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Jornal do Brasil

Mortes por câncer aumentam 3% ao ano (1 notícias)

Publicado em 25 de abril de 1996

Por ALICIA IVANISSEVICH
Como grãos de areia que lentamente se amontoam até formarem dunas, as mortes por câncer no Brasil crescem num ritmo gradual e discreto de 3% ao ano. Essa proporção acumulada ao longo de décadas, entretanto, traz perspectivas sombrias, com o impacto de avalanches. Basta olhar para trás para imaginar o futuro: em 1930, as mortes por câncer representavam 3% de todos os óbitos; em 1989, essa proporção subiu para 12% e, para 1996, espera-se uma taxa de 18%. Esses dados fazem parte da Estimativa da incidência e mortalidade por câncer no Brasil, elaborada pelo Instituto Nacional do Câncer (INCa) e apresentada ontem à imprensa. "O número de casos está crescendo porque a expectativa de vida também aumentou. Hoje a população vive duas décadas a mais do que nos anos 40, ficando exposta durante mais tempo a fatores de risco, como fumo, bebidas alcoólicas e hábitos dietéticos e comportamentais inadequados", compara o cirurgião oncológico Marcos Moraes, diretor-geral do INCa. "As estimativas para este ano são de 268.500 novos casos de câncer, com 94.150 mortes (51.100 de homens e 43.050 de mulheres)." Os tumores responsáveis pelas mais altas taxas de incidência e mortalidade no país são os de pulmão, estômago e próstata para os homens, e mama, estômago e colo uterino para as mulheres. Fumo - "A primeira medida para reduzir essas estatísticas é largar o fumo", adverte Moraes. "Se a população parasse de fumar hoje, em 20 anos, a incidência geral de todos os tipos de tumores cairia em 30% e a o câncer de pulmão diminuiria em 90%", exemplifica. "O que se verifica no país é que a população de baixa renda fuma cada vez mais enquanto a classe de maior poder aquisitivo está fumando menos." Para os não-fumantes que sofrem em locais esfumaçados, o diretor do INCa adianta uma boa notícia: a Organização Mundial da Saúde conseguiu aprovar uma medida que proíbe o fumo, a partir de 1º de julho, em vôos internacionais de quaisquer empresa aérea e procedência. O Rio Grande do Sul é o estado de maior incidência de câncer de pulmão e - coincidentemente - o que consome mais cigarros. A Região Sul tem o maior número de casos de câncer de mama, enquanto os estados do Norte e Nordeste apresentam mais câncer de colo uterino. "Este último é facilmente diagnosticável em fase precoce", lembra Moraes. "Se o Brasil conseguisse fazer exames preventivos (papanicolau) em 85% de sua população feminina, reduziria em 90% a mortalidade por câncer de colo de útero." Prevenção - Moraes disse que o INCa está levantando a infra-estrutura existente no país para a realização desses exames preventivos. "Não adianta lançar campanhas de prevenção se não temos condições de atender e tratar a população", destaca. "Precisamos ter segurança nos exames e fazer o acompanhamento das mulheres atendidas." Entre os fatores de risco para o câncer de colo uterino, o médico aponta uma vida sexual precoce, múltiplos parceiros, doenças sexualmente transmissíveis como o papilomavírus e más condições de higiene pessoal. O câncer de próstata também preocupa as autoridades sanitárias: esperam-se 4.350 casos para este ano. A incidência é alta sobretudo em homens idosos. "Após os 40 anos, todos os homens devem fazer um exame de toque retal uma vez por ano. Em alguns casos, pode ser feito também o diagnóstico a partir de um exame de sangue", avisa Moraes. Estômago - Números surpreendentes são os do câncer de estômago que ocupa o primeiro lugar em mortalidade para ambos os sexos. Segundo o diretor do INCa, a causa para esse tipo de tumor ainda não está bem definida. Acredita-se que haja fatores genéticos e dietéticos envolvidos. O Ministério da Saúde realizou um estudo há quatro anos que mostrava que o número de casos de câncer de estômago é inversamente proporcional ao de geladeiras. "A má conservação dos alimentos é um fator de risco. A proliferação de microorganismos em carnes que ficam fora da geladeira, por exemplo, está associada a uma maior proporção de casos da doença", explica Moraes.