses em qualquer desses idiomas, sem forçosamente dominá-los. Segundo Rossillon, para constatar a latinidade basta haver aprendido um pouco de cada uma dessas línguas e compartilhar uma amigável refeição com um italiano, um espanhol, um português - nenhum deles sabendo suficientemente o francês para que a conversa não se fixe nessa língua.
O projeto da União Latina é mais do que lingüístico: é cultural. Uma afinidade que deve ser trabalhada em cursos, traduções, intercâmbio universitário, exposições itinerantes, bolsas e incentivos científicos. O desenvolvimento das indústrias da língua e das traduções automáticas poderá reduzir a necessidade de uma língua internacional - hoje o inglês, que faz o papel do latim na antigüidade e na Idade Média.
A difusão das línguas fora de sua zona natural corresponderá, então, a necessidades culturais, como leitura não profissional e turismo, tendência que beneficiará as línguas latinas, em função do prestigio histórico de cada uma delas. Afinal, herdeiros de Roma, os latinos continuam apegados às grandes construções jurídicas em escala planetária e fieis à primeira grande colonização universal.
Notícia
Jornal do Brasil