(Agência Fapesp) - Oswaldo Frota-Pessoa, um dos pioneiros da genética humana no Brasil, que morreu no último dia 24, aos 93 anos, em São Paulo, de causas não reveladas, deixou um legado imenso na área de genética humana.
Professor aposentado do Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP) ele estava internado no Hospital Albert Einstein.
Seu filho, Osvaldo Frota Pessoa Júnior, leciona filosofia da ciência no mesmo departamento.
Nascido no Rio de Janeiro, Frota-Pessoa era filho de José Getúlio Frota-Pessoa, educador que participou do movimento de renovação do ensino brasileiro na década de 1930. O geneticista formou-se em História Natural pela Escola de Ciências da Universidade do Distrito Federal em 1938 e, em seguida, graduou-se na Faculdade de Medicina da Universidade do Brasü (atual UFRJ) em 1941. No mesmo ano, cursou técnicas de pesquisas biológicas no Instituto Oswaldo Cruz e, posteriormente, doutorou-se em História Natural na Faculdade Nacional de Filosofia, no Rio. Antes de começar a fazer pesquisa havia sido professor do curso secundário em escolas públicas por 20 anos.
Frota-Pessoa conheceu o geneticista André Dreyfus, professor da USP, durante um curso no Rio. Dreyfus foi um dos responsáveis pela vinda ao Brasil do russo naturalizado norte-americano Theodosius Dobzhansky, que introduziu o estudo da genética das drosófilas (a mo-sca-de-fruta) aqui durante os anos 1940. Aos poucos Frota-Pessoa começou a colaborar com o grupo de São Paulo e em 1958 foi convidado por Crodowaldo Pavan para se estabelecer na USP. Pavan havia se tornado professor catedrático em 1953 na vaga de Dreyfus, que havia morrido em 1952.
A tese de doutoramento de Frota-Pessoa foi sobre as espécies brasileiras de drosófilas. Ele passou dois anos em Nova York, nos Estados Unidos, trabalhando no laboratório de Dobzhansky, na Universidade de Colúmbia, e mais dois anos em Washington, na Organização dos Estados Americanos, onde era responsável pela parte de educação da instituição.
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De volta ao Brasil e já na USP, Frota-Pessoa se interessou por genética humana ao estudar uma cidade do interior de Goiás onde havia muitas famílias com vários indivíduos sur-do-mudos. Frota-Pessoa se interessou pelos aspectos hereditários do caso e escreveu seu primeiro trabalho em genética humana. Em poucos meses, o pesquisador deixou as drosófilas e mergulhou na nova área ao lado de Newton Freire-Maia, Francisco Salzano e Pedro Henrique Saldanha, todos pioneiros da genética humana e médica no Brasil. E todos ajudaram a formar gerações de especialistas na mesma área, como Mayana Zarz, da USP, cujo orientador foi Frota-Pessoa.
Além de educador, escritor de livros didáticos e pesquisador, o geneticista foi também um dos cientistas que mais trabalharam pela divulgação da ciência desde 1938. Naquele ano publicou na revista Vamos ler, do Rio, o artigo Por que os filhos se parecem com seus pais. Até 1951 ele publicou ininterruptamente na grande imprensa, às vezes, simultaneamente em mais de um jornal. Quando veio para São Paulo, em 1958, sua produção escasseou. Era amigo e grande admirador de José Reis. Para mim, o grande campeão mesmo disso foi o José Reis. Foi o criador de um estilo apropriado para a divulgação científica, disse Frota-Pessoa em entrevista à Pesquisa FAPESP em agosto de 2005.