A importância de publicar artigos em periódicos científicos internacionais foi um dos assuntos discutidos na segunda edição do ciclo de seminários O Brasil no século 21: uma visão geral da situação atual e os desafios de médio e longo prazo, realizada nesta quarta-feira (28/3) na Faculdade de Economia e Administração (FEA) da Universidade de São Paulo (USP), na capital paulista.
"A boa comunicação entre pesquisadores de diferentes países feita por meio da publicação de trabalhos em revistas de circulação internacional é um grande impulso para o desenvolvimento científico e tecnológico", disse Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, durante o seminário.
No encontro, coordenado por Antonio Delfim Netto, professor emérito da FEA e ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento, Brito Cruz lembrou que, quando empresas estrangeiras têm interesse em parcerias com universidades brasileiras, além de seus dirigentes procurarem entidades que mais formam mestres e doutores, a lista de publicações dos pesquisadores é um dos requisitos básicos. "A universidade tem papel fundamental para a criação do conhecimento, mas, para que um produto ou processo inovador sejam aceitos pelo mercado, a pesquisa básica e aplicada deve ser, a exemplo do que ocorre nos países com economia saudável, um assunto dominado primordialmente pelas empresas", disse Brito Cruz. Para Hélio Nogueira da Cruz, professor titular do Departamento de Economia da FEA, enquanto na origem histórica da universidade está a necessidade de solucionar problemas da sociedade e de inserir novos produtos no mercado, a comunidade acadêmica no Brasil não está totalmente inserida nessa finalidade.
"Novas idéias estão chegando ao setor produtivo, mas o que mais parece valer hoje é a quantidade de artigos publicados nas revistas da fronteira do conhecimento. A falta de interação com o setor produtivo se tornou uma lógica própria das instituições de ensino no país. Essa especialização institucional não favorece a difusão do conhecimento para solucionar problemas econômicos ou sociais", afirmou.
Pesquisas em empresas
Brito Cruz também destacou a importância da pesquisa feita no setor privado e lembrou que nos Estados Unidos cerca de 80% dos cientistas trabalham para as indústrias. Naquele país, é papel da universidade prezar pela boa formação desses profissionais.
Segundo o diretor científico da FAPESP, menos de 7% da pesquisa realizada em universidades norte-americanas é financiada com dinheiro oriundo de contratos com empresas, o que não quer dizer que há pouco investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) ou que há pouca interação entre universidade e empresa. Pelo contrário, os maiores investimentos ocorrem exatamente em laboratórios das próprias companhias.
"Um terço do dispêndio do governo norte-americano em P&D vai direto para as empresas. Lá, existe um lugar bem estabelecido para os cientistas industriais e acadêmicos. No Brasil, o lugar dos cientistas industriais ainda está vazio. Precisaríamos de pelo menos 150 mil deles para transformar nosso conhecimento em desenvolvimento econômico", apontou Brito Cruz.
O ciclo O Brasil no século 21: uma visão geral da situação atual e os desafios de médio e longo prazo terá, até o fim do ano, mais 14 seminários quinzenais para discutir problemas estruturais da economia brasileira e estratégias para acelerar o crescimento.
Mais informações sobre o ciclo de seminários: www.econ.fea.usp.br
Agência FAPESP