Em visita à Estação Ciência, o secretário de Estado de Educação, (equivalente a ministro, no Brasil), destacou a cooperação entre os dois países e abriu portas para uma maior interação tecnológica.
Na esteira da visita do presidente americano Bill Clinton ao Brasil, o secretário de estado (equivalente a ministro) da Educação dos Estados Unidos, Richard Riley, esteve visitando, no dia 16 de outubro, a Estação Ciência da USP, um dos principais centros de divulgação científica da América Latina. "A visita de Riley à Estação Ciência mostra a importância crescente que centros e museus de ciências adquirem na sociedade", explica Ernst Hamburger, coordenador da Estação Ciência. Estiveram presentes o reitor da USP, Flávio Fava de Moraes, o pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária, Jacques Marcovitch, entre cientistas, pesquisadores, estudiosos, professores e estudantes de várias instituições.
Riley, responsável pela direção, supervisão e coordenação de todas as atividades do departamento e principal conselheiro do presidente Bill Clinton em programas e atividades relacionadas à educação em seu país, percorreu as plataformas interativas da Estação Ciência, que trata de Ciência. Tecnologia e Informática.
Participou de uma demonstração sobre transformações de energia, abordando termodinâmica. Conheceu softwares educacionais produzidos na instituição, vídeos educativos, como o Minuto Científico, co-produção com a TV Cultura. E se encantou com o Projeto Clicar, um trabalho inédito que orienta menores a ler, escrever e desenhar através da informática.
Durante palestra proferida, Riley mostrou-se convencido de que Brasil e Estados Unidos encontram na área educacional oportunidade para fazer avançar um acordo de cooperação que os governos dos dois países têm interesse de estabelecer entre si. "Nossa viagem foi muito proveitosa porque tivemos um grande entendimento com relação à educação", constata o ministro. "Os dois países têm muitos pontos em comum, como o sistema federal educacional e a população diversificada."
O ministro fez questão de salientar a importante iniciativa brasileira da Estação Ciência na área de educação a distância e ensino de ciências. Destacou, ainda, que o espaço poderá ser uma conexão entre os dois países. Segundo Hamburger, o acordo educacional e científico que os presidentes do Brasil e dos Estados Unidos estão assinando contempla também a divulgação científica.
Pontos estratégicos
As metas de cooperação são colocadas como pontos estratégicos - detalhados em memorando assinado por Riley e pelo seu colega brasileiro, Paulo Renato Souza - que antecipam uma parceria na área de educação no País. Servem de base para um acordo continental, no Encontro das Américas, em abril do ano que vem, em Santiago do Chile. Em seu discurso, o ministro discutiu a ampliação de áreas como uso de novas tecnologias em salas de aula e formação de professores.
Um dos objetivos estabelece o aproveitamento da Internet para ampliar contatos "culturais e lingüísticos" entre estudantes dos dois países, permitindo a interligação das escolas. Para tanto, foi criada uma home page especial, via Internet, como primeiro passo da Infovia que ligará o Ministério de Educação dos Estados Unidos com a Estação Ciência. A criação de uma página conjunta na Internet permite unir salas de aula, professores e estudantes usando tecnologia de computadores e de telecomunicações.
"Outro ponto do intercâmbio prevê que faremos programas conjuntos de treinamento de professores, especialmente nas áreas de idioma e ciências exatas", explica Riley. Neste sentido, Hamburger ressalta o projeto desenvolvido no Programa de Educação Continuada, promovido pela Estação Ciência em parceria com a Secretaria de Estado da Educação e Faculdade de Educação da USP, que além de atualizar, apresenta novos recursos e abre horizontes aos professores de primeiro e segundo graus em cursos especiais.
O projeto Em torno de Zumbi atraiu a atenção do ministro, que considera fundamental a difusão do conhecimento sobre a cultura e história brasileiras entre alunos americanos. São duas mostras independentes que retratam a luta e o cotidiano da população escrava no País. "Navio Negreiro", organizada pela professora Lilia Schwarcz, mostra, através de recursos fotográficos e audiovisuais, os horrores do regime escravagista. "Batuque no Quilombo", com curadoria de Glória Moura, investiga e apresenta a face dos quilombos contemporâneos. Duas maquetes, 78 painéis, dois vídeos, além de recortes em madeira, que mostram alguns aspectos da escravidão, ficam dispostos numa grande área reservada para rememorar o tricentenário da morte de Zumbi. Durante a visita, foram apresentadas por professores do Departamento de Antropologia da USP e já percorreram várias cidades de São Paulo, do Interior e também de outros estados.
Outro programa que despertou interesse foi o Projeto Clicar. Desenvolvido no espaço da Plataforma Informática, está estimulando, há mais de um ano e meio, o conhecimento e a aprendizagem de meninos e meninas de rua. Só no primeiro semestre, atendeu 1.036 crianças e adolescentes. O ministro conversou com as crianças e acompanhou o trabalho inédito desenvolvido pelas educadoras Dirce Pranzetti e Maria Cecília Tolosa, responsáveis pelo programa, que conta com a participação do arte-educador Sílvio Ferreira. "O Clicar atrai a garotada com atividades que despertam o conhecimento e está inspirando outros grupos a fazer trabalhos semelhantes", explica Hamburger.
Riley organiza, em seu país, um projeto de educação que auxilia famílias carentes no custeio do colégio dos filhos, oferecendo a oportunidade de aprendizado a americanos de todas as idades. Vem desenvolvendo diversas atividades e programas de ensino para a população em geral. Entre suas prioridades atuais destacam-se o teste nacional voluntário de leitura e matemática para todos os estudantes do nível básico e do superior e o Concurso Americano de Leitura (American Reads Challenge) em que participa cerca de um milhão de professores para ajudar crianças a ler corretamente até o término da terceira série.
Centros integrados
A Estação Ciência vem recebendo, ao longo do ano, delegações científicas de vários países. Em abril, ao participar da reunião de museus e institutos de ciência da Rede de Popularização da Ciência e Tecnologia da América Latina e Caribe, na cidade de La Plata, Argentina, ganhou o prêmio internacional da Unesco.
"Nos EUA, como na França, há extensa rede de centros de ciências de ótima qualidade. No Brasil, essa atividade está em crescimento", salienta Hamburger. "Apesar do menor volume de produção, há bons materiais e boas idéias sendo geradas também aqui, de modo que deverá haver aproveitamento recíproco."
O coordenador acredita que a importância de centros de ciências para o progresso científico e tecnológico do País está sendo cada vez mais reconhecida. Esses centros, existentes há muitos anos nos países mais desenvolvidos, têm crescido também na América Latina. Cerca de 50 representantes dos principais institutos estão organizando o projeto Red-Pop/BID, ampliando, integrando e criando novos museus. "O objetivo é estabelecer um programa nacional de popularização das ciências, para que os recursos existentes sejam utilizados com maior eficácia", conta. "O que se sente é que existe uma verdadeira fome pelo conhecimento. Dada a oportunidade, o povo, seja universitário, seja morador de rua, quer compreender melhor o mundo. Há necessidade de dezenas de Estações Ciência em uma metrópole como São Paulo e de centenas de instituições no Brasil."
Notícia
Jornal da USP