Morre, aos 88 anos, Francis Crick, que junto com James Watson descobriu em 1953 a estrutura da dupla hélice do DNA. A grande questão que esses dois pesquisadores tentavam entender era: o que é a vida? Como ela era transmitida de geração para geração?
A descoberta de como o DNA era organizado dentro das células foi um marco gigantesco porque permitiu que se compreendessem dois grandes mistérios: como são armazenadas as informações genéticas e como elas são transmitidas de uma geração para outra sem perder suas características. Na década de 60, foi elucidado o código genético, isto é, como as quatro "letras", ATGC, do alfabeto do DNA - as bases nitrogenadas adenina, timina, guanina e citosina -, codificam as proteínas para o funcionamento dos organismos. Foi o início da biologia molecular.
Outra revolução ocorreu na década de 70 com a introdução da tecnologia para manipular e analisar o DNA. E em 1990 foi iniciado o Projeto Genoma Humano.' O objetivo era seqüenciar, até 2005, as três bilhões de "letras" que constituem o DNA humano e identificar os genes (as seqüências de DNA) responsáveis por nossas características hereditárias. Mas o Projeto Genoma Humano foi concluído dois anos antes do previsto.
Em 2003 festejaram-se ao mesmo tempo dois feitos que revolucionaram a genética: os 50 anos da descoberta da dupla hélice e o fim do seqüenciamento do genoma humano. Era o fim do começo. Temos ainda um longo caminho a percorrer. As perguntas que gostaríamos de responder são: Por que envelhecemos? Por que ficamos doentes? Por que morremos? Quanto da nossa personalidade e do nosso comportamento é determinado por nossos genes? Como nossos genes controlam a nossa memória? As nossas emoções? Por que reagimos diferentemente a medicamentos? O que nos distingue das outras espécies?
Mas enquanto buscamos as respostas para essas perguntas e para o tratamento das doenças humanas, a biologia molecular tem trazido avanços enormes na nossa compreensão acerca dessas patologias, no aprimoramento do diagnóstico e na prevenção de doenças genéticas a partir da identificação de casais em risco. Com esses avanços, abrem-se enormes questões éticas que têm que ser debatidas por toda a sociedade.
Tudo isso tem sido possível porque Watson e Crick desvendaram o segredo da dupla hélice do DNA. Dizem que o homem é eterno quando sua obra permanece. Francis Crick será lembrado para sempre, pois ele contribuiu para descobrir o segredo da vida.
Moyana Zats (mayanazats@usp.br) é coordenadora do centro de Estudos do Genoma Humano no Instituto de Biociências da USP.
Notícia
Jornal da USP