A tecnologia foi implantada na região paulista do Médio Paranapanema em rede de experimentos e áreas demonstrativas. O projeto é uma parceria entre o IAC, as cooperativas Coopermota e Cooperativa Agropecuária de Pedrinhas Paulistas (CAP), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). É uma técnica direcionada para milho safrinha, o que a difere da integração lavoura pecuária. Ela consiste na semeadura simultânea do milho com braquiária na mesma operação e pode aumentar a produtividade da soja cultivada em sucessão à cultura do milho safrinha em até 20%, além de servir de forragem para os animais na entressafra e contribuir para melhorar a qualidade do solo.
Em vez de o agricultor anular uma linha do meio na semeadura da soja, ele mantém todas as linhas da semeadura e alterna uma linha de milho com uma linha de semente de braquiária. Nessa linha da braquiária, ele troca o disco de milho por disco de sorgo, além de retirar o adubo. Ou seja, ele vai adubar apenas a linha do milho e não a do capim — afirma Aíldson Duarte, pesquisador do IAC. A máquina semeadora adubadora distribui simultaneamente as sementes de braquiária e milho safrinha com 45 cm de espaçamento entre si. Além disso, a implantação do consórcio possui baixo custo.
Em média, o investimento em sementes de capim-braquiária varia entre R$40 a R$50 por hectare. Segundo ele, quando o produtor trabalha com espaçamento reduzido, não é possível o uso da linha intercalar. Nesse caso, o consórcio pode ser feito com a terceira caixa na semeadora, ou seja, uma caixa para adubo, uma para semente de milho e a terceira para a semente da braquiária, distribuindo-a na mesma linha do milho.
Alguns agricultores utilizam a distribuição a lanço da semente da braquiária seguida do plantio do milho. Essa é uma tecnologia utilizada em grandes áreas onde o rendimento operacional é muito importante. Mas uma séria limitação dessa técnica é a emergência desuniforme da braquiária em reboleiras. Nesse caso, os benefícios do consórcio serão menos efetivos do que em uma distribuição uniforme, pois o desempenho da semeadora adubadora passa a não ser tão eficiente — explica. No consórcio, é importante a escolha correta da semente de braquiária, como diz o entrevistado. O produtor deve utilizar sementes puras, com valor cultural mínimo de 70%. Já o híbrido de milho safrinha não deve ser muito baixo, pois pode aumentar a necessidade da supressão química da braquiária.
Os agricultores que vêm utilizando o sistema têm percebido de maneira clara o aumento de produtividade da soja. Os benefícios são sentidos quando eles interrompem a monocultura do sistema soja x milho safrinha. Isso porque esse consórcio é utilizado em parte da propriedade e rotacionado depois, ou seja, ele não pode ser repetido na mesma área. A repetição pode trazer problemas — orienta.
Cuidados de manejo Toda planta que permanece em uma mesma área pode provocar desequilíbrio no sistema biológico do local. Portanto, como explica Durate, a permanência da braquiária em uma mesma área pode selecionar plantas daninhas e pragas, inclusive nematoides. Além disso, o pesquisador diz que durante o ciclo de vida da plantação, é preciso estar atento à necessidade de supressão, que deve ser feita até o estágio B6 ou B8. Caso contrário, a aplicação de herbicidas passa a ser ineficiente devido ao efeito guarda-chuva das próprias plantas do milho. — Hoje, a maior parte das cultivares utilizadas pelos produtores são transgênicas. Com isso, eles não aplicam inseticida para o controle da lagarta do cartucho no milho. Porém, o capim não é transgênico, podendo sofrer ataque de pragas. Por isso, é necessária a constante observação da área. Se notada a presença de lagartas comendo as plântulas de capim, é preciso fazer a aplicação de inseticidas — diz.
Preocupação com a competição Essa é uma constante pergunta dos agricultores. O produtor está há anos limpando sua área das plantas daninhas e agora se propõe um sistema no qual ele deve plantar capim no meio da lavoura. Uma das grandes preocupações do agricultor é se a braquiária produzirá sementes sujando sua área. Outra preocupação é se a braquiária competirá com o milho, prejudicando a produtividade.
— A braquiária mais utilizada no consórcio é a ruziziensis, que não produz sementes se dessecada até o mês de outubro. Já na questão da competição, geralmente em condições de milho safrinha, ela não é suficiente para diminuir a produtividade, exceto em situações quando o porte da planta de milho é menor, quando a semeadura do milho é antecipada e quando as condições ambientais (chuva e temperatura elevada) são favoráveis ao seu desenvolvimento. Por isso, é necessário o constante acompanhamento das plantas e, quando preciso, a utilização de herbicidas em subdoses — afirma Duarte.
Fonte: Dia de Campo