No século 18, mulheres indígenas desempenharam um papel fundamental na produção de cuias, que abasteceram o mercado de luxo europeu
No século 18, mulheres indígenas desempenharam um papel fundamental na produção de cuias, que abasteceram o mercado de luxo europeu. Esses utensílios, utilizados tanto no dia a dia quanto em rituais, estão presentes em várias culturas do Brasil, especialmente em comunidades indígenas e ribeirinhas.
À revista Galileu, Renata Maria de Almeida Martins , professora da FAU-USP e coordenadora do projeto "Barroco-açu", ressaltou que as cuieiras podem ter sido uma das primeiras plantas cultivadas na Amazônia , com um uso possivelmente anterior ao da cerâmica.
Em sua pesquisa, ela explicou que as cuias eram elaboradas por mulheres indígenas, que empregavam técnicas sofisticadas para criar um acabamento durável e brilhante, conhecido como “laca da Amazônia”. Os desenhos das cuias refletiam tanto a flora e fauna locais quanto padrões inspirados na arte europeia e asiática, evidenciando o intercâmbio artístico da época.
Cultivo das cuias
Segundo a Galileu, essas peças eram produzidas em oficinas mantidas por colonos e missões religiosas, e o ofício das pintoras de cuias era reconhecido já no início do século 18. A produção tinha como destino principal o mercado europeu, inserindo-se em um processo de globalização emergente.
O cultivo das cuias iniciava com a colheita dos frutos da árvore cuieira ( Crescentia cujete ), que eram processados manualmente antes de receberem um verniz especial feito de tintura de cumatê.
Após o tratamento, as cuias eram decoradas com incisões e pintura utilizando corantes vegetais ou minerais, uma prática que está em desuso atualmente. Embora muitas vezes destinadas à exportação, as cuias também carregavam significados rituais importantes, com algumas mulheres resistindo à venda de peças que possuíam valores simbólicos nas comunidades, repercute a Agência FAPESP.
Associadas à fecundidade e a tradições de cura, as cuias ainda são utilizadas na preparação de alimentos típicos da Amazônia, como o tacacá, informou Martins