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Mulheres que Inspiram: Juliana Moraes faz projeções de dança e amor em São Paulo

Publicado em 08 junho 2020

Por Luciana Franca

A enorme imagem de Juliana Moraes dançando, projetada na lateral de um prédio em Perdizes, bairro de São Paulo, ao som de Piove (Cia Ciao Bambina), de Domenico Modugno, é uma das cenas mais lindas no feed do Instagram durante o período de distanciamento social. Vale recorrer a ela toda vez que precisar de um afago entre uma notícia e outra que aparece na tela do celular.

Este é o sexto vídeo do projeto Dança Para Afastar a Peste, que começou no Instagram de forma bem espontânea pela premiada dançarina e coreógrafa paulista. “Em uma noite de abril meu marido, o ator Gustavo Sol, e eu estávamos na sala do apartamento assistindo a um ensaio de minha peça mais recente, ainda inédita, chamada Afetos, criada em parceria com os bailarinos Talita Florêncio e Gabriel Tolgyesi.

Em um momento da apresentação, Gustavo pensou em testar se o projetor chegaria na parede do prédio vizinho, pegou o equipamento e o girou para a janela. A imagem ficou tão linda projetada, enorme, que peguei meu celular, passei minha mão para fora da tela de proteção e filmei. Naquele momento, estava passando uma cena da Talita dançando. Achei linda a imagem dela se movendo, gigante, entre as sacadas do edifício vizinho”, relembra Juliana.

“Ouvimos aplausos dos moradores do nosso próprio prédio, pessoas que antes nem conhecíamos, mas que, agora, mandam mensagens pelo WhatsApp para saber quando farei novas projeções”, conta. “No início, ainda não entendia muito como as coisas funcionavam, fiz algumas projeções que vazaram para dentro das varandas e, uma vez, houve reclamação. O som coloco na hora, no equipamento da minha sala, baixo, de maneira que não vaze para fora. Procuro não incomodar e, aos poucos, vou aprendendo quais são os melhores horários para projetar.”

Professora de dança na Unicamp com especialização em Londres, Juliana teve um projeto aprovado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) para a Criação do Núcleo de Práticas Experimentais em Coreografia. Com a verba recebida, começou a adquirir equipamentos, entre eles o projetor e uma filmadora, para criação, registro e disseminação de obras coreográficas. Com a pandemia e a universidade fechada, que teve seu ginásio transformado em um hospital de campanha, os equipamentos tiverem de ser entregues em sua casa. E a experiência tomou corpo.

“Depois desse primeiro vídeo, liguei para a minha sobrinha Clara, de 5 anos, e perguntei se ela toparia ser filmada pela mãe dela dançando bem livre, pelo quintal, para depois eu projetar no prédio vizinho. Ela amou a ideia, escolheu uma roupa que adora, uma música que minha irmã canta para ela dormir e improvisou como tinha vontade, gravada por um celular.” Depois, seguiram-se outras parcerias, uma com a bailarina Daniela Moraes e outra em que testou um vídeo de ensaio com sua parceira de muitos anos, a bailarina suíça Andrea Herdeg, que performa dentro de um piano de cauda.

A peste que dá o nome ao projeto não refere-se apenas ao novo coronavírus. “Estamos enfrentando muitas pestes simultâneas, algumas centenárias, cujas feridas estão explodindo com muito pus no momento: racismo estrutural, machismo, homofobia, intolerância religiosa, ataques à democracia e a eclosão de movimentos abertamente fascistas, que fazem uso de símbolos do nazismo e da Ku Klux Klan”, diz Juliana, que cozinha, dança e espalha amor de dentro de seu apartamento enquanto enfrentamos tudo isso.