A produtividade média de grãos de soja por hectare aumentou 40 quilos por ano nos últimos 50 anos no Brasil, e as mudanças no formato da folha e na estrutura da planta foram o que mais contribuíram para isso. A conclusão é de uma pesquisa da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), que identificou atributos que podem ser aproveitados para que a quantidade de grãos produzidos dobre em uma mesma área de cultivo.
Segundo o engenheiro agrônomo Renan Caldas Umburanas, pesquisador do campus da Universidade de São Paulo (USP) em Piracicaba (SP), o uso de tecnologias, as práticas agrícolas e a "clonagem" das plantas mais produtivas favoreceram a produtividade da soja, mas as principais características da morfologia (formato das plantas) responsáveis pelo melhor desempenho da cultura eram, até então, desconhecidas.
“Geralmente, as cultivares [espécies de plantas melhoradas] são semeadas e colhidas e, com base na produtividade, é feita uma seleção sem se atentar às mudanças na planta responsáveis pela melhora”, explica o pesquisador.
Entre as principais características para o aumento da produtividade nas últimas décadas identificadas no estudo estão:
- O fortalecimento da sustentação das plantas ao longo do tempo, já que antes se inclinavam por causa do peso de grãos;
- A mudança no formato das folhas, que passou de oval para uma espécie de “lança”, o que facilitou a absorção da luz solar e aumentou a capacidade de fotossíntese;
- A diminuição na quantidade de folhas e aumento de grãos em uma mesma planta.
No entanto, foi observado que a seleção e melhoramento genético das plantas brasileiras fez com que os grãos de soja tivessem redução no teor de proteína. “Isso é uma informação de relevância para a indústria, pois alguns subprodutos dependem do teor de proteína. Ou seja, é importante prestar atenção para que isso não reduza ainda mais”, diz Umburanas.
Para que se chegasse a essas conclusões, sementes resgatadas da década de 60 e as usadas atualmente foram cultivadas em vasos e depois lado a lado, num experimento de duas safras em ambiente de alto potencial produtivo, nas lavouras no interior do Paraná. Depois disso, essa comparação da estrutura das plantas foi cruzada com dados estatísticos que permitiram chegar ao valor de aumento médio de 40 quilos por hectare ao ano.
Potencial da soja no Brasil
O Brasil é o segundo maior produtor de soja do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mostram que, em 2018, a produção brasileira de soja atingiu 116,9 milhões de toneladas em uma área plantada de 35,1 milhões de hectares. Isso representa produtividade de 3,3 mil quilos por hectare.
Para Umburanas, os números são satisfatórios, principalmente em comparação a outros países, e o desempenho vem aumentando de maneira uniforme em todas as regiões do Brasil.
"Ainda é possível mais do que dobrar esse potencial se forem focados nos principais atributos responsáveis pelo aumento de produção, como os morfológicos e fisiológicos", afirma.
O agrônomo avalia que, se comparadas ao Brasil, as cultivares dos Estados Unidos, do Canadá e da China ainda não tiveram a mesma evolução no formato das plantas para favorecer o desempenho na produção de grãos nas lavouras.
Ainda há desafios, diz pesquisador
Além do desafio em atender a demanda de consumo da soja, que vem aumentando ano a ano, e de reduzir os impactos no meio ambiente por meio do aproveitamento da área de cultivo, o pesquisador da Esalq também destaca que ainda é preciso focar no desenvolvimento de técnicas que proporcionam a adaptação da cultura às mudanças climáticas.
Segundo Umburanas, o aquecimento global, por exemplo, “anula” os efeitos positivos do dióxido de carbono (CO²) no potencial produtivo da planta.
“Há muitos desafios neste sentido ainda. É preciso pensar em soluções para que a soja continue com uma boa produção no futuro e alimente a população que está em crescimento", conclui.
O estudo foi desenvolvido no programa de pós-graduação em fitotecnia da Esalq, teve orientação do professor Klaus Reichardt e financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A tese está publicada na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP.
Fonte: G1 Piracicaba e Região