Chineses usam máscaras em estação de trem de Xangai: número de novos casos do coronavírus vem caindo no país
Enquanto número de novos casos registrados na China cai, Covid-19 se espalha por outros países, e Organização Mundial da Saúde diz que vírus se comporta de maneira nunca vista. Brasil monitora mais de 400 casos supeitos.
Em meio à disseminação do coronavírus Sars-Cov-2 em vários países, com a Europa e os Estados Unidos registrando novos casos a cada dia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou na noite desta segunda-feira (02/03) que o mundo enfrenta agora um "território desconhecido” em sua batalha contra o patógeno.
"Estamos em território desconhecido", afirmou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus. "Nunca havíamos visto um patógeno respiratório capaz de transmissão comunitária, mas que também pode ser contido com as medidas adequadas."
Transmissão comunitária significa que as infecções dentro de uma população não são importadas de outra área atingida pelo vírus.
A China impôs quarentenas draconianas e restrições de viagem para manter grande parte da população dentro de casa durante semanas, uma estratégia que parece ter dado frutos com a queda de novos casos este mês. Em 24 horas, foram reportados em outros países quase nove vezes mais casos do que na China.
Enquanto a Itália isolou cidades, outros países evitaram impor quarentenas em massa e, em vez disso, desencorajaram grandes reuniões, cancelaram eventos esportivos e proibiram a entrada no país de pessoas vindas de países atingidos pelo vírus.
Quantos casos há no mundo?
Mais de 90,9 mil infecções já foram confirmadas em mais de 70 países. Já passa de 3,1 mil o número de mortes provocadas pelo novo coronavírus, causador da doença respiratória batizada de Covid-19.
A grande maioria das mortes (2,9 mil) foi registrada na China. No entanto, Pequim anunciou em seu boletim diário desta terça-feira que o número de contaminações está caindo. Nas últimas 24 horas, foram 125 novos casos, o menor número registrado em um dia desde 21 de janeiro. Houve 31 novas mortes, todas na província de Hubei, epicentro do surto. Segundo as autoridades chinesas, 59% das pessoas diagnosticadas com o vírus se recuperaram.
A China relatou nesta terça-feira um aumento nos casos do novo coronavírus vindos do exterior. No total, houve 13 casos confirmados de importação do vírus – todos em cidadãos chineses retornando do exterior.
Enquanto isso, a Coreia do Sul registrou 477 novos casos, elevando o total de infecções para mais de 4,8 mil – o maior número fora da China. No total, 28 mortes foram registradas pelas autoridades sul-coreanas.
Os Estados Unidos, até então um dos países menos afetados pelo coronavírus, enfrentam agora o risco de uma epidemia. O país confirmou nesta segunda-feira a sexta morte em decorrência da Covid-19 – todas no estado de Washington.
O Irã já registrou mais de 1,5 mil casos e 66 mortes. O Japão reportou mais de 260 infecções e 12 mortes, além de mais de 700 casos diagnosticados a bordo do navio Diamond Princess, colocado em quarentena em Yokohama.
Qual a situação na Europa?
Mais de 2,1 mil casos de Covid-19 foram registrados na União Europeia (UE), onde a Itália é o país mais afetado. Mais de 2 mil infecções pelo coronavírus foram confirmados pelas autoridades italianas. Até esta segunda-feira, 52 pessoas morreram no país em decorrência após serem diagnosticadas com o patógeno.
Na Alemanha, o número de casos chegou a 188 nesta terça-feira, segundo boletim divulgado nesta segunda-feira, mais do que triplicando em relação aos 53 contabilizados até a última sexta-feira. A capital alemã, Berlim, reportou suas primeiras três infecções pelo vírus. O estado mais afetado é a Renânia do Norte-Vestfália, no oeste do país, com 101 casos, seguido da Baviera (35) e de Baden-Württemberg (26).
Portugal também registrou seu primeiro caso nesta segunda-feira, quando a União Europeia elevou o nível de risco de contágio pelo vírus nos países do bloco de "baixo a moderado” para "moderado a alto”.
Além de Berlim e Portugal, Nova York, Moscou, Arábia Saudita, Letônia, Indonésia, Marrocos, Tunísia, Senegal e Jordânia também divulgaram nesta segunda-feira seus primeiros casos do vírus.
Qual a situação no Brasil?
Segundo boletim divulgado pelo Ministério da Saúde nesta segunda-feira, são monitorados atualmente 433 casos suspeitos do coronavírus no Brasil. Duas infecções já foram confirmadas no país.
Embora ambos os pacientes sejam residentes da cidade de São Paulo, os dois casos não têm relação entre si. De acordo com o ministério, ambas as infecções foram importadas, e não há evidência de circulação do vírus no país. Os dois pacientes diagnosticados com o vírus haviam retornado recentemente da Itália.
Segundo pesquisadores do Instituto Adolfo Lutz e da Universidade de São Paulo que realizaram o sequenciamento genético do coronavírus extraído dos dois pacientes diagnosticados com a doença no Brasil, há diferenças entre os genomas obtidos.
"O primeiro isolado se mostrou geneticamente mais parecido com o vírus sequenciado na Alemanha. Já este segundo genoma assemelha-se mais ao sequenciado na Inglaterra. E ambos são diferentes das sequências chinesas. Tal fato sugere que a epidemia de coronavírus está ficando madura na Europa, ou seja, já está ocorrendo transmissão interna nos países europeus. Para uma análise mais precisa, porém, precisamos dos dados da Itália, que ainda não foram sequenciados”, disse à Agência da Fapesp Ester Sabino, diretora do Instituto de Medicina Tropical (IMT) da USP.
Nesta segunda, o Ministério da Saúde anunciou que iria ampliar a capacidade laboratorial de diagnóstico em todo o território nacional, com a distribuição de 30 mil kits para diagnóstico nas próximas semanas. Até o momento, 162 casos suspeitos do coronavírus foram descartados no país.
Quais são os impactos econômicos do coronavírus?
Países mundo afora esperam um forte impacto negativo sobre suas economias devido ao coronavírus. O Fundo Monetário Internacional (FMI) disse na última semana que deve reduzir sua previsão de crescimento global.
Nesta segunda-feira, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) reduziu sua previsão de avanço da economia mundial neste ano de 2,9% para 2,4%, nível mais baixo desde a crise financeira desde 2008-2009, e disse que o índice pode ser de apenas 1,5% se o surto de coronavírus não for controlado. A Organização Mundial do Comércio (OMC) também disse esperar um impacto "substancial" sobre a economia mundial.
O embaixador da China na ONU, Zhang Jun, disse, no entanto, estar confiante de que alcançará suas metas econômicas para 2020, apesar do "impacto negativo” do coronavírus sobre a economia do país.
O Banco Central Europeu, por sua vez, disse estar pronto para agir em meio a preocupações em relação ao estado da economia global. "Estamos prontos para adotar medidas apropriadas e específicas, conforme necessário e de acordo com os riscos subjacentes”, declarou Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu.
Os ministros da Economia do G7 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido – mais União Europeia, que tem status de observadora no grupo) vão se reunir nesta terça-feira para discutir a crescente incerteza econômica global.
Há um tratamento para o coronavírus à vista?
A gigante farmacêutica americana Pfizer disse ter identificado compostos antivirais com potencial de serem usados no tratamento contra o coronavírus, segundo a agência de notícias Reuters. A companhia afirmou que se uma primeira avaliação for bem-sucedida, começará a testar os compostos até o fim deste ano.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, exortou empresas farmacêuticas a desenvolverem uma vacina rapidamente. O vice-presidente americano, Mike Pence, disse que o tratamento para o coronavírus poderia estar disponível no verão ou no início do outono. "A vacina pode não estar disponível até o final deste ano ou início do próximo, mas a terapêutica para dar alívio às pessoas que contraem o coronavírus pode estar disponível no verão ou início do outono", disse Pence.
A OMS afirma que o coronavírus parece ser mais perigoso para pessoas com mais de 60 anos de idade para aqueles já debilitados por outras doenças. A mortalidade está entre 2% e 5%.
Deutsche Welle