A mecanização da colheita da cana-de-açúcar ganha força no Estado de São Paulo com o acordo estabelecido entre produtores e o governo estadual para o fim das queimadas. Mas com a aplicação dessa medida, os agricultores se viram diante de outros problemas como a intensificação do ataque da cigarrinha-da-raiz (Mahanarva fimbriolata) que reduz a produtividade da planta. Como forma de eliminar a incidência dessa praga, o pesquisador do Instituto Biológico de Campinas José Eduardo Marcondes de Almeida desenvolveu um produto à base do fungo Metarhizium anisopliae que faz o controle biológico da cigarrinha. Além da vantagem para a natureza e no bolso do produtor, o produto se transformou em um filão de negócios.
A necessidade de aplicar o produto em uma área cada vez maior impulsionou o desenvolvimento de biofábricas para a elaboração e comercialização desse tipo de controle biológico. A quantidade de unidades produtoras ainda é insuficiente para a demanda do Estado, mas a perspectiva do pesquisador é que o número cresça com as oportunidades de negócios existentes no setor sucroalcooleiro. Almeida salienta que o produto é comercializado hoje por R$ 10,00 o quilo da mistura entre arroz e o fungo. O custo médio da aplicação do controle biológico da praga é de R$ 45,00 por hectare. Já com o inseticida químico o agricultor gasta R$ 250,00 por hectare pulverizado.
O pesquisador afirma que 250 mil hectares foram pulverizados no Estado de São Paulo na última safra, de outubro de 2007 a março de 2008, com o bioinseticida. "Há oito biofábricas particulares e outras seis instaladas dentro de usinas que elaboram o produto para controle biológico da cigarrinha-da-raiz da cana-de-açúcar", detalha. O assessor de Ação Regional do Instituto Biológico diz que o governo federal projeta uma área total de 12 a 14 milhões de hectares no Brasil com a cultura. "O Estado de São Paulo terá entre 5 e 6 milhões de hectares de cana. Esse é um mercado grande a ser explorador pelas biofábricas", afirma.
O pesquisador destaca que bioinseticida à base de fungo é utilizado no Nordeste há mais de 30 anos em cultura de cana-de-açúcar. "Naquela região o produto é usado para a cigarrinha-da-folha de cana-de-açúcar", comenta. Ele explica que as ninfas da cigarrinha-da-raiz ficam na base da planta e atacam de uma forma que provoca a perda de peso e sacarose. "O prejuízo atinge de 10 a 30 toneladas de peso por hectare. No início, quando os produtores iniciaram o processo de mecanização, a média de perdas chegava a 60%", revela.
Resultados
O fungo age diretamente na praga e a cigarrinha morre em cinco dias. Almeida explica que a aplicação do produto pode ser realizada por via aérea, mais comum nos canaviais paulistas, ou tratorizada, quando a área é menor. "O fungo gruda no tegumento da praga e germina pelas condições ambientais. A penetração acontece por ações químicas e mecânicas. O fungo coloniza o inseto e causa a sua morte. Em cinco dias, ele morre e em até oito dias a cigarrinha morta fica coberta pelo sistema reprodutivo do fungo", afirma. Ele diz que a cultura de cana é uma das que mais aceita o uso de controle biológico.
A disseminação dessa estratégia para controlar a praga ainda depende dos produtores entenderem que o processo demanda tempo. O pesquisador afirma que o controle biológico minimiza a ação da cigarrinha-da-raiz e coloca a quantidade de indivíduos em equilíbrio com a área cultivada. "Esse é um processo que acontece de forma gradativa. Com a aplicação, ano a ano há uma redução da quantidade de cigarrinhas na cultura", declara. Almeida afirma que a aplicação do produto exige cuidados como uso de equipamentos de segurança. Mas ele acrescenta que estudos mostram que o uso de fungos como controle biológico não gera riscos para humanos, animais e natureza.
Biofábrica custa cerca R$ 200 mil
Um dos entraves que ainda deve ser vencido pelos empreendedores que apostarem na produção da mistura para controle biológico da praga é o custo do registro nos órgãos oficiais. O valor varia de R$ 100 mil a R$ 150 mil. O assessor de Ação Regional José Eduardo Marcondes de Almeida calcula que para montar uma biofábrica de pequeno ou médio porte são necessários R$ 200 mil. "Esse valor se refere a prédio, equipamentos e funcionários. Com seis a oito funcionários, é possível iniciar a produção para 50 a 60 toneladas por mês", diz.
O especialista afirma que a pesquisa para se chegar ao controle biológico da cigarrinha-da-raiz com o fungo Metarhizium anisopliae durou quatro anos e contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). "A cigarrinha sempre existiu na cultura da cana-de-açúcar, mas com a mecanização houve um crescimento grande dessa praga que trouxe vários prejuízos. A pesquisa teve como objetivo reduzir essas perdas utilizando um produto que preservasse a natureza e tivesse um custo menor para os produtores. Agora, a tarefa é mostrar aos agricultores as vantagens desse método", comenta.