A Mata Atlântica, faixa que cobre aproximadamente a costa leste, sul e sudeste do Brasil – e também partes da Argentina e Paraguai –, é um dos seis biomas brasileiros. Ela é lar para mais de 20 mil espécies de árvore, mais de mil aves, cerca de 270 mamíferos e 550 anfíbios.
Apesar de toda sua magnitude e importância ecológica, estima-se que, atualmente, ela esteja reduzida a apenas 8,5% de sua cobertura vegetal. Mas não é só a fauna que está se prejudicando com isso. Segundo recente estudo publicado na revista Ecology and Evolution, aproximadamente 10% das espécies de anfíbios que habitam o bioma estão em risco de extinção para os próximos anos.
A pesquisa foi realizada pelo herpetólogo Tiago da Silveira Vasconcelos, da Faculdade de Ciências da Universidade Estadual Paulista (Unesp), e pelos pesquisadores Bruno Tayar Marinho do Nascimento, também da Unesp, e Vitor Hugo Mendonça do Prado, da Universidade Estadual de Goiás.
A equipe decidiu analisar a atual distribuição de anfíbios anuros (ou seja, sapos, rãs e pererecas) nos biomas da Mata Atlântica e no Cerrado e projetar qual será a incidência desses animais no futuro, levando em consideração as mudanças climáticas em decorrência do contínuo aquecimento global.
E o resultado não é nenhum pouco positivo: devido aos regimes de temperatura e chuva previstas para ocorrer nos anos de 2050 e 2070, muitos desses anfíbios deverão ser extintos – especificamente cerca de 10% das espécies, as que possuem menor adaptação à variação climática e que habitam pontos específicos da Mata Atlântica.
Segundo os pesquisadores, das 550 espécies de anfíbios que habitam o bioma, 80% são endêmicas. No Cerrado, o número chega a 209.
Com esses dados em mãos, os estudiosos selecionaram 350 espécies encontradas na Mata Atlântica e 155 no Cerrado que habitam, pelo menos, cinco espaços diferentes.
"Desse modo, foi possível identificar as áreas com maior riqueza de espécies de anfíbios, ou com composição de espécies únicas, tanto no Cerrado como na Mata Atlântica”, explica Vasconcelos. “Uma vez identificadas tais áreas, avaliamos a comunidade de anfíbios no cenário de clima atual e futuro, de modo a determinar quais são as áreas de clima favorável para cada uma das 505 espécies analisadas, e se haverá expansão ou redução dessas áreas em 2050 e 2070, em função do aquecimento global”, completa.
Vasconcelos afirma que foram utilizados padrões otimistas e pessimistas em cada uma das previsões para o futuro, nos anos de 2050 e 2070: “Utilizamos dois cenários de emissão de gás carbônico na atmosfera, um cenário mais otimista, com menor aquecimento global, e outro pessimista e mais quente. Também usamos três modelos de circulação global atmosférica e oceânica", diz.
Nesse panorama, a expectativa é que 42 espécies sejam aniquiladas, sendo 37 delas na Mata Atlântica e cinco no Cerrado. Vale mencionar que apenas cinco dessas 42 são consideradas ameaças de extinção atualmente pelo Ministério do Meio Ambiente.
Apesar das perdas esperadas na Mata Atlântica, o bioma não deixará de ser, ainda assim, a região do Brasil mais rica em anfíbios.
O Cerrado, por sua vez, poderá apresentar um ganho de biodiversidade em determinadas regiões devido às mudanças climáticas futuras. Conforme Vasconcelos nota, é muito provável que o Cerrado expanda seu tamanho nas direções norte e nordeste, ocupando espaços que hoje são de Floresta Amazônica.
“A savanização de porções da floresta amazônica abrirá novas áreas para ocupação dos anfíbios do Cerrado”, especula.
A pesquisa pode ser conferida em Agência Fapesp.