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Ministro britânico aposta na COP-15

Publicado em 26 novembro 2009

Por Denise Ribeiro

O Reino Unido ocupa posição de destaque no cenário internacional, do ponto de vista da sustentabilidade. É um dos países mais avançados em matéria de políticas públicas de incentivo a boas práticas energéticas e de mitigação ao aquecimento global. Por isso, revestiu-se de especial interesse a palestra dada no último dia 16, em São Paulo, por Hilary Benn, ministro de Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais do Reino Unido.

Recebido na sede da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp), entidade que mantém acordos bilaterais com a Inglaterra, o ministro elogiou a postura dos dirigentes brasileiros de definir metas a serem apresentadas na Convenção do Clima de Copenhague, em dezembro. Para ele, não há tarefa mais importante para a humanidade do que se unir em torno de um bom acordo, que ele acredita viável. "Todos os países entendem a ciência, que está muito evoluída, mas a política está atrasada em relação ao que precisa ser feito depois de todas essas descobertas relacionadas ao aquecimento global", afirmou. A conquista da opinião pública foi apontada por Benn como o maior desafio para as mudanças, "que não são indolores".

Segundo ele, podemos nos acusar uns aos outros pela responsabilidade histórica na emissão de gases de efeito estufa, mas essa não é uma solução sábia para um mundo que terá de abrigar mais duas Chinas, em número de habitantes, em menos de 50 anos. "Seremos 9 bilhões de pessoas e temos de nos unir agora. Temos de agir conjuntamente para enfrentar os efeitos das mudanças climáticas, que exigem financiamento pesado", conclamou Benn, afirmando que o primeiro-ministro britânico Gordon Brown propôs uma verba de US$ 100 bilhões por ano para a causa.

Benn acredita que o aporte financeiro "significativo" é um dever das nações ricas, por serem as que mais se beneficiaram, ao longo dos séculos, com a queima de combustíveis fósseis. Argumenta, no entanto, que, se Estados Unidos, Austrália e Canadá - os grandes emissores desenvolvidos - "parassem de emitir totalmente CO2", o perigo continuaria: "É hora de se comprometer com estratégias para a construção da economia verde", o que inclui desafios como produzir alimentos em larga escala, em equilíbrio com os recursos naturais.

De acordo com ele, é preciso reconhecer que "estamos no vermelho no banco do meio ambiente", entender que a Terra funciona de maneira integrada e dizer "os senhores estão equivocados" àqueles que ainda não perceberam o quanto a extração de matérias-primas depende de água, ar e solos limpos. "Vivemos numa sociedade acostumada a etiquetar tudo em dólares, reais, libras, sem valorizar os recursos naturais, porque sempre estiveram disponíveis", afirmou.

O ministro discorreu sobre os três tipos de capital existentes: o financeiro, que oscila com as crises, o humano, cujo estoque aumenta com o crescimento da população, e o natural, em franco declínio, com perdas de trilhões de dólares por ano. E frisou: "Não se trata de uma escolha, uma concorrência entre economia e meio ambiente, principalmente porque não haverá economia saudável sem meio ambiente saudável".

Alinhou, em seguida, os pré-requisitos para a construção da economia verde, apontando o Brasil como líder na valorização da floresta em pé. "O mundo precisa reconhecer que devemos gastar muito menos recursos naturais para tentar equilibrar nosso saldo negativo. Além disso, se pretendemos mudar a economia, precisamos de um novo conjunto de incentivos e regulações para o mercado de carbono, por exemplo, além de investir, é claro, em fontes de energia."

Benn afirmou que a excelência da pesquisa feita no Brasil, especialmente no setor de bionergia, justifica a parceria com o Reino Unido.

Participaram do evento Fábio Feldmann, representante do Fórum Paulista de Mudanças Climáticas e Biodiversidade, e o secretário municipal do Meio Ambiente, Eduardo Jorge, além dos especialistas Marcos Buckeridge, Daniel Hogan e Carlos Joly, coordenadores de programas de pesquisa da Fapesp.

(Envolverde/Instituto Ethos)