No ano passado, só 283 pedidos de registro de patentes foram feitos por brasileiros. Os empresários já perceberam bem o tamanho da encrenca: os números da presença brasileira entre os países que mais contam nos negócios internacionais não melhoraram em 2005. A questão não está na passageira felicidade do saldo comercial obtido, como já notaram até o ministro do Desenvolvimento e o da Agricultura. O problema é outro. E aparece quando o Brasil fica em 27 lugar no ranking de pedidos de patentes, atrás da África do Sul. Convém lembrar que ainda somos o 11 PIB no mundo. Segundo levantamento feito em 128 países pela Organização Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI), só 283 pedidos de registro de patentes foram feitos por brasileiros, só 0,7% a mais que em 2004. A China, sempre ela, aumentou 43,7%, alcançando 2.452 pedidos, passando o Canadá e ficando em 10 lugar, longe ainda do 1, os EUA, com 45.111 pedidos. A revista Pesquisa FAPESP de março (nº 121) divulgou detalhes desse ranking, com o Japão em 2, 25,1 mil patentes, seguido da Alemanha, 15,8 mil, da França, 5,5 mil, e da Inglaterra, 5,1 mil. Coréia do Sul registrou 4,7 mil. Entre os emergentes, Cingapura tem quase o dobro de patentes do Brasil e a África do Sul fez 336 pedidos. Porém, o Brasil é mesmo a terra dos contrastes. Estudo do Iedi que avaliou exportações segundo a intensidade tecnológica e a qualificação da mão-de-obra revelou que a composição dos setores exportadores mudou no ano passado. O Iedi mostrou que setores com indústria intensiva em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) aumentaram em 10% sua contribuição para o crescimento das exportações em 2005, comparado a 2004. Os setores de baixa e média intensidade tecnológica, porém, perderam espaço na pauta, recuando de 78% para 70% entre 2004 e 2005. Como conciliar esses dois fatos: não registramos muitas patentes mas avançamos na exportação com maior valor agregado? Análise do Ipea (publicado na revista do instituto, Desafios, n 20) mostrou que em 2005 os produtos de alta tecnologia exportados totalizaram 7,41% da pauta, mas muito concentrados: aeronáutica, 3,11 do total, telecomunicações, 2,8%, farmacêutica, 0,6%, instrumento de ótica, 0,4%, material de informática, 0,4%, e acabou. O fato real: 29% dos produtos industriais exportados são de baixa tecnologia, segundo o Ipea. Patente mexe exatamente com isto: melhora a exportação de produto com pouca tecnologia. Aqui está o negócio e o emprego. Os chineses e os americanos sabem muito bem disso. Para aumentar exportações sem vender só produto primário precisamos de mais patentes. Qualquer um que é do ramo sabe que as melhores universidades brasileiras produzem muito "paper" e pouca patente, por muitas razões. A maior delas é nosso velho ranço bacharelesco, de muita sociologia, pouca matemática e nenhuma geração de tecnologia. O setor educacional privado reclama que agora falta aluno, mas não toca nesse assunto. As universidades públicas fogem disso mais que o diabo da cruz. O pior é que os políticos seguem na mesma rota de fuga. Inclusive os candidatos a presidente. O que é mais grave, porque sinaliza que pouco vai mudar nos próximos anos.
Leonardo Trevisan — Editorialista
E-mail: ltrevisan@gazetamercantil.com.br
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