Simulações computacionais sugerem que os organismos dos polos serão especialmente afetados pelo aumento das temperaturas, enquanto os das zonas temperadas terão uma redução do fluxo de nutrientes e os dos trópicos sofrerão com o aumento da salinidade.
Estudo assinado por um grupo internacional de pesquisadores apontou que as interações entre as comunidades de plâncton – microrganismos que formam a base da cadeia alimentar dos oceanos e produzem grande parte do oxigênio do planeta – sofrerão diferentes impactos das mudanças climáticas.
O pesquisador francês Douglas Couet, parte da equipe da expedição Tara Oceans, coleta amostras no rio Amazonas para estudo dos microrganismos aquáticos da América do Sul
Simulações computacionais sugerem que os organismos dos polos serão especialmente afetados pelo aumento das temperaturas, enquanto os das zonas temperadas terão uma redução do fluxo de nutrientes e os dos trópicos sofrerão com o aumento da salinidade.
Hidrobiologia
As conclusões, publicadas na revista Science Advances, são resultado de modelagens matemáticas realizadas com base no maior inventário de plâncton marinho já realizado, entre 2009 e 2013, pela expedição Tara-Oceans. Durante o período, o veleiro deu a volta ao mundo coletando amostras desses microrganismos em todos os oceanos do globo.
— Aquela primeira publicação fazia uma fotografia do que existe de microrganismos nos oceanos: as espécies e a abundância de cada uma. Foi um dos maiores projetos de sequenciamento genético realizados até hoje. Ao analisar os dados, porém, percebemos que esses organismos dependem uns dos outros para viver, formando verdadeiros consórcios microbianos. São muito mais interações do que imaginávamos e as mudanças climáticas podem afetá-las consideravelmente — pontua Hugo Sarmento, professor do Departamento de Hidrobiologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e um dos dois autores de instituições brasileiras participantes do estudo atual, apoiado pela Fapesp.
Atlântico
Sarmento foi um dos pesquisadores embarcados no veleiro, em 2009. No último domingo, a embarcação chegou novamente ao Brasil, com a primeira parada em Belém, para um novo projeto, o AtlantECO. Focado no Atlântico Sul, reúne pesquisadores de 13 países da Europa, Brasil e África do Sul.
Depois de coletar amostras nas águas do norte brasileiro, o veleiro vai passar ainda por Salvador (outubro), Rio de Janeiro e Florianópolis (novembro). Em seguida, segue para a Antártica e para a costa africana. Ao voltar para a França, de onde partiu em dezembro de 2020, a expedição terá totalizado dois anos de duração.
No Brasil, o projeto envolve ainda expedições científicas no navio Alpha Crucis, do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP), e no Veleiro ECO, desenvolvido na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). As outras instituições brasileiras envolvidas são a UFSCar, a Universidade Federal da Bahia (UFBA) e a Universidade Federal do Rio Grande (FURG).