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Moratória da soja precisa ser estendida para o Cerrado, defende estudo (13 notícias)

Publicado em 18 de julho de 2019

Por Lívia Barbosa

Bioma corre o risco de desaparecer porque tem recebido menor atenção e é menos protegido do que a Amazônia, apontam estudiosos

Pesquisadores do Brasil, França, Áustria, Bélgica e Estados Unidos defendem que o pacto de desmatamento zero na Amazônia conhecido como a moratória da soja, seja estendido também para o Cerrado. No estudo publicado na revista Science Advances, os pesquisadores apontaram que, após a implementação de um acordo entre a sociedade civil, agroindústrias e o governo para coibir a comercialização da soja proveniente de áreas desmatadas na Amazônia brasileira, em 2006, o problema foi transferido para o Cerrado.

Se entrasse em vigor em 2021, a iniciativa permitiria evitar a perda de 3,6 milhões de hectares de vegetação nativa que correm o risco de serem convertidos para produção da soja até 2050, calcula o estudo.

Aumento da produção

“Descontando vazamentos – o aumento de perda de vegetação nativa para outras atividades agrícolas devido à expansão da cultura da soja sobre áreas já desmatadas –, estimamos que a extensão da moratória da soja para o Cerrado pouparia 2,3 milhões de hectares de vegetação nativa do bioma”, disse Aline Cristina Soterroni, pesquisadora brasileira do Instituto Internacional de Análise de Sistemas Aplicada (IIASA), na Áustria, e primeira autora do estudo, à Agência FAPESP.

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 50% da soja produzida atualmente no Brasil é proveniente do Cerrado. Quase um quarto da área de cultivo da oleaginosa no bioma está situado no Matopiba – uma região que abrange porções dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia –, onde alguns dos últimos remanescentes intactos do Cerrado estão localizados. A produção de soja nessa região aumentou 253% entre 2000 e 2014.

Uma vez que a produção brasileira do grão deve continuar a crescer nas próximas décadas para atender a demanda de países como a China, o Cerrado continuará sendo a região onde ocorrerá a maior parte dessa expansão, estimam os pesquisadores.

“O Cerrado é o lugar onde a agricultura brasileira acontece. E, apesar de ser um hotspot de biodiversidade e abranger algumas das maiores bacias hidrográficas do país, corre o risco de desaparecer porque tem recebido menor atenção e é menos protegido do que a Amazônia. Além disso, suas áreas de vegetação remanescentes têm sido convertidas em lavouras ou pastagens mais rapidamente”, disse Soterroni.

Bioma desprotegido

Diferentemente da Amazônia, onde quase metade do bioma está sob algum tipo de proteção, apenas 8% do Cerrado – que possui menos de 20% de sua vegetação nativa remanescente não antropizada – está protegido. E enquanto o Código Florestal estabelece a conservação de 80% da vegetação nativa em terras privadas na Amazônia, no Cerrado esse número cai para 20% e para 35% para a porção situada na Amazônia Legal.

Além disso, medidas regulatórias governamentais, juntamente com iniciativas da cadeia de produção, como a moratória da soja, que foram responsáveis por reduzir o desmatamento na Amazônia brasileira, não têm avançado no Cerrado, segundo Soterroni.

Impactos

Os pesquisadores também avaliaram os impactos no atraso da implementação da extensão da moratória da soja para o Cerrado. De acordo com os cálculos, o adiamento dessa decisão causa uma perda média de 140 mil hectares por ano de vegetação nativa.

“Isso equivale a uma perda anual de, aproximadamente, um Parque Nacional das Emas, que é um patrimônio mundial da humanidade. Se nenhuma ação for tomada, o Cerrado corre o risco de se transformar em uma vegetação fragmentada e empobrecida”, disse Fernando Manoel Ramos, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e um dos autores do estudo.

(Com informações de Elton Alisson para Agência FAPESP)