O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, criticou o governo Bolsonaro e apontou que o Ministério da Saúde “falhou na sua função básica” de organizar o Plano Nacional de Vacinação. A declaração foi dada durante entrevista ao programa Roda Viva, na TV Cultura, na segunda-feira (13).
Ao responder o questionamento dos jornalistas sobre o instituto ser procurado por governadores e prefeitos para a compra da CoronaVac, vacina produzida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac, ele afirmou que o planejamento principal é pela incorporação do imunizante ao Plano Nacional de Imunização, do Ministério da Saúde e destacou que “a suplementação da vacina para os Estados e municípios deve ocorrer, se não acontecer essa incorporação”. “O organismo central, que é o Ministério da Saúde, ele falhou na sua função básica de organizar essa vacinação”, salientou.
Dimas Covas defendeu a ação dos Estados de propor planos estaduais, como fez o governo de São Paulo, em decorrência da demora do Ministério da Saúde em organizar a vacinação. “A discussão que foi provocada pelo lançamento do plano estadual foi muito oportuna e movimentou os agentes políticos e agora estão procurando uma solução. Acredito que essa solução deva vir com a incorporação de todas as vacinas disponíveis ao programa nacional, esse é o caminho”, explicou o diretor do Butantan.
“Como um país que está muito próximo de ter uma vacina não leva isso em consideração?”, questionou Dimas Covas sobre a necessidade de se organizar o Plano Nacional de Imunização.
ATRASO
Margareth Dalcolmo, pneumologista da Fiocruz, também na entrevista, disse que o Brasil está atrasado há pelo menos seis meses com plano de logística para a vacina brasileira.
“Deixamos de tomar providências do ponto de vista logístico, que já poderiam ter sido iniciadas. Considerando a grande experiência do Programa Nacional de Imunização Brasileiro, se sabíamos que as vacinas começariam no período recorde de 8 meses, há 6 meses nós já deveríamos estar pensando, deveríamos estar nos preocupando. É quase um problema doméstico: você se previne estocando agulhas, seringas, e mais uma rede de frios absolutamente pronta para receber qualquer vacina”, disse a pesquisadora da FioCruz.
Covas lembrou que há um memorando de intenção assinado com o Ministério desde setembro, e que não houve uma decisão formal por parte da pasta de desfazer esse entendimento. “Não houve contramedida”, disse. O comentário se deu pois o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) publicamente desautorizou o ministro Eduardo Pazuello a adquirir o imunizante do Butantan.
O diretor do Instituto Butantan ainda criticou a campanha bolsonarista que quer rotular a CoronaVac como a “vacina chinesa”. Para Dimas, o rótulo foi colocado no imunizante contra a Covid-19 com objetivo “político e ideológico”.
“Primeiro, que não se trata de uma vacina chinesa, é brasileira, do Instituto Butantan. É uma vacina que será incorporada ao portfólio do Butantan. E, em nenhum momento, essa vacina será como outras, absolutamente 100% chinesa”, rebateu Dimas Covas.
“A vacina de Astrazeneca é produzida na China, a matéria-prima é produzida em Wuhan, a matéria-prima que usamos é produzida em Beijing [Pequim, capital da China]. As duas fábricas, tanto da Sinovac como a que foi contratada pela Astrazeneca, foram inspecionadas recentemente pela nossa Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Esse é o ponto principal: o rótulo que foi colocado é absolutamente com a finalidade política e ideológica”, acrescentou, fazendo referência à vacina desenvolvida na parceria entre a Astrazeneca, a Universidade de Oxford e, no Brasil, a Fundação Fiocruz.
Em seguida, Margareth Dalcomo, que também criticou o rótulo recebido pela CoronaVac, do Butantan, disse se tratar de um “preconceito até ingênuo”.
“As pessoas têm que entender para acabar com esse preconceito que é até ingênuo, né? Da vacina chinesa, ou algo assim. A China é o maior produtor de insumos em biotecnologia do mundo. Se formos levar na ponta da faca, é tudo chinês. A fábrica que produz o insumo para Astrazeneca fica na China e foi visitado agora. As pessoas têm que saber disso, que tudo que recebemos, até matéria-prima, para fazermos remédio.”
Durante a entrevista, Dimas Covas foi questionado sobre a redução de verba para pesquisa, como consta no orçamento de São Paulo enviado à Alesp, que prevê corte de R$ 454 milhões da Fapesp em 2021. “O governo já sinalizou que não haverá cortes”, disse o diretor do Instituto, se referindo a declaração que o governador João Doria (PSDB) já havia dado mais cedo durante coletiva de imprensa.