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A Tarde (BA)

Ministro apóia pesquisa com embriões (1 notícias)

Publicado em 21 de julho de 2004

cuiabá - O Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) vai defender junto aos senadores a liberação das pesquisas com células-tronco de embriões humanos, anunciou o ministro Eduardo Campos, em seu pronunciamento na 56ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Ele argumentou que estas pesquisas são fundamentais para o desenvolvimento científico do País. Há resistências localizadas contra a liberação dessas pesquisas, essenciais para o desenvolvimento da ciência brasileira - disse Campos. "O MCT vai atuar firmemente em favor da liberação, no que, tenho certeza, terá o apoio da SBPC e da Academia Brasileira de Ciências". O ministro também anunciou que até 2007 o setor de ciência e tecnologia terá investimentos de R$ 37,6 bilhões, o que representa 54% a mais do que os R$ 24,4 bilhões empregados de 2000 a 2003. Os recursos, disse ele, integram o Plano Estratégico do ministério. POSIÇÃO - Foi a primeira vez que o MCT se posicionou oficialmente sobre a polêmica das pesquisas com embriões. A SBPC e instituições de peso, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), já se mobilizaram para mostrar aos senadores a importância de eliminar restrições às pesquisas com células-tronco, voltadas à busca de tratamento para doenças como Alzheimer, Parkinson e diabetes, entre outras. O Senado está analisando a Lei de Biossegurança, que trata deste e outros assuntos, e há a possibilidade de adicionar uma emenda liberando as pesquisas com embriões humanos. O texto da lei, aprovado em fevereiro na Câmara dos Deputados, proíbe estas pesquisas. RESISTÊNCIA - A utilização de células-tronco de embriões humanos enfrenta forte resistência de grupos religiosos, como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e os evangélicos, que têm uma bancada considerável no Congresso. O texto da Lei de Biossegurança foi definido na Câmara em meio a desinformação e temores de que os cientistas quisessem clonar seres humanos. A CNBB divulgou nota recentemente argumentando que embriões humanos são seres vivos e que não podem ser manipulados por cientistas. Os pesquisadores pedem que a lei autorize o uso de embriões congelados nas clínicas de fertilização assistida, que são jogados no lixo depois de algum tempo. Também pedem o direito de produzir embriões clonados dos próprios pacientes, para que as células-tronco extraídas provoquem menor rejeição. Os cientistas usam embriões até o estágio de blastocisto, quando são um aglomerado de algumas dezenas de células in vitro. Cientista vê pressa na aprovação de lei cuiabá - O Congresso Nacional faria melhor se não misturasse questões tão complexas e diferentes como pesquisas com células-tronco e organismos geneticamente modificados, como ocorre agora no projeto da Lei de Biossegurança, no Senado. Cientistas lamentam que o debate sobre o uso de bastocistos (embriões em estágio inicial) humanos em estudos de laboratório esteja ocorrendo de forma apressada, só para que a lei saia a tempo de regulamentar o plantio de soja transgênica no País. Para a bióloga Lygia da Veiga Pereira, da Universidade de São Paulo (USP), células-tronco e transgênicos devem ser tratados em leis diferentes. "Uma coisa não tem nada a ver com outra", argumentou ela, que participou do simpósio Células-tronco, na 56ª Reunião Anual da SBPC. "Biossegurança tem a ver com organismos modificados geneticamente, que recebem um gene de outro organismo. Não é o caso das células-tronco." DEBATE ESPECÍFICO - Segundo Lygia, que pesquisa o desenvolvimento de neurônios a partir de células-tronco, cada tema tem seu próprio debate e suas próprias urgências, além de serem suficientemente complexos para serem tratados juntos numa única lei. Além disso, a pressão em torno dos transgênicos ameaça atropelar o debate sobre o uso de embriões nas pesquisas, já que a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, está preocupada com a soja. - Ela disse que a lei precisa ser votada logo, porque já está na época de plantar soja - explicou a pesquisadora da USP. "Mas essa lei não pode ser votada como está. Precisa ser mais discutida". O projeto da Lei de Biossegurança foi aprovado na Câmara dos Deputados, em fevereiro, determinando a proibição de qualquer pesquisa com embriões humanos. Houve forte pressão de grupos religiosos, que consideram os blastocistos como seres vivos. ATRASO - Lygia afirma que, se o Senado não modificar o texto, o Brasil vai ficar para trás nas pesquisas com células-tronco embrionárias. "O País vai perder a possibilidade de obter uma vantagem competitiva nessa área de pesquisas", disse Lygia. "Vamos ficar assistindo às coisas acontecerem nos outros países. Teremos de mandar pacientes para tratar no exterior ou então importar terapias desenvolvidas lá fora." Segundo Lygia, as pesquisas com células-tronco já são uma realidade e o Brasil não pode deixar de continuar trabalhando nessa área. "O País investiu durante tanto tempo nessas pesquisas e na formação de recursos humanos e agora vai ter de abandonar tudo", lamentou. SAIBA MAIS SOBRE CÉLULAS-TRONCO O que é É um tipo de célula que pode se diferenciar e constituir diferentes tecidos no organismo. Esta é uma capacidade especial, porque as demais células geralmente só podem fazer parte de um tecido específico (por exemplo: células da pele só podem constituir a pele). Outra capacidade especial das células-tronco é a auto-replicação, ou seja, elas podem gerar copias idênticas de si mesmas. Por causa destas duas capacidades, as células-tronco são pois poderiam no futuro funcionar como células substitutas em tecidos lesionados ou doentes, como nos casos de Alzheimer, Parkinson e doenças neuromusculares em geral, ou ainda no lugar de células que o organismo deixa de produzir por alguma deficiência, como no caso de diabetes. Classificação As células-tronco são classificadas como: Totipotentes ou embrionárias - São as que conseguem se diferenciar em todos os 216 tecidos (inclusive a placenta e anexos embrionários) que formam o corpo humano. Pluripotentes ou muttipolentes - São as que conseguem se diferenciar em quase todos os tecidos humanos, menos placenta e anexos embrionários. Alguns trabalhos classificam as multjpotentes como aquelas com capacidade de formar um número menor de tecidos do que as pluripotentes, enquanto outros acham que as duas definições são sinónimas. Oligopotentes Aquelas que conseguem diferenciar-se em poucos tecidos. Unipotentes que conseguem diferenciar-se em um único tecido. Funções no corpo Elas funcionam como células curingas, ou seja, teriam a função de ajudar no reparo de uma lesão. As células-tronco da medula óssea, especialmente, têm uma função importante: regenerar o sangue, porque as células sanguíneas se renovam constantemente. Onde ficam As células-tronco totipotentes e pluripotentes (ou multipotentes) só são encontradas nos embriões. As totipotentes são aquelas presentes nas primeiras fases da divisão, quando o embrião tem até 16 - 32 células (até três ou quatro dias de vida). As pluripotentes ou multipotentes surgem quando o embrião atinge a fase de Wastocisto (a partir de 32 - 64 células, aproximadamente a partir do 5º dia de vida) as células internas do Wastocisto são pluripotentes enquanto as células da membrana externa do Wastocisto destinam-se a produzir a placenta e as membranas embrionárias. As células-tronco oligopotentes ainda são objeto de pesquisas, mas podemos dizer como exemplo que são encontradas no trato intestinal. As unipotentes estão presentes no tecido cerebral adulto e na próstata, por exemplo. O que torna a célula-tronco capaz de formar um tecido ou outro? A ordem ou comando que determina, durante o desenvolvimento do embrião humano, que uma célula-tronco pluripotente se diferencie em um tecido específico, como fígado, osso, sangue etc. ainda é um mistério que está sendo objeto de inúmeras pesquisas.