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Mudanças climáticas aumentam o risco de surtos de doenças transmitidas por mosquitos

Publicado em 01 março 2018

O aumento da temperatura média do planeta, induzido principalmente pela emissão de gases de efeito estufa, deve contribuir para ampliar, no Brasil, a área de distribuição de quatro vírus transmitidos por mosquitos: o Oropouche (OROV), o Mayaro (MAYV), o Rocio (ROCV) e o vírus da encefalite de Saint Louis (SLEV).

A conclusão é de um estudo publicado na revista PLoS Neglected Tropical Diseases. O trabalho foi realizado no Instituto Butantan, em São Paulo, durante o doutorado de Camila Lorenz, com apoio da FAPESP.

“Levantamos todos os surtos dessas arboviroses ocorridos no país desde a década de 1960 e avaliamos como eles se relacionavam com diferentes fatores ambientais. Com base nos resultados, modelamos a distribuição das doenças até 2100. Os dados mostram que a área de distribuição deve aumentar nos próximos anos em função, principalmente, da elevação da temperatura”, disse Lorenz.

Ao todo, sete fatores ambientais foram considerados na análise multivariada: precipitação anual (o quanto chove ao longo do ano na região em que ocorreu o surto), média de temperatura anual, elevação (altitude), sazonalidade da temperatura (variação entre os meses mais quentes e mais frios do ano), sazonalidade da precipitação (variação entre os meses mais chuvosos e os mais secos), amplitude térmica (variação da temperatura ao longo do mês) e variação diária da temperatura.

Clima futuro

Além de mapear as características físicas de todos os locais em que ocorreram surtos dessas quatro arboviroses nos últimos 55 anos, os pesquisadores também analisaram os registros climáticos existentes desde a década de 1960. Eles observaram que a temperatura média no país vem aumentando nos últimos anos, principalmente na região Norte.

Em seguida, por meio de modelos matemáticos, o grupo estimou como seria a distribuição dos quatro vírus até o fim deste século. Foram considerados dois cenários climáticos projetados por especialistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, da Organização das Nações Unidas (IPCC).

No primeiro, de baixa emissão de gases-estufa, ocorreria um aumento médio de 1º C na temperatura do planeta até 2100. Já no cenário de alta emissão, o aumento ultrapassaria os 2ºC considerados seguros pelos especialistas em clima.

No caso da cidade de São Paulo, por exemplo, a região suscetível ao vírus Mayaro saltaria dos 4% atuais para 12% em 2050; e quase 20% em 2100 em um cenário de alta emissão. Em relação ao Rocio, o número passaria de aproximadamente 1% da área do município para 2,5% em 2050, e quase 4% em 2100, também no pior cenário climático.

Em Campo Grande (MS), a área de risco para Mayaro passaria de 23,8% para 83,6% no pior cenário. Em Brasília (DF), o número passaria de 10% para mais de 57%. Em Belo Horizonte (MG), saltaria de 14,8% para 65% e, no Rio de Janeiro (RJ), de 21,4% para quase 55%.

O maior aumento na área de distribuição do Rocio foi previsto para Porto Alegre (RS). Atualmente, menos de 9% do município é considerado área de risco. Em 2100, no cenário de alta emissão, o índice chegaria a 57,3%.

Fonte: Agência Fapesp