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Agência C&T (MCTI)

Moléculas inteligentes melhoram efeitos dos remédios (1 notícias)

Publicado em 02 de abril de 2008

Por Leonardo Zanon

Uma linha de pesquisa recente da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP estuda o desenvolvimento de medicações mais eficientes e com menores efeitos colaterais. Trata-se da nanoestruturação dos medicamentos, que é a construção de estruturas muito pequenas, capazes de melhorar a eficácia das moléculas dos compostos, fazendo-as atuar de forma "inteligente". Recebe a denominação nano devido ao tamanho das estruturas trabalhadas, medido em nanômetros (a milionésima parte de um milímetro).

A responsável pelas pesquisas nessa área é a professora Nádia Araci Bou-Chacra, a primeira pesquisadora da FCF a trabalhar com nanotecnologia. "É responsabilidade dos novos pesquisadores entender as últimas tecnologias e passá-las aos alunos", defende Nádia, cujo trabalho com colírios acabou levando-a a se envolver com a nanotecnologia.  "A nanoestruturação de colírios pode melhorar muito o tratamento de pacientes de glaucoma, cujo uso da medicação é ininterrupto".

Nádia explica que sua pesquisa é incremental, ou seja, não desenvolve novos princípios ativos. Em vez disso, busca melhorar a eficácia de moléculas já existentes, dando a elas um meio de transporte, ou "veículo inteligente". O colírio com nanotecnologia, por exemplo, é adaptado para as dificuldades encontradas em medicar o olho humano, uma estrutura bastante protegida de elementos externos, incluindo-se aí os medicamentos.

"Boa parte do colírio escorre dos olhos já na aplicação, e mesmo a parte restante possui pouca biodisponibilidade. Isso faz com que o colírio tenha de ser aplicado várias vezes ao dia", explica a professora. "No caso de doentes crônicos, cujo tratamento não pode ser interrompido, é um grande incômodo". Para resolver estes problemas, são desenvolvidas nanocápsulas, que possuem afinidade com o olho. Elas transportam o princípio ativo da fórmula e o mantém em contato com o olho do paciente por mais tempo.

"Sabe-se que a mucosa do olho possui potencial elétrico negativo, então montamos cápsulas com potencial positivo para o remédio permanecer mais tempo nessa região", explica Nádia. Além de permanecerem na mucosa, as cápsulas também liberam as moléculas do medicamento de forma gradual, possibilitando contato com o olho por maior período. "Em vez de aplicar o colírio três ou quatro vezes ao dia, a aplicação pode ser feita uma vez por semana, já que o remédio estará lá, agindo".

A professora Nádia esclarece que, dependendo da necessidade de cada tratamento, há a possibilidade de parte do princípio ativo não ser encapsulado, permitindo contato imediato com o órgão. De modo geral, a "inteligência" dada ao produto, além de propiciar melhores resultados com menos aplicações, poderá ainda reduzir a parcela de princípio ativo presente no medicamento, já que este será aplicado de forma mais eficiente. Isso diminui a possibilidade de efeitos tóxicos do remédio.

Fabricação do colírio

Em setembro de 2007, Nádia, com o apoio de empresas de uma associação da qual é membro, montou uma simulação perfeita da produção de um antiinflamatório de uso ocular. A simulação foi realizada numa feira internacional de tecnologia para tratamento do ar, e contou com a participação de todos os alunos de graduação da professora.

A fabricação do colírio é feita por um método chamado precipitação do polímero pré-formado. O polímero (poli epsilon caprolactona) é misturado à substância ativa do colírio (neste caso, o acetato de dexametasona). Para encapsular o princípio ativo é incluída acetona na mistura. A acetona é responsável por solubilizar o ativo e o polímero, possibilitando a construção das nanocápsulas. Estas ainda são revestidas com quitosana, biopolímero presente na casca de camarões e outros artrópodes.

Depois do processo pronto é necessária a retirada da acetona por meio de um método que não danifique as cápsulas. Sobre uma futura fabricação em escala industrial, a professora Nádia chama a atenção para a dificuldade desta fase: "Por isso a nanotecnologia é uma área multidisciplinar envolvendo, neste caso, além da farmácia, a química e a engenharia. Cabe ao engenheiro, depois de desenvolvido o método, torná-lo praticável em larga escala".

Outras pesquisas

Enquanto Nádia espera a definição do processo de patente do colírio, já pedida por intermédio da USP, ela está se envolvendo em uma nova área da nanotecnologia: o tratamento de câncer. "A aplicação da nanoestruturação de medicamentos quimioterápicos é uma forma de concentrar os efeitos apenas nas células doentes, diminuindo os efeitos colaterais pesados do tratamento de câncer". A linha de pesquisa em nanotecnologia já possui pelo menos outros três projetos, orientados por Nádia. A professora busca agora verbas junto à Fapesp, para a montagem de um laboratório especialmente destinado aos experimentos nanotecnológicos.

Mais informações: (0XX11) 3091-3628, com Nádia Araci Bou-Chacra