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Modelos hidrológicos da USP ajudam a prever riscos de desastres (5 notícias)

Publicado em 01 de setembro de 2024

Projetos reúnem técnicas de simulações de inundações em rios e várzeas, com sistema de alerta, e também de secas severas

Estudantes da EESC (Escola de Engenharia de São Carlos) da USP desenvolveram uma nova versão de modelos hidrológicos e hidrodinâmicos comunitários capazes de reunir as técnicas mais avançadas de simulações de inundações em rios e várzeas, mesmo em locais com pouca ou nenhuma informação coletada previamente.

Além de oferecer previsões mais detalhadas, os novos modelos facilitam a definição de políticas públicas para zoneamento em áreas de risco e sistema de alerta antecipado com maior prevenção de riscos de desastres.

Os novos modelos foram desenvolvidos pelo laboratório Water-Adaptive Design & Innovation (TheWADILab) em colaboração entre professores e alunos da EESC e da Universidade do Texas, em San Antonio, nos Estados Unidos.

Uma 1ª versão do modelo hidrológico-hidrodinâmico com transporte de massas poluidoras foi publicada em revista especializad a, e já existem aplicações, como o planejamento da drenagem futura da cidade de São Carlos, outra para rompimento de barragens e até melhorias que aceleram o tempo de processamento interno e assertividade das estimativas desses modelos, incluindo a qualidade de água

Outras aplicações desses modelos estão sendo realizadas fora do Brasil, como em bacias com forte antropização da Índia e dos Estados Unidos

“Considerando os desafios de simular eventos hidrológicos extremos em biomas sul-americanos, essa nova geração de modelos permite maior flexibilidade e versatilidade de adaptação em vários tipos de regiões, climas, relevos e usos do solo. Inclusive, houve simulações preliminares em regiões que sofreram desastres por inundações na África e no Oriente Médio. Isso permite seu uso aplicado para sistemas de alerta antecipados de inundações, mapeamento de áreas de vulnerabilidade e até previsões acopladas a modelos de mudanças climáticas, seguindo recomendações da Organização Meteorológica Mundial, especialmente para a iniciativa Alertas Antecipados para Todos, que busca soluções para grupos vulneráveis a riscos hidrometeorológicos” , diz Mário Mendiondo, professor do Departamento de Hidráulica e Saneamento da EESC e coordenador do grupo de alunos responsáveis pelo desenvolvimento dos novos modelos.

O objetivo é dar ainda mais robustez ao sistema para ser testado até o final de 2024 e a meta é que ele seja melhorado para se tornar operacional para a COP30, em 2025.

“Temos uma rede extensa de parceiros em todos os continentes, especialmente reunidos em torno do Digital Water Globe , a maior parte deles jovens pesquisadores que seguem de forma comunitária, ou seja, com código aberto para que outras comunidades de pesquisadores ou usuários possam tanto usufruir como melhorar e refinar os modelos de acordo com suas necessidades locais” , afirma o coordenador.

Apesar de os atuais modelos de previsão do tempo estarem cada vez mais populares e acessíveis, sozinhos eles não têm capacidade de informar eventuais impactos de desastres como enchentes ou inundações na superfície terrestre advindas desses modelos meteorológicos.

“Isso se dá porque os modelos hidrológicos e hidrodinâmicos, que trabalham em escala de células ou pixels de superfície, precisam ser alimentados constantemente com informações da superfície do solo para serem mais assertivos, a partir da meteorologia e estado de umidade do solo, em escala de minutos, horas ou até em um prazo que pode variar entre três e cinco dias. Essas informações são preciosas e fazem toda a diferença para saber até que altura o rio subirá e, assim, salvar vidas em perigo” , declara.

Para ilustrar a relevância dos modelos desenvolvidos na Universidade, Mendiondo lembra da tragédia das fortes chuvas ocorridas no Estado gaúcho.

“Ali, houve o envio de alertas prévios do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) sobre as iminentes chuvas intensas e com riscos de inundações, deslizamentos e enxurradas. Contudo, esses alertas meteorológicos sem modelos hidrológicos/hidráulicos de superfície não estavam integrados à Defesa Civil local, que não tinha a certeza até onde chegariam as águas de inundação para retirar pessoas a tempo em bairros que foram literalmente arrasados no Vale do Taquari-Antas.” , afirma.

“Em síntese, esses modelos hidrológicos/hidrodinâmicos não estão incorporados em nenhum sistema operacional de alertas nas mais de 40.000 áreas oficialmente mapeadas no Brasil sujeitas aos riscos de alagamentos, enxurradas e deslizamentos nos mais de mil municípios considerados prioritários e com mais de 60 milhões de pessoas morando em alta vulnerabilidade socioeconômica. Esses números ressaltam o forte apelo social para o uso de modelos hidrológicos e hidrodinâmicos mais avançados, de código aberto, comunitários, como os desenvolvidos pelos alunos da EESC” , diz o professor.

De acordo com Mendiondo, os modelos também ajudam a estimar melhor os impactos e extensão de outros riscos de desastres, como as secas severas e até a melhor utilização de reservatórios de água doce. Esses temas hoje são tópicos principais de projetos FAPESP coordenados na EESC.

Um dos pontos de destaque neste trabalho foi a prática da ciência comunitária, com a contribuição de alunos da EESC, naturais de diferentes países latino-americanos, tanto no desenvolvimento como na aplicação desses modelos. Além dos brasileiros, o projeto contou com pesquisadores da Colômbia, Costa Rica e de Honduras.

“A alta sinergia de projetos interdisciplinares, a colaboração internacional e a transformação dessa ciência mais humanitária, com maior inclusão e diversidade, foram fundamentais para chegarmos nesse ponto do projeto, com modelos feitos por uma ciência comunitária que pode salvar vidas” , diz Mendiondo.

Recentemente, o projeto foi aplicado como caso de estudo para auxiliar na prevenção de riscos de inundações na escala de país de Honduras e a partir dali o próximo passo foi a escala de toda a América Latina

“Tudo isso movido pela criatividade e motivação dos alunos da USP em dar uma atitude social às pesquisas científicas de alto nível internacional e assim ajudar na curricularização das futuras atividades de extensão” , afirma o coordenador.

Com informações da Agência USP