Até o final de 2025, as mulheres representarão 50,9% do total de médicos no país; a maioria, portanto.
Demografia médica
Em 2010, o Brasil tinha 205 mil médicos, e as mulheres correspondiam a 41% desse número. O salto de quase 10% na quantidade de mulheres médicas em 15 anos é bem expressivo.
A previsão é de que, em 2035, o Brasil tenha 1,15 milhão de médicos e as mulheres representem 56% do total.
Os dados constam do estudo “ Demografia Médica no Brasil 2025 ”, divulgado no dia 30 de abril e realizado pela Associação Médica Brasileira, o Ministério da Saúde, a Organização Pan-Americana de Saúde e a Faculdade de Medicina da USP.
As mulheres na Medicina
Antes de 1840, as mulheres eram impedidas de estudar Medicina em diversas partes do mundo. Na Inglaterra, por exemplo, a primeira mulher a se formar em Medicina foi Elizabeth Blackwell, em 1849.
No Brasil, Rita Lobato Velho Lopes (1866 – 1954), natural de Rio Grande (RS), foi a primeira mulher a se formar em Medicina pela Faculdade de Medicina da Bahia e a primeira mulher a exercer a Medicina. Ela enfrentou grande resistência da família, dos colegas homens e da sociedade em geral, que consideravam inadequado e imoral uma moça ingressar na profissão até então dominada por homens.
Rita Lobato especializou-se em obstetrícia e é considerada a segunda médica a especializar-se em obstetrícia no continente sul-americano.
As mulheres conquistaram o seu espaço a ponto de, cerca de 140 anos depois de Rita Lobato, tornarem-se maioria dentre os médicos.
Contribuição das mulheres para a Medicina
A entrada da mulher na prática médica fortaleceu o processo de humanização e o cuidado no ato médico. Antes, o cuidado, a escuta e o estar ao lado do paciente eram exclusivamente exercidos pela enfermagem, outra profissão predominantemente feminina.
O olhar feminino sobre o atendimento médico, sobre o paciente, sua família e o momento de vulnerabilidade diante da doença ou da necessidade de tratamento influenciou a implementação de novas políticas de atenção ao paciente.
Parto humanizado, o acompanhamento de familiar a menores de idade e a idosos internados e a paternidade ativa, dentre outras iniciativas, contribuem para amenizar a dor e a angústia de pacientes. Quem, como eu, já viu o medo e a insegurança de uma mulher ser internada desacompanhada para ter seu primeiro filho e hoje a vê entrando no hospital com seu cônjuge, que acompanhará o parto, percebe que o olhar da paciente é outro.
Quem, como eu, já viu alguém em seus últimos momentos de vida sozinho em um leito de hospital e vê hoje a família ao lado do paciente confortando-o e assistindo-o, percebe que o olhar do paciente é outro.
Os exemplos de humanização da Medicina e no cuidado com o paciente são muitos, e, sem dúvida, a participação das médicas nesta evolução foi e é fundamental.
Tecnologias e humanidade
Ainda que o futuro da Medicina venha a ser dominado por altas tecnologias diagnósticas e terapêuticas, nada substituirá o trato humano dispensado ao paciente. O trato humano se reflete no olhar feminino.
Sem dúvida, mulheres médicas estarão cada vez mais presentes em especialidades ainda predominantemente masculinas, e o cuidado feminino se espalhará por todas as especialidades.
Acredito que a prática médica, cada vez mais, se baseará na fala de Carl Young: “ Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.” Não consigo perceber outras palavras que mais bem traduzam o impacto das mulheres no cuidado médico.
Não estou a dizer que os médicos não tenham cuidado e nem sensibilidade ao cuidar dos pacientes e que não coloquem sua alma junto da dos pacientes. Mas as mulheres, dotadas de maior sensibilidade e de instinto maternal, fazem com que o paciente mais se aconchegue a elas e se sinta mais amparado.
Afinal, apesar de todo conhecimento técnico, a mulher se sustenta pelo coração.
Dra. Ana Cristina Campos
Dra. Ana Cristina Campos, médica, especialista em Saúde Coletiva, Gestão em Saúde e Medicina do Trabalho. Atuou em grandes empresas no Brasil com foco em organização de sistemas e serviços, planejamento, programação e avaliação de saúde. É palestrante e referência em temas de saúde mental. Atualmente é a Lead em Saúde da Accenture Brasil.